terça-feira, 31 de janeiro de 2017

A Política Brasileira ainda é a mesma !!!!

Ednei Freitas

O prefeito do Rio de Janeiro faz propaganda da obra e, pouco tempo depois de inaugurada, ela desaba. Foi assim em 1921, quando Carlos Sampaio divulgava a construção da gruta da Imprensa, abaixo de onde hoje fica a Avenida Niemeyer, na capital fluminense. Peritos da polícia viram no desabamento “causa natural”, por conta das características do terreno (além de ser uma encosta, é um local com frequência atingido por ondas). Um detalhe: a gruta fica no local exato –exato mesmo– onde desabou a ciclovia, em abril deste ano.

Lima Barreto e a Política

Em essência, Lima Barreto sempre tratou mais de política do que qualquer outro tema. Ninguém como ele, em seu tempo, escreveu tanto sobre o tema e, por extensão, sobre questões sociais. Sua ‘literatura militante’, assim por ele definida, determina o caráter marginal de sua obra: sua visão crítica da sociedade o fez enveredar concreta e irreversivelmente no caminho da luta social; nos jornais e revistas investiu contra todos os signos do poder, nos textos ficcionais denunciou as profundas injustiças da sociedade brasileira.

Toda a obra barretiana desenvolve-se a partir e em torno de um tema nuclear: o poder e seus efeitos discricionários — o poder visto e descrito por ele como “o variado conjunto de elementos, vetores e procedimentos encadeados no interior da sociedade, compondo grandes e pequenas cadeias, visíveis e invisíveis, tendentes a restringir e constringir o pensamento dos homens, coibindo-lhes as possibilidades de afirmação, pessoal, cultural, profissional, social, e a justa inserção social”. Tinha a visão verticalizada, analisando desde as estruturas políticas como o governo e as ideologias, e as instituições culturais como a imprensa e a ciência, até os modelos determinantes do comportamento coletivo e do relacionamento cotidiano. Lima Barreto era, acima de tudo, um anti-patrimonialista. Crítico implacável da pretensa modernidade que se queria implementar com a República, avesso a todas as formas de assimilação de valores estrangeiros (no bojo ,p. ex. de sua resistência ao futebol, ao cinema e à cultura importada ), defensor ,por vezes intransigente, de uma brasilidade que sustentava devia permear a “autêntica língua nacional”, foi no entanto opositor ativo do nacionalismo ufanista surgido no final do séc. XIX e início do XX[1],a começar por questionar as imagens errôneas que o Brasil fazia de si mesmo, levando ad absurdum os clichês e mitos nacionalistas e os desmascarando um a um.(no romance Triste fim de Policarpo Quaresma parodia implicitamente o opúsculo patrioteiro de Afonso Celso, filho de seu protetor, intitulado Por que me ufano do meu país (1901), livro muito popular no começo do século XX, que deu origem ao termo ufanismo e foi traduzido para diversas línguas na época, inclusive o alemão. Lima Barreto inclusive alertava para o que denominava “um dos mitos mais perigosos,o do patriotismo : no fundo, os patriotas grandiloqüentes de plantão não passam de traidores da pátria, pois a usam para a sua própria autopromoção e enriquecimento (...), a sociedade de classes e o Estado a instrumentalizarem o patriotismo e o nacionalismo em favor do interesse das elites.”.. Na contrapartida, procurou esboçar um patriotismo social, com consciência histórica e respeito pela cidadania, ancorado na cultura própria, resistente ao cosmopolitismo e de reconhecimento da mestiçagem – étnica,social e cultural --no Brasil.

Para ele, a nova sociedade ,caracterizada pelo binômio cosmopolitismo, inspirador das ações da elite do país , e bovarismo[2], “atitude mistificatória de o homem se conceber outro que não é, entre o que é e o que acredita ser”, era um sistema que premiava o egoísmo, o banal, a decadência dos costumes, o preconceito, lastreada nos valores máximos da elite – a fruição do conforto material, os privilégios, a superioridade, gerando discriminação e sectarismo. “A nossa República se transformou no domínio de um feroz sindicato de argentários cúpidos, com os quais só se pode lutar com armas na mão. Deles saem todas as autoridades, deles são os grandes jornais, deles saem as graças e os privilégios; e sobre a Nação eles teceram uma rede de malhas estreitas, por onde não passa senão aquilo que lhes convém” [3]

Exemplares insofismáveis da veemente oposição de Lima Barreto à República, da ferrenha crítica aos governos republicanos ,notoriamente o ‘florianismo’ (referente a Floriano Peixoto) e o ‘hermismo’ ( a Hermes da Fonseca)[4] -- já objetos de críticas exacerbadas em inúmeros artigos e crônicas e também na novela Numa e a ninfa e no memorialístico Diário íntimo -- expressão do intransigente e obstinado repúdio para as coisas da política, aos políticos, aos conchavos partidários,às oligarquias , os “contos argelinos” têm em seu cerne paródico a ascensão dos militares, com sua crescente participação na política, e o militarismo — importando notar que, em outro viès de leitura e interpretação, trazem em si a emblematização ficcional do patrimonialismo, contra o qual Lima Barreto se colocava na própria essência de sua ideologia.

A criação, confecção e publicação dos “contos argelinos” deu-se em período histórico conturbado, durante os sucessivos governos de Hermes da Fonseca, Venceslau Brás e Epitácio Pessoa, em sete dos mais cruciais anos de plena sedimentação do regime republicano — de resto um processo de altíssima ebulição política, convulsionante e transformadora.

Por essa época , apenas Lima Barreto (Euclides da Cunha morrera em 1909) mantinha , entre os escritores, uma postura participativa – de natureza crítica -- nas coisas da política , uma vez que os demais literatos se afastaram do envolvimento e da militância a que se entregaram ainda durante as campanhas abolicionista e republicana, nas últimas décadas do século XIX e início do século XX : frustrados a expectativa e o entusiasmo iniciais despertados pela República , os intelectuais desistiram da participação política ativa, militante, que muitos tiveram no advento do novo regime e passaram a se concentrar na literatura e em parte no jornalismo ‘croniquesco’, dedicando-se a produzir uma literatura de linguagem empolada, o ‘clássico’ calcado em expressões cediças e de figuras de efeito, cheia de arabescos estilísticos — uma literatura impregnada de vocábulos garimpados do virtuosismo lingüístico e verborrágico,expressão da frivolidade dominante. Uma literatura como “o sorriso da sociedade” de que falava Afrânio Peixoto e contra a qual Lima Barreto lutava com denodo.

