sexta-feira, 17 de julho de 2020

Crônicas do Dia - Você sente saudades de quê? - Raphael Montes

Dia desses, eu caminhava pela Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, e entrava por uma porta, à esquerda. Diante de mim, prateleiras enormes de livros, pessoas folheando exemplares nas gôndolas principais. No ambiente, um burburinho de café no 2º piso. Comecei eu mesmo a folhear alguns lançamentos, conferindo a quarta capa e as orelhas para saber mais da história ou abrindo numa página aleatória para ler um trecho. Fiz isso por alguns minutos. Então, acordei. E logo me estapeou a realidade: estamos em junho e faz meses que não visito uma livraria.
Mesmo que eu esteja em casa, com minha biblioteca, nada substitui o prazer de visitar uma livraria e descobrir obras nas estantes, como um desbravador. Comecei minha vida de leitor — e, claro, de escritor — nos clubes do livro do sebo Baratos da Ribeiro, que ficava em Copacabana e agora está em Botafogo, a poucos quarteirões da loja com que acabei sonhando, a Travessa de Botafogo.
Outras tantas livrarias fazem parte da minha vida: a Saraiva do Shopping Riosul, onde lancei meu primeiro livro; as demais Travessas e Saraivas, a Blooks de Botafogo, a Argumento do Leblon e a Da Vinci no Centro. Aliás, nestes tempos difíceis, cabe a nós incentivar as livrarias locais, pequenas, que precisam de leitores apaixonados para atravessar a tempestade. A maioria delas tem feito entregas on-line, com anúncios e promoções nas redes sociais. Não deixe de buscar a sua favorita e realizar uma compra, livros são boas companhias na quarentena.
Existe uma “banalização do fim”. A população não despertou para a gravidade do que estamos vivendoSem dúvida, outra saudade enorme é ir ao cinema. A última sessão em que estive foi em meados de março, no cine Roxy, o meu favorito, que agora tem sua existência ameaçada. O mesmo acontece com as salas do grupo Estação, que acaba de lançar uma campanha de financiamento coletivo no site Benfeitoria para seguir em funcionamento quando a pandemia terminar. Tenho visto filmes nos streamings, mas nada substitui o cheiro de pipoca, o apagar das luzes, o telão gigante diante de nossos olhos. Quando poderei ir ao cinema de novo? A inexistência de uma data final é o pior de tudo.
Continua após a publicidadePara os cariocas, a “banalização da violência” já faz parte da rotina: absurdamente, nós nos acostumamos a frases como “não vá pela Avenida Brasil que está tendo tiroteio”, ou “soube que ontem deram facadas num cara na esquina?”, ou “mataram dois bandidos aqui no bairro”.
Agora, existe uma espécie de “banalização do fim”. Quando o coronavírus começou, nos horrorizamos com os números de mortes que chegavam da Itália: 700, 800… Neste momento, no Brasil, os números estão por volta de 1 500 mortos por dia, com projeções de chegar a 3 000, 5 000, e parece que boa parte da população não despertou para a gravidade do que estamos vivendo: no Rio, os calçadões estão cheios; bares, restaurantes e comércios funcionam de vento em popa. Para essas pessoas, respaldadas no presidente lunático, a quarentena nunca começou. Enquanto isso, daqui, as saudades se avolumam: quero abraçar meus amigos, pisar na areia da praia, sair para um bar, fazer um churrasco, jogar vôlei. Mas ainda não é hora. Por enquanto, vou continuar sonhando.

