Acostumado com o ofício jornalístico, Rodrigo de Almeida, ex-secretário de Imprensa da presidente Dilma Rousseff, lança na próxima semana um livro no qual, da posição privilegiada de quem despachava diariamente com ela nos últimos oito meses de mandato, propõe-se a preencher lacunas dos capítulos finais da queda da petista. Muitos detalhes de conversas e encontros reservados, que deixaram de ser revelados enquanto o governo sucumbia, agora o são em “À sombra do poder”, da editora LeYa.
Bom exemplo é o relato de que no dia em que Dilma deixou o Planalto, afastada pelo Senado, Lula não quis subir ao andar presidencial e descer com a presidente ao Salão Leste, onde ela deu a última declaração à imprensa. Em vez disso, Lula assistiu à pupila pela TV, de dentro de uma sala pequena, no subsolo, perto da garagem. É a partir desse dia dramático para os petistas que Rodrigo inicia sua narrativa.
O jeito irascível com que Dilma lidava com a equipe aparece em várias passagens do livro, embora Almeida tenha tido o cuidado de preservar a ex-chefe. Dilma não fica mal na fita. Pelo contrário. Embora não se negue a fotografar a personalidade peculiar da mandatária, reconhecendo o quanto ela era “pouco empenhada na arte de agradar”, diz que, quando mais recrudescia a crise, mais forte e lúcida ela se mostrava.
Histórias do apogeu e do declínio do então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fustigado pelo PT, ganham novos elementos, como a informação de que partiam de Aloizio Mercadante (então na Casa Civil) e Nelson Barbosa (Planejamento) os vazamentos maldosos contra Levy a jornalistas.
O fracasso da administração à frente da área econômica do governo foi crucial para a derrocada de Dilma. No livro, Almeida conta que Lula instigava internamente no PT as críticas ao ministro. Dilma parecia endossar a necessidade de ajuste fiscal pregada por Levy, mas dava mais espaço a Barbosa. No fim, o ministro da Fazenda se sentiu isolado e não resistiu à pressão para sair.
Outro ponto abordado foi o afastamento paulatino de Lula, que não encontrava eco nas sugestões que fazia à sua sucessora. “Lula estava cada vez mais irritado com Levy, e também com Dilma. Não disfarçava sua insatisfação com o que considerava falta de rumo do governo. (…) Sempre que se sentia ignorado por ela, fazia um discurso elevando o tom crítico”. No livro, Almeida confirma que o ex-presidente iria, sim, mandar e desmandar no governo quando assumisse a Casa Civil.
Finalmente, Almeida conta o porquê da resistência de Dilma em chamar Henrique Meirelles para o governo. Segundo ele, Dilma nunca perdoou o atual ministro por ter se prontificado junto a Lula a ser candidato à Presidência, quando ela foi acometida por um câncer.
Jornal O Globo
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