A República, os intelectuais , o jornalismo e a literatura militante de Lima Barreto


Embora não tenha produzido correntes ideológicas próprias ou novas concepções estéticas, a geração de intelectuais solidamente arraigada nas teorias cientificistas de 1870 e no espírito progressista da época parecia estar com a República, apoiada pela maçonaria, pelo positivismo e pelas correntes que se julgavam “desassombradas de preconceitos”: as idéias circulavam então mais livremente, num ambiente que Evaristo de Moraes [Da Monarquia para a República ; s.ed., Rio de Janeiro, 1936 ] qualificou de “porre ideológico”, um verdadeiro mosaico no qual era predominante o liberalismo - manifestando-se especialmente entre os republicanos ‘históricos’ como Benjamin Constant, José do Patrocínio, Silva Jardim, Lopes Trovão, Alberto Sales, Joaquim Serra – mas que abrigava alguma voga de anarquismo em Elisio de Carvalho (até escrever o Five o’clock), Curvelo de Mendonça,Fabio Luz, Afonso Schmidt, simpatias explícitas ao socialismo em Martins Fontes, Olavo Bilac, e até anti-racismo declarado em Alberto Torres e Manuel Bonfim.

Sob os princípios genéricos do liberalismo, o grupo intelectual definira a tarefa que lhes cabia: contribuir e propugnar por uma ampla, profunda ação conjunta para construir a nação —no campo da produção intelectual intensificaram estudos da realidade brasileira (as obras de Euclides da Cunha, Alberto Torres, Manuel Bonfim,Oliveira Vianna são documentos exemplares) e se empenharam no ‘criar um saber próprio sobre o Brasil’( enfatizava José Veríssimo em “Um estudioso pernambucano”, artigo na revista Kosmos,n.1,Rio de Janeiro,1907) — e remodelar e fortalecer o Estado (o que obviamente punha em confrontação a ambigüidade de sua ideologia baseada no liberalismo....).

Já no dia 15 de novembro de 1889 os intelectuais registraram sua total adesão : numeroso grupo de republicanos,junto com gente da rua, tendo à frente José do Patrocínio,Aníbal Falcão, João Clapp,Campos da Paz, Olavo Bilac, Luis Murat e Pardal Mallet -- estes três pela primeira vez movidos à ação política concreta-- dirigiu-se à sede da Câmara, aos gritos de viva à República, e redigiram moção de apoio aos chefes da insurreição militar. O entusiasmo adesista dos intelectuais era generalizado,a ponto de emitirem outro manifesto, dirigido ao Governo Provisório instalado a 16 de novembro, assinado por alguns homens de letras em 22 de novembro.

No clamor pela ampliação da atuação do Estado sobre a sociedade aliavam-se a homens públicos, políticos, jornalistas, até mesmo cafeicultores e industriais,e a esse grupo juntar-se-ia os grupos militares defensores e sequiosos de maior participação na política— o que mais tarde não causaria surpresas quando do progressivo e acentuado fortalecimento dos governos republicanos a partir de Floriano Peixoto. As reformas que preconizavam, no entanto, perderam-se no processo político republicano. Na consolidação do novo regime ,que se deu por meio de um processo caótico e dramático, malograram-se seus esforços cientificistas,reformadores, inovadores na criação daquele ‘saber sobre o Brasil’. Cedo, muito cedo, já nos primeiros anos do século XX desiludiam-se : “Está tudo mudado: Abolição, República... Como isso mudou ! Então, de uns tempos para cá parece que essa gente está doida”, vaticina Isaias Caminha , sob a pena de Lima Barreto. José Veríssimo, no artigo“Vida literária” (revista Kosmos, n. 7,1904), descreve: “Todos se presumiam e diziam republicanos,na crença ingênua de que a República, para eles palavra mágica que bastava à solução de problemas de cuja dificuldade e complexidade não desconfiavam sequer, não fosse na prática perfeitamente compatível com todos os males da organização social, cuja injustiça os revoltava”. Ainda em outubro de 1890, antes do primeiro aniversário do15 de novembro, desencantava-se Silva Jardim, lamentando em carta a Rangel Pestana: “Comunico-lhe que parto para a Europa, a demorar-me o tempo preciso a que esta País atravesse o período revolucionário de ditadura tirânica e de anarquia...” . “Esta não é a República de meus sonhos”. lamentou-se Lopes Trovão, um dos próceres do movimento republicano. “Foi para isso então que fizeram a República ?”, protestou Farias Brito.

No campo político,os intelectuais até que mantiveram-se passivos diante da “ditadura tirânica” e aceitaram as coligações de Deodoro da Fonseca com as forças mais conservadoras do Brasil agrário, mas as esperanças esfacelaram-se diante da índole e prática repressoras do governo Floriano Peixoto , quando e alguns dos antigos entusiastas da República tiveram de fugir do Rio de Janeiro para evitar a prisão, como Olavo Bilac e Guimarães Passos.

Passado o momento inicial de esperança, desfeito o caminho almejado da democratização do País prometida em comícios, conferências públicas ,na imprensa radical, consolidada a vitória da ideologia reforçadora do poder oligárquico, derrotados ,desapontaram-se as elites, desapontaram-se os trabalhadores e o povo, desapontaram-se os intelectuais , que desistiram da política militante e se concentraram na literatura,aceitando postos ,mesmo decorativos, na burocracia especialmente no Itamaraty de Rio Branco, que atraíra em torno de si -- eficiente Rui Barbosa nesse trabalho de ‘cooptação’ -- o grupo de intelectuais, representantes da intelligentsia do novo regime , constituindo o que à época se auto-denominaram “República dos Conselheiros”.

Difícil de manter uma convivência pacífica entre a República política e a ‘Republica das letras’, agravado pela crescente insatisfação popular com o novo regime, exposta em agitações de rua,episódios violentos, revoltas e movimentos de protesto – e mais ainda com os novos costumes e práticas de desenfreada especulação financeira, a busca de enriquecimento a qualquer custo,o advento de um capitalismo predatório levando ao Encilhamento, a escandalizar Taunay que via “uma degradação da alma nacional”[ Visconde de Taunay, O Encilhamento ] e decepcionar republicanos ardorosos como Raul Pompéia ( “A república discute-se consubstanciada no Banco da República” ).A par do afastamento repressor promovido pelo poder, viram-se compelidos a submeter sua produção literária ao “valor do mercado” — (...) neste século de danação social, em que o Dinheiro logrou a tiara de pontífice ubíquo, para reinar discricionariamente sobre todas as coisas..”, registrava Augusto dos Anjos em palestra pública.

Mas paradoxalmente foi o processo de arrivismo bursátil e de especulação mercantil -- gerando incremento de vultosos recursos , provocando a modernização da cidade, urdindo o que se denominou Regeneração, construindo a imagem de “uma sociedade ilustre e elevada” -- que propiciou aos intelectuais malogrados uma espécie de atavio : passaram a ser vistos pela sociedade como ‘símbolos de ilustração’, ‘expoentes da cultura’, propiciando, entre outros aspectos, o desenvolvimento do ‘novo jornalismo’, ao qual os literatos se entregaram de corpo e alma . A adesão maciça dos escritores ao jornalismo, exercendo inevitavelmente efeitos negativos sobre a criação artística—falou-se em “vazio de idéias”—obrigou-os a uma redefinição de suas posições intelectuais e uma clivagem em seu universo social. Deflagrava-se com todas as letras e tintas a belle époque cultural, com o conseqüente processo de banalização e neutralização da força cultural da literatura, o intelectual descaracterizado e ‘dissolvido’ em meio a sociedade, as facilidades da nova vida social tendentes a extinguir o engajamento dos intelectuais que haviam feito a República. O novo espírito “agitado e trêfego” que tomou conta da cidade produziu “o recolhimento dos autores em estéticas e poéticas evasivas”, no entender de José Veríssimo, os intelectuais irreversivelmente assimilados pela nova sociedade construída pela República abrindo espaços para a mercantilização e banalização da própria literatura – vista agora como “o sorriso da sociedade” de que falava Afrânio Peixoto ... [“A literatura é o sorriso da sociedade. Quando ela é feliz, a sociedade, o espírito se lhe compraz nas artes e, na arte literária, com ficção e com poesias, as mais graciosas expressões da imaginação(...)”,in. Panorama da literatura brasileira ; Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1940].

Entrou-se de cheio no espírito mundano da belle époque, atingindo seu auge na primeira década do século, cuja literatura típica ,porém, era estéril em termos nacionais, ainda que seu modelo cosmopolita europeu se coadunasse com a própria fachada da época: era uma literatura articulada com o modo de vida das elites urbanas europeizadas,fomentador do consumo, do excesso,da sensualidade,do aristocratismo; de extrema superficialidade e caráter preciosístico , uma coligação de alta sociedade e alta cultura.(nesse aspecto,Lima Barreto tinha a chave para entender e interpretar o Rio de 1900 : o bovarismo , que apontava para as fantasias centrais que compunham o significado dessa época).

O certo é que a decepção com a República e o ‘espírito’ inerente ao novo século, “o século da modernização e do progresso”, trouxeram novas formas e modos de o escritor se relacionar com a literatura, sob um processo algo ‘compulsório’ de aburguesamento e ‘mundanismo’, acarretando, por uma razão ou outra , a necessidade de adesão quase maciça dos literatos ao jornalismo — que se constituiu no fenômeno cultural mais marcante dos primeiros tempos do século XX. O significativo desenvolvimento dos meios técnicos da imprensa, iniciado na verdade em meados do século XIX, permitiu o crescimento e melhoria qualitativa dos jornais e o nascimento de muitas revistas ilustradas , ambos incluindo matérias literárias.

Por essa época, tanto os jornais como as revistas buscaram mais intensa e concretamente atingir a classe média urbana que então ia se formando e consolidando com o advento da República. Jornais e revistas, além do compromisso de informar e divertir, estavam engajadas num movimento de ‘democratização’ cultural: periódicos como Gazeta de Notícias, Diário do Rio de Janeiro,O Paiz, Diário Mercantil ,Correio da Manhã, Jornal do Commercio,Jornal do Brasil, Rio-Jornal, A.B.C. e as revistas O Malho , Revista da Semana, Kosmos, A Renascença , FonFon! ,Revista Contemporânea (essas duas caracterizadas como “simbolistas”), Careta , Ilustração Brasileira, A Cigarra, Revista do Brasil, Dom Quixote, Paratodos, O Cruzeiro, incluíam muita matéria cultural, como reportagens sobre exposições de artes plásticas, crítica literária, música, contos, crônicas, poesia, teatro e cinema . Quase todas as revistas não conseguiram sobreviver por muito tempo e ter vida longa — exceção apenas a FonFon! e a Careta, que chegaram, não ininterruptamente, até à década de 1950.A maioria dos jornais e revistas (tanto do Rio de Janeiro quanto de São Paulo) acolhia , e pagava , colaboração literária , o que propiciou a escritores e literatos terem publicados seus trabalhos e ter uma fonte de recursos — para muitos, a única — e um chamado “second métier” condigno . Vale registrar que a imprensa propiciou a mudança para a metrópole de muitos intelectuais que não logravam realizar-se literariamente em suas cidades e regiões de origem.

A rigor, quer no âmbito do jornalismo quer mormente da literatura, os escritores, sob pena de caírem em ostracismo cultural e profissional e financeiro tiveram de em maior ou menor grau se submeter à preferência ou gosto dos leitores da época : a necessidade de se expressaram no mesmo diapasão da cidade contagiada pelos anseios de modernização e marcada pela ânsia do enriquecimento rápido fizeram-no adotar estilo, linguagem , forma e conteúdo mais superficiais e mesmo descartáveis, “adequados ao gosto do consumidor pequeno-burguês formado pela República”.

No lado oposto, além da ferrenha oposição à escrita aristocrática predominante , destoando e substancialmente contrário aos estilos vigentes, estava Lima Barreto – por essa época já respeitado como articulista e cronista e reconhecido como excepcional escritor mercê dos elogiados romances publicados Recordações do escrivão Isaias Caminha(1909) e Triste fim de Policarpo Quaresma (1915)—que rejeitava terminantemente fazer de tanto de seu trabalho jornalístico como de sua obra literária, fosse ficcional ou não-ficcional, “instrumento de propaganda do sonho republicano de falso progresso e falsa civilização”. Sustentavaele que fazia “uma literatura militante, de obras que se ocupam com o debate das questões da época (...), por oposição às letras que, limitando-se às preocupações da forma, dos casos sentimentais e amorosos e da idealização da natureza” [Impressões de leitura ; ed. Mérito ,Rio de Janeiro, 1953].

Lima Barreto impôs — com sua escrita simples, direta e objetiva , que feria o convencionalismo literário da época, impregnado de falsas concepções estéticas, floreios , etc — os prenúncios do Modernismo logo depois rompante na cultura brasileira[curioso notar que Lima Barreto morreu no mesmo ano de 1922, em que eclodiu o movimento], cujos primeiros elementos e formas apareceram justamente pela linguagem típica da escrita barretiana. Não à toa despertou interesse e respeito por parte de Mario de Andrade, do alto de sua ‘autoridade’ de contista e teórico da construção ficcional, e levou p. ex. Sergio Milliet a escrever “(...) Lembro-me da grande admiração que tinha por Lima Barreto o grupo paulista de 22. Alguns entre nós, como Alcântara Machado, andavam obcecados .O que mais nos espantava então era o estilo direto, a precisão descritiva da frase, a atitude antiliterária, a limpeza de sua prosa, objetivos que os modernistas também visavam. Mas admirávamos por outro lado sua irreverência fria, a quase crueldade científica com que analisava uma personagem, a ironia mordaz, a agudeza que revelava na marcação dos caracteres”[artigo “Noticiário’, in O Estado de São Paulo, São Paulo, 11.11.1948] : nas páginas da então incipiente revista Klaxon (1921), os modernistas paulistas se propunham também a ‘descoelhonetizar’[ref. a Coelho Neto,então epígono da escrita rebuscada e cheia de floreios retóricos] a literatura brasileira, rompendo com os cânones acadêmicos., objetivos bastante semelhantes da revista Floreal, que Lima criara em 1907 e só durou quatro números.

Assim, na contrapartida ao aristocratismo da escrita de então , aos nefelibatas da linguagem, tinha-se em Lima Barreto um registro da língua ‘brasileira’ do início do século XX e um ritmo genuinamente nacional que prenunciava a linguagem modernista. Segundo o historiador e ensaísta Nicolau Sevcenko [Literatura como missão:tensões sociais e criação cultural na Primeira República;(ed. Brasiliense, São Paulo, 1983], “chama muito à atenção quando se lê a obra do Lima Barreto, a atualidade dessa obra não só em termos de linguagem — uma linguagem bastante acessível, bastante próxima até da oralidade — pela qual foi muito criticado pelos seus pares e intelectuais da época. Mas não só por essa linguagem mas também pelos temas de que ele trata e pelo modo como os trata Pode-se ir além porque muitos problemas de Brasil que ele pensa naquela época, que ele critica, e que ele, enfim, desenvolve como reflexão, permanecem absolutamente atuais” .

Contrariamente à maioria de seus contemporâneos, praticantes da escrita floreada e vazia, aristocrática e fútil, verdadeiros instrumentos literários do “sorriso da sociedade” apregoado por Afrânio Peixoto, Lima Barreto conferia à sua obra ficcional o sentido militante de uma “missão social, de contribuir para a felicidade de um povo ,de uma nação, da humanidade” Em sua concepção, a literatura tinha de ser “militante”, com objetivo concreto e definido, como sentencia em entrevista a A Época,18.02.1916 : “(...)não desejamos mais uma literatura contemplativa, cheia de ênfase e arrebiques ,falsa e sem finalidade, o que raramente ela foi; não é mais uma literatura plástica que queremos, a encontrar beleza em deuses para sempre mortos, manequins atualmente, pois a alma que os animava já se evolou com a morte dos que os adoravam; digamos não a uma literatura puramente contemplativa, estilizante sem cogitações outras que não as da arte poética, consagrada no círculo dos grandes burgueses embotados pelo dinheiro, de amplo emprego por pretensos intelectuais,bacharéis e políticos” (...) “a obra de arte tem por fim dizer o que os simples fatos não dizem. Este é meu escopo. Vim para a literatura com todo o desinteresse e toda coragem. As letras são o fim da minha vida. Eu não peço delas senão aquilo que elas me podem dar: glória!”

Dono de obra ficcional e não-ficcional com vigoroso fulcro ideológico , Lima Barreto buscava na politização da literatura um sentido sobretudo ético.Na única conferência literária que faria, mas não o fez — “O destino da Literatura” [publicada na Revista Souza Cruz,Rio de Janeiro, 1921 , em cujo número também apareceu trecho do romance O cemitério dos vivos ], em Rio Preto, São Paulo, em fevereiro de 1921 — foi explícito :“A Beleza não está na forma, no encanto plástico, na proporção e harmonia das partes, como querem os helenizantes de última hora . A importância da obra literária que se quer bela sem desprezar os atributos externos de perfeição de forma, de estilo, deve residir na exteriorização de um certo e determinado pensamento de interesse humano(...) E o destino da literatura é tornar sensível, assimilável, vulgar esse grande ideal de fraternidade e de justiça entre os homens para que ela cumpra ainda uma vez sua missão quase divina. Mais do que qualquer outra atividade espiritual da nossa espécie, a Arte, especialmente a Literatura, a que me dediquei e com quem me casei; mais do que ela, nenhum outro qualquer meio de comunicação entre os homens, em virtude mesmo do seu poder de contágio, teve, tem e terá um grande destino em nossa triste humanidade.”

Marginalizado por suas origens e condição social, execrado por ser ‘passadista e contrário à modernização’, Lima Barreto enfrentou as marcas de seu tempo e da sociedade brasileira que lhe foi contemporânea . Seu projeto era um projeto para uma vida inteira de militância literária contra o preconceito, mas também “contra os falsos intelectuais, contra um academismo espelhado no modelo europeu, contra uma literatura só de deleite, como ornamento”. Para ele, a literatura era uma verdadeira missão. A pretensa beleza estilística, os atributos externos formais de perfeição, de forma, de estilo, de vocabulário, não poderiam prescindir da “exteriorização de um certo e determinado pensamento de interesse humano, que fale do problema angustioso do nosso destino em face do Infinito e do Mistério que nos cerca, e aluda às questões de nossa conduta na vida” [Bagatelas ; Empresa de Romances Populares, Rio de Janeiro,1923].

Esse ideal, entendia ser impossível cumprir sob a égide acadêmica , como expõe taxativamente naquela entrevista à A Época, em fevereiro de 1916 : “Vim para a literatura com todo o interesse e com toda coragem... Não quero ser deputado, não quero ser senador, não quero ser mais nada senão literato. Não peço às letras conquistas fáceis, não lhes peço glórias, peço-lhes coisa sólida e duradoura... Eu abandonei tudo por elas; e a minha esperança é que elas vão me dar muita coisa...”

Tanto nos romances e contos como nas crônicas e artigos, Lima Barreto exerceu sempre uma crítica à cultura da modernidade contra a opressão social e a hipocrisia política — tal como se revelaram na implementação da República . A opção por uma literatura militante determinou o caráter marginal (e ‘revolucionário’, para muitos estudiosos) de sua obra : sua visão crítica da sociedade, da política e da cultura, renderam-lhe frutos amargos — desprezo do público, penúria econômica, alcoolismo e doença, internação em manicômio — mas nada o fez submeter-se aos ditames da moda e dos valores culturais da República. A “esperança” mencionada por Lima Barreto na entrevista de 1916 alimentava-se na verdade da recusa impassível em transigir com o que demandava popularidade — o aburguesamento do escritor, por via da adesão aos temas da moda, que fortaleciam os interesses políticos, econômicos, sociais e culturais da República. Nada porém o fez submeter-se a esses valores.

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[1] vivia-se uma época – regida pelo refrão "amor febril pelo Brasil”,presente em muitos hinos,durante a Campanha Nacionalista dos anos da I Guerra Mundial, quando intelectuais como Olavo Bilac,autor da letra do “Hino à Bandeira”, liderou a campanha pelo serviço militar obrigatório -- impregnada do pensamento positivista, em que patriotismo e nacionalismo se integravam,com o elevado tom de xenofobia que costuma acompanhá-los e exarcebados por um sentimento anti-português como reação dos tempos republicanos a tudo que vinha do Império. Exacerbação patrioteira transposta num ‘nacionalismo ornamental’ que inflamou,p. ex., Elísio de Carvalho no livro Esplendor e decadência da sociedade brasileira(1910), expondo uma visão aristocrática, nativista e desenvolvendo um nacionalismo triunfalista, que via na grandeza do país o fruto dos esforços das elites arianas e fidalgas ; essência temática que inspiraria também Oliveira Viana em 1920, com Populações meridionais do Brasil, inclusive fomentando um nacionalismo autoritário e conservador, caldo de cultura do militarismo , que iria predominar nas décadas de 1920 e 1930 – embora em contraponto os anos de 1920 trouxessem , no movimento modernista eclodido na Semana de Arte Moderna, idéias,conceitos e atitudes mais fecundas e construtivas no campo da literatura, das artes e do pensamento [Candido,2004,pp.215-17).

[2] bovarismo, conceito cunhado pelo filósofo francês Jules de Gaultier em sua obra Le Bovarysme, em 1892, advindo de Gustave Flaubert e sua Madame Bovary, seja em relação à figura do artista ‘sonhador irresponsável’ seja a um comportamento artificial simbolizando um falseamento da vida,um desejo irreal de fuga – o abismo que se abre entre as duas escalas, a da realidade e a do imaginário, conferindo-lhe uma dimensão ao mesmo tempo trágica e irônica ; o termo é especialmente empregado também com o sentido da alienação intelectual que precede a construção de uma identidade cultural própria. Lima Barreto -- para quem o bovarismo era uma atitude mistificatória típica da nova elite, extremamente prejudicial para o país, “o poder partilhado no homem de se conceber outro que não é, o afastamento entre o indivíduo real e o imaginário,entre o que é e o que acredita ser” -- aplicou esse conceito tanto literariamente – no romance Triste fim de Policarpo Quaresma e nos contos “A biblioteca”, “Lívia” e “Na janela” aparece como a própria essência dos textos – quanto socialmente : segundo ele, a República estava toda imersa em atitudes bovaristas e ,pior, os próprios intelectuais, teoricamente dotados de maior capacidade e lucidez críticas, mergulharam desde o início numa militância ufanista,destemperada, de otimismo ingênuo ; e esse ufanismo bovarista era uma forma terrível de se alienarem dos graves problemas do país.

[3] “Sobre a carestia”, in O Debate, 15.09.1917.

[4] em dezembro de 1909,Lima Barreto editara com Antônio Noronha Santos (o maior de seus amigos) um panfleto contra a candidatura Hermes da Fonseca à presidência da República, intitulado “O Papão – semanário dos bastidores da política,das artes e... das candidaturas”.


.[excerto de Lima Barreto e a política: os "contos argelinos" e outros textos recuperados,2010]

Postado por mauro rosso 

O homem que sabia português: Lima Barreto e algumas interpretações possíveis Luís Carlos Lopes

O caminho cartesiano, quase obrigatório, para escrever este texto seria o de começar pelo nascimento de Afonso Henriques de Lima Barreto. A partir daí, falar de sua vida, suas obras e por fim de sua morte. Preferiu-se imitar outro glorioso escritor afro-brasileiro - Machado de Assis - e começar pelo desaparecimento físico do autor, inspirando-se em As Memórias Póstumas de Brás-Cubas. É verdade que as relações entre os dois escritores não foram significativas. Pertenceram a gerações diferentes. A idéia de que o mais jovem teria sucedido o outro carece de fundamentação, escondendo, talvez, modos preconceituosos de se compreender a evolução da literatura brasileira.

Um painel do Pré - Modernismo

O PRÉ-MODERNISMO



Pré-Modernismo Localização: Não constitui uma escola literária, mas um período de transição para o Modernismo.

 O PRÉ-MODERNISMO- O que se convencionou chamar de Pré-Modernismo no Brasil, não constitui uma “escola literária”, ou seja, não temos um grupo de autores afinados em torno de um mesmo ideário, seguindo determinadas características. Na realidade, Pré-Modernismo é um termo genérico que designa uma vasta produção literária que abrangeria os primeiros 20 anos do século passado. Porém, podemos pensar em alguns pontos em comum:

O PRÉ-MODERNISMO- A denúncia da realidade brasileira, negando o Brasil literário herdado do Romantismo e do Parnasianismo; o Brasil não-oficial do sertão nordestino, dos caboclos interioranos, dos subúrbios, é o grande tema do Pré-Modernismo.

O PRÉ-MODERNISMO-  O regionalismo, montando-se um vasto painel brasileiro: o Norte e o Nordeste com Euclides da Cunha; o vale do Paraíba e o interior paulista com Monteiro Lobato; o Espírito Santo com Graça Aranha; o subúrbio carioca com Lima Barreto.

 O PRÉ-MODERNISMO- Os tipo humanos marginalizados: o sertanejo nordestino, o caipira, os funcionários públicos, os mulatos.

O PRÉ-MODERNISMO- Uma ligação com fatos políticos, econômicos e sociais contemporâneos, diminuindo a distância entre a realidade e a ficção. São exemplos: Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto (retrata o governo de Floriano e a Revolta da Armada), Os sertões, de Euclides da Cunha (faz um relato da Guerra de Canudos), Cidades mortas, de Monteiro Lobato (mostra a passagem do café do vale do Paraíba paulista) e Canaã, de Graça Aranha (faz um documentário sobre a imigração alemã no Espírito Santo)

Pré-Modernismo -Uma Radiografia Crítica do Brasil .No geral, o Pré-Modernismo é uma literatura de Crítica Social. Desmistifica o romantismo e seu Nacionalismo Ufanista. Mostra o Brasil real, com seus Conflitos Político-Sociais .Portanto, um Nacionalismo Crítico-Amargo. “Precisamos descobrir o Brasil! Escondido atrás das florestas, Com a água dos rios no meio, O Brasil está dormindo, coitado!” Carlos Drummond de Andrade

 Pré-Modernismo- Que Brasil é este? É o Brasil desigual. Urbano Rural civilizado politizado refinado Anacrônico Brutalizado Fanatizado Tema de Euclides da Cunha

Pré-Modernismo- O Brasil Caipira anacrônico inerme analfabeto obtuso Tema de Monteiro Lobato Urupês ( Jeca Tatu) Cidades Mortas

Pré-Modernismo - O Brasil da Marginalização Urbana. O negro O funcionário público. Os alcoólatras, Lima Barreto Subúrbio

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA - Substituição da “República da espada” (governos Marechal Deodoro e do Marechal Floriano) pela “República do café-com- leite”;  Auge da economia cafeeira no Sudeste; Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto foram os presidentes . Entrada de grandes levas militares do período inicial da de imigrantes (notadamente História Republicana do Brasil, os italianos) no país; denominado “República da  Esplendor da Amazônia, Espada”, com o ciclo da borracha

 Surto da urbanização de São Paulo;

 Revolta de Canudos, na Bahia; Tempo do cangaço no sertão, com a figura lendária de LAMPIÃO;

Conflitos no Ceará, que tiveram como figura central o padre Cícero;

 Em 1934, morria em Juazeiro do Norte um "messias", também perseguido pela Igreja Católica, porém, ao contrário de Antônio Conselheiro, o Padre Cícero Romão Batista era um aliado dos coronéis do Vale do Cariri, que a partir de 1912 lutaram contra a política de intervenções do governo federal e derrubaram o governador Franco Rabelo.

Revolta da Chibata ,liderada por João Cândido, o “Almirante Negro”;

As classes trabalhadoras, lideradas por anarquistas, iniciavam movimentos grevistas em São Paulo. Manifestação operária em SP ocorrida em 1917

 Cinco dias após a aprovação da lei, é criada a Liga Contra a Vacinação Obrigatória. O medo de morrer por causa da vacina não é o único motivo que inflama o povo. Os agentes de saúde teimam em inocular as mulheres na perna, o que é considerado um atentado sério ao pudor. O decreto que regulamenta a vacinação obrigatória vaza para a imprensa e é publicado num jornal em 9 de novembro. No dia seguinte, 10 de novembro de 1904, a tensão finalmente explode.

 MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS O ESTILO ART NOUVEAU (ARTENOVA), EMPREGADO POR MUITOS ESTUDIOSOS, É UMA REAÇÃO À IMITAÇÃO DO ESTILO GÓTICO E DO RENASCENTISTA

ALBERTO NEPOMUCENO INTRODUZ OS MODERNOS COMPOSITORES ERUDITOS EUROPEUS NO BRASIL

 A MÚSICA POPULAR (MAXIXE, MODINHA E TOADA) COMEÇA A SER OUVIDA NOS SALÕES ELEGANTESCO mais importante centro de divulgação da música popular carioca da virada do século era o teatro de revista, ou revista de ano, palco canalizador das novas composições populares e de lançamento das músicas carnavalescas – só perdendo este status com o advento do disco e do rádio.

 O CARNAVAL COMEÇA A SE FIRMAR COMO A PRINCIPAL FESTA POPULAR DO RIO DE JANEIRO

 “Ó ABRE ALAS QUE EU QUERO PASSAR Ó ABRE ALAS QUE EU QUERO PASSAR EU SOU DA LIRA  NÃO POSSO NEGAR Ó ABRE ALAS QUE EU QUERO PASSAR Ó ABRE ALAS QUE EU QUERO PASSAR ROSA DE OURO É QUEM VAI  GANHAR” Chiquinha Gonzaga - 1991

·  CARACTERÍSTICAS DO PRÉ-MODERNISMO-   RUPTURA COM O PASSADO DENÚNCIA DA REALIDADE BRASILEIRA- REGIONALISMO -TIPOS HUMANOS MARGINALIZADOS- LIGAÇÃO COM FATOS POLÍTICOS, ECONÔMICOS E SOCIAIS CONTEMPORÂNEOS

 PRINCIPAIS OBRAS EREPRESENTANTES- OS SERTÕES, de Euclides da Cunha (relato sobre a Guerra de Canudos) Linguagem cientificista, Teorias deterministas (o homem é fruto do meio em que vive), Obra dividida em três partes : A terra, O homem, A luta

 Igreja do Bom Jesus ou Nova, arrasada pela artilharia expedicionária. Como trincheira, cairá somente dias antes do término da guerra.

 O Conselheiro exumado após 13 dias do sepultamento.

· CIDADES MORTAS e URUPÊS, DE MONTEIRO LOBATO- PASSAGEM DO CAFÉ PELO VALE DO PARAÍBA PAULISTA.LINGUAGEM PRÓXIMA DA COLOQUIAL, PRESENÇA DO CAIPIRA PAULISTA (JECA TATU)

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, DE LIMA BARRETO- RETRATO DO GOVERNO DE FLORIANO PEIXOTO E DA REVOLTA DA ARMADA-  LINGUAGEM PRÓXIMA DA LÍNGUA FALADA DA ÉPOCA-  PERSONAGENS MARGINALIZADOS, IGNORANTES E OPRIMIDOS

  EU, de AUGUSTO DOS ANJOS- Linguagem cientificista- naturalista, Emprego de palavras não-poéticas, Pessimismo e angústia em face dos problemas e distúrbios pessoais





FONTESn PEREIRA & PELACHIN, Helena Bonito e Marcia Maisa. Português Na trama do texto. Ensino Médio. Ed. FTDn TERRA, ERNANI. Português para o Ensino Médio. Vol. Único. Ed. Scipionen www. Google.com.br

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Resenhando - À sombra do poder - Os bastidores da queda

Acostumado com o ofício jornalístico, Rodrigo de Almeida, ex-secretário de Imprensa da presidente Dilma Rousseff, lança na próxima semana um livro no qual, da posição privilegiada de quem despachava diariamente com ela nos últimos oito meses de mandato, propõe-se a preencher lacunas dos capítulos finais da queda da petista. Muitos detalhes de conversas e encontros reservados, que deixaram de ser revelados enquanto o governo sucumbia, agora o são em “À sombra do poder”, da editora LeYa.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Crônicas do Dia - Sobre as esperas - Gabriel Chalita

io - Esperar é um verbo que, necessariamente, é conjugado por todas as pessoas. Por toda a vida. A espera pode ser agradável como pode ser penosa. A espera de um amor que vem ao longe, acenando, trazido por uma maré boa.

Crônicas do Dia - E se ela ouvir "Fora, Carmen"? - Ruth de Aquino

Nem bem assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal, com todas as mesuras devidas a uma vida ilibada, a mineira Cármen Lúcia está no olho do furacão político que sacudiu o Brasil. O furacão destelhou o STF e espalhou estilhaços, ferindo de morte a esperança popular num Judiciário isento, equilibrado e imune a pressões de réus. Também decepcionou quem acreditava na força de Cármen Lúcia.

Crônicas do Dia - Poesia perplexa - Fred Coelho

Ao perder poetas como Ferreira Gullar, perdemos um pouco de ar

Crônica do Dia - A crise que discrimina - Lisandro Lovisolo

O tratamento diferenciado de setores do funcionalismo público estadual pelo governo do estado é absurdo e requer uma resposta. Enquanto alguns servidores ativos e inativos do Estado do Rio de Janeiro não haviam recebido os salários de novembro, outros receberam integralmente seus vencimentos de novembro, dezembro e o décimo terceiro.

Crônicas do Dia - Vamos errar com ódio ou com amor? - Zélia Duncan

Tentar corresponder às expectativas faz você virar uma frustração com duas pernas

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Resenhando - Lima Barreto e o Rio de Janeiro em fragmentos


Em livro, ela reflete sobre relação do escritor com a cidade a partir de crônicas e diários


RIO - “O Rio de Janeiro das crônicas de Lima Barreto é a cidade dos contrastes, das revoltas, das ruínas sob o vento do progresso”, escreve a crítica literária Beatriz Resende, “mas é também a expressão de uma paixão tão forte que a outras, mais humanas, não deixa espaço”. Essa relação ambígua do escritor carioca com sua cidade natal é o pano de fundo do livro “Lima Barreto e o Rio de Janeiro em fragmentos” (Ed. Autêntica), no qual Beatriz analisa as crônicas e os diários íntimos do autor. O livro será lançado hoje, às 19h, na Travessa do Leblon, em debate com o crítico Renato Cordeiro Gomes.

Por muito tempo, as crônicas e os diários ficaram em segundo plano em relação a seus romances, como “Recordações do escrivão Isaías Caminha” (1909) e “Triste fim de Policarpo Quaresma” (1911). Mas foi neles que Beatriz buscou os registros fragmentados do amor de Lima pelo Rio, como nos comentários sobre alguns de seus lugares preferidos, do subúrbio de Todos os Santos à Rua do Ouvidor e à praia do Leme. Nelas encontrou também a denúncia vigorosa dos preconceitos e segregações da Belle Époque carioca. Em uma crônica sobre o governo de Carlos Sampaio, que entre 1920 e 1922 promoveu intervenções como a demolição do Morro do Castelo e a construção da Avenida Beira-Mar, Lima escreve: “Vê-se bem que a principal preocupação do atual governador do Rio de Janeiro é dividi-lo em duas cidades: uma será a europeia e a outra, indígena”.

‘Ele não era um marginal, mas estava à margem da sociedade. Isso dava a ele uma grande liberdade. Nas crônicas, ele fala o tempo todo da discriminação ostensiva contra negros e mulatos, mas também dos operários e das mulheres’



Crítica literária
— O olhar de Lima Barreto sobre o Rio é sempre político. Ele já falava da “cidade partida”, registrando as diferenças entre subúrbio, Centro e Botafogo. Foi o primeiro cronista da linha férrea, gostava de perambular e atravessava a cidade, gastando sapato. Por isso, as grandes reformas da época aparecem em seus romances e crônicas não só pelo lado urbanístico, mas pelo impacto no cotidiano da cidade — diz Beatriz, professora da UFRJ.

Versão ampliada da tese de doutorado da autora, esgotada há anos, o livro se beneficia da atenção despertada pelos lados cronista e memorialista de Lima Barreto nos últimos tempos. Em 2004, foram lançados os dois volumes de “Toda crônica” (2004), compilação dos artigos de imprensa do escritor organizada pela própria Beatriz e por Rachel Valença. Em 2010, foi publicada uma edição conjunta de “Diário do hospício”, com as anotações de Lima sobre seu período de internação no hospício da Praia Vermelha entre 1919 e 1920, e “Cemitério dos vivos”, romance inacabado do autor sobre essa experiência.

Para Beatriz, Lima Barreto retoma a tradição da crônica em tom coloquial, fundada por Machado de Assis. Preterido pela elite literária de seu tempo, ele se sente injustiçado, por um lado, mas também “completamente livre e feliz, podendo falar sem rebuços sobre tudo que julgar contra os interesses do país”, escreve. Assim, usa as crônicas para expressar seu olhar sobre os excluídos da sociedade brasileira da época, como os negros, as mulheres e os anarquistas: “O governo só protege aos que não precisam: aos pequenos, aos fracos, aos oprimidos, ele oprime mais”:



— Ele não era um marginal, mas estava à margem da sociedade, da grande imprensa e das grandes editoras. Isso dava a ele uma grande liberdade. Nas crônicas, ele fala o tempo todo da discriminação ostensiva contra negros e mulatos, mas também dos operários e das mulheres.

NO HOSPÍCIO, A SALVAÇÃO PELA ESCRITA

Esse olhar sobre os excluídos ganha contornos radicais quando Lima é internado no Hospício Nacional de Alienados, no Natal de 1919, depois de uma crise de alcoolismo. Nos três meses que passa na instituição, encontra bêbados, doentes, maltrapilhos e outros marginalizados pela cidade que se quer moderna e renovada. Reage por meio da escrita: ainda internado, chega a anunciar em entrevista que está coletando histórias “interessantíssimas” para um livro que narraria “as cenas mais jocosas e as mais dolorosas que se passam dentro dessas paredes inexpugnáveis”. O romance planejado, “Cemitério dos vivos”, jamais foi concluído, mas a experiência ficou registrada em “Diário do hospício”.

— Lendo o diário, fica evidente a habilidade de cronista de Lima Barreto. Depois de uns dias no hospício, quando passa a bebedeira, ele começa a narrar a situação, a fazer um trabalho de campo sobre a estrutura do hospício, seus dirigentes, médicos e pacientes. É a salvação pela escrita — diz Beatriz.



Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/livros/critica-beatriz-resende-analisa-olhar-de-lima-barreto-sobre-rio-19363172#ixzz4VUCcQP5p 

O Rio de Lima Barreto

Lima Barreto: dupla homenagem no Rio de Janeiro

Um pouco de Lima Barreto e o Rio de Janeiro

TEXTOS DE CYRO DE MATTOS E LIMA BARRETO

O mulato Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1881. Viera ao mundo numa data aziaga para os espíritos supersticiosos, uma sexta-feira, dia de Nossa Senhora dos Mártires. E o que se chama destino trama contra ele cedo, a começar pela perda da mãe, seis anos depois de ter nascido. Parte do espírito rebelde e a cor de mulato têm raízes na figura do pai, João Henriques, um simples tipógrafo, filho de uma antiga escrava com um madeireiro português. O pai não lhe reconhece a paternidade.

Artigo de Opinião - Volta, Querida Democracia! - Guilherme Simões

Os golpistas dissimulam, mas só há duas possibilidades para a redemocratização: ou Dilma volta, ou se convocam eleições diretas não só para presidente, mas também para o Congresso Nacional

11/01/2017 
O DIA

Artigo de Opinião - Não leve a vaca para o brejo - Nelson Vasconcelos

Como amplamente divulgado, estamos quase certos de que 2016 morrerá amanhã

29/12/2016 
O DIA

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Artigo de Opinião - O monopólio do terrorismo - Cândido Mendes

Deparamos há pouco o massacre de Berlim, seguido da abordagem e morte de seu responsável, em uma operação de rotina dos carabinieri em uma estação de trem próxima a Milão

Artigo de Opinião - As Farc do Brasil - Carlos Andreazza

Não se matou ali por mais espaço e por melhores condições humanitárias, mas por controle da penitenciária, estivesse cheia ou vazia

Artigo de Opinião - Bom senso atropelado

POR SERGIO BANDEIRA DE MELLO 




Veiculada em tempos de massacres atrozes e barbáries circulantes na rede, a campanha publicitária promovida pelo Ministério dos Transportes — “Gente boa também mata” — não poderia ter escolhido momento mais inoportuno para ser colocada no ar e nas ruas.

Foi concebida para chocar; culpa e dolo duelam no ambiente em que está inserida a propaganda. Mas quem haveria de se chocar com as mortes fictícias diante das decapitações e esquartejamentos reais, de causar arrepios e náuseas aos piores carrascos do Estado Islâmico?

A alma do negócio perdeu-se em meio a um negócio sem alma, em meio às discussões sobre um estranho universo dominado por desalmados que assinam na tela dos celulares seus macabros testemunhais, sem medo das consequências fora do sistema que comandam, obedecem, disputam ou orbitam.

Voltando ao mundo palatável dos graves acidentes de percurso que a iniciativa governamental destaca, trata-se, indubitavelmente, de um sucesso culposo de público e doloso de crítica, pois teve o seu conceito popularizado por via transversa, na contramão do que buscou a ideia criativa.

De forma oblíqua, por meio dos mais diversos memes, a campanha logrou atingir o objetivo, ao levar o conteúdo à população, ainda que com personagens e mensagens trocadas. Pela primeira vez, a turma do #ForaTemer incluiu o atual ocupante do Planalto na condição de legítimo chefe do Executivo, mesmo em protesto contra medidas tomadas por sua base, ainda que o chamando de presidente golpista.

Já nas desastrosas peças exibidas, o material atropelou o bom senso. Buscou retratar situações de filantropia e trabalho voluntário para realçar faltas passíveis nas pessoas em geral. Preparada para desperdiçar dinheiro público, matou a pau, ao dizer o óbvio e provocar a ira dos compulsórios contribuintes. E isso como se a realidade não nos brindasse todos os dias com tragédias gratuitas.



“O melhor aluno da sala pode matar” é, a meu ver, o título mais infeliz de toda a campanha. Sim, porque desde a infância fomos acostumados aos gênios do mal, que bolavam as mortes mais mirabolantes e cruéis para eliminar Batman e Robin. E 007 que o diga. Também pelo cinema, efeito colateral de Hollywood, aprendemos que Hannibal Lecter, o famoso canibal, deve ter sido o melhor da turma antes de enveredar pelo vício da gastronomia humana.

“Quem resgata animais na rua pode matar”, passamos a saber depois das dezenas de milhões gastos na perdulária empreitada. Mas quem emprega mal o dinheiro público mata muito mais.

Sergio Bandeira de Mello é engenheiro e foi gerente de comunicação da Petrobras



Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/bom-senso-atropelado-20751273#ixzz4VNLixPOy

Crônicas do Dia - Turbilhão de paixões

Nelson Motta, O Globo

‘Muito mais tarde, quando envelhecia, compreendi que o amor exige uma espécie de cegueira. Amamos não quem os nossos olhos enxergam, mas quem nosso coração demanda. O ser amado é, quase sempre, uma invenção indulgente de quem ama.’

Crônicas do Dia - São Paulo, meu amor - Artur Xexéo

Como todo mundo, eu também estou apaixonado pela autobiografia de Rita Lee

Como todo mundo, eu também me apaixonei pela Rita Lee quando ela e mais dois rapazes — quem eram eles mesmo? — ajudaram Gilberto Gil a defender “Domingo no parque” num festival da Record. Que festival era esse? O de 1967? Não me lembro mais. Só me lembro de Rita Lee. Como era bonita! Como era moderna! Como era jovem! A paixão durou para sempre. Aqueles dois rapazes que formavam um grupo com ela desapareceram, ela liderou uma banda de rock, fez carreira sozinha, formou uma dupla irresistível com o marido Roberto de Carvalho.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Artigo de Opinião - A REFORMA TRABALHISTA DO GOVERNO LEVARÁ O BRASIL DE VOLTA AO PASSADO

Por Marcio Pochmann

A proposta de reforma trabalhista apresentada pelo governo de Michel Temer no fim do ano passado não tem o novo como objetivo. Ao contrário, fundamenta-se no arcaico para tratar com a nova onda de desafios, associada à modernização das relações de trabalho no Brasil.

domingo, 1 de janeiro de 2017

Crônicas do Dia - 'Retrocessiva' 2016 - Arnaldo Bloch

Segundo muitas pessoas, o apocalipse no ano que entra é uma hipótese plausível que estaria, digamos, em 30%

Crônicas do Dia - Inventando esperanças - Nelson Motta

Nelson Motta, O Globo

De 1998 a 2010 votei em Fernando Gabeira e Alfredo Sirkis como meus representantes na Câmara dos Deputados. Na última eleição, em Miro Teixeira. E eles não me decepcionaram no comportamento pessoal e na atuação política, nas vitórias e nas derrotas representaram fielmente o que nos identificava nas eleições.

Crônicas do Dia - Vencendo preconceito e se tornando prefeito

Todo preconceito, seja de raça, classe social ou credo religioso, é um atraso evolutivo em pleno século 21

Crônicas do Dia - Esperança - Gabriel Chalita

Rio - Esperança era seu nome. O segundo. O primeiro era Maria. Maria Esperança. E, depois, o nome de família.