Revista Veja - 17 de junho de 2020 

Você sabia disso? - Racismo à Brasileira



Artigo de Opinião - Um renovar - se de esperanças - Lucilia Diniz

Os amores líquidos de que nos fala Zygmunt Bauman estão de quarentena. O filósofo polonês fez sucesso com a defesa da ideia de que os tempos modernos favorecem relações pessoais menos duradouras. O amor contemporâneo, na sua observação, estaria mais para o acúmulo de experiências do que para a profundidade de um relacionamento, mais para descompromisso casual do que para vínculo afetivo. O barco dos encontros eventuais, no entanto, está fazendo água, para usar uma imagem próxima ao universo do pensador mais citado do momento, morto há dois anos.
O distanciamento social para combater o coronavírus nos põe cara a cara com nós mesmos. É uma oportunidade de experimentarmos novas possibilidades de trocas de sentimentos com pessoas que, mesmo a distância, talvez estejam vivendo um momento parecido, também com desejo de construir algo que vá além da superficialidade.
O impulso de viver um grande amor é contrabalançado, quando se é responsável, pelo receio de contrair a Covid-19. Antes da pandemia, feliz de quem tinha um companheiro com quem pudesse passar o Dia dos Namorados. Hoje, ter um companheiro não garante um jantar romântico (e, para os que puderem desfrutar esse momento, recomendo frugalidade — não vamos perder o foco).
Nem todos estarão de mãos entrelaçadas, mas isso não é decisivo. Ouço muitos relatos de casais que estão passando a quarentena cada um em seu canto porque um dos dois trabalha com serviços essenciais ou está na linha de frente do combate à doença. Ainda assim, eles se fazem presentes, por meio de mensagens carinhosas, conversas em vídeo ou um buquê de flores por delivery. O que estão fazendo, na realidade, é transformar a ausência física em prova de amor.
Continua após a publicidadeDificuldade maior enfrentam aqueles que a nova ordem mundial pegou num momento em que não dividiam as delícias do amor com ninguém em particular. Mas acredito que obstáculos existem para ser superados. É bonito ver casais se conhecendo por mensagens, construindo confiança mútua e estabelecendo pactos antes de se encontrarem pessoalmente. Começar um namoro virtual não é possibilidade que deva ser descartada. Quando menos, a postergação do contato físico traz uma carga de emoção que pode ser recompensadora tanto no encontro próximo como no futuro mais longínquo, quando a lembrança do platonismo imposto pelas circunstâncias ajudar a alimentar o amor de uma vida inteira.
Gosto de pensar que a ausência temporária pode esfriar as paixões pequenas, mas esquenta os grandes amores. Faz com os sentimentos o que o vento faz com o fogo: se apaga um fósforo, alimenta uma fogueira. No Dia dos Namorados, é bom podermos contar com Vinicius de Moraes. Hoje estamos preocupados com nossa saúde. Sem uma vacina, ainda em desenvolvimento, qual será o impacto no futuro das relações afetivas? O poeta tem a resposta: “Amai, porque nada melhor para a saúde do que um amor correspondido”. E, em meio a tantas agruras descritas em O Dia da Criação, ele registra uma confiança no porvir — “Há um renovar-se de esperanças” — que nos reconforta.

Revista - 17 de junho de 2020 

Você sabia disso? - Renomado virologista alemão alerta sobre ‘efeito rebanho’ contra coronavírus



Conforme reportado pelo Portal R7, uma proposição muito recorrente no Brasil, inclusive pelo Presidente da República,o chamado “efeito rebanho”, que consiste em apostar que 60 a 70% da população pode ser infectada para, a partir daí, gerar imunização da população, pode levar a ‘centenas de milhares de mortes’
Segundo o Instituto Robert Koch (RKI), um centro especializado em epidemiologia da Alemanha, advertiu nesta quinta-feira (30) contra a aposta na chamada “imunidade em grupo”, ou “efeito rebanho”, e reiterou que, até que uma vacina contra o novo coronavírus seja encontrada, o objetivo é manter a taxa de infecção baixa.
O presidente do RKI, Lothar Wieler, em entrevista coletiva, classificou essa proposta como “ingênua” e referindo-se especificamente à Alemanha, disse que se o vírus não puder ser controlado, o país terá que “lamentar várias centenas de milhares de óbitos”.
“E quem faz isso porque pensa que cria ‘efeito rebanho’ é ingênuo e certamente não tem em mente a saúde das pessoas que dependem dele”, asseverou o virologista.
Segundo ele, a chamada “imunização em grupo” não funciona e que deve ser levado em conta que a covid-19 pode ser acompanhada de quadros clínicos gravíssimos, provavelmente deixando sequelados os pacientes e que, até o momento, ainda não se sabe quão boa é a imunidade de quem já passou pelo contágio.
O especialista frisou que: “O que é claro é que se uma vacina for eficaz e segura, menos pessoas morrerão se forem vacinadas do que se estiverem naturalmente infectadas com o coronavírus” e asseverou: “A ideia de erradicar este vírus sem uma vacina não vai funcionar”.

Artigo de Opinião - Foi fácil entrar na ditadura, difícil foi sair


Folha de S. Paulo

Estabilidade se deveu à primeira conciliação nacional partida da oposição, graças à genialidade de Tancredo

O primeiro general entrou no Palácio do Planalto em 1964 e o último (o quinto) saiu por uma porta lateral em 1985. Contada assim, a ditadura durou 21 anos, mas ela se diferenciou de outras latinoamericanas, comunistas, africanas e até mesmo de algumas europeias.

[não nos parece ter sido difícil sair da ditadura, difícil está sendo é consertar o Brasil que a Nova República - iniciado em 85 e destroçada pela roubalheira em todos os governos, mas institucionalizada pelo pt = perda total.
Temer tentou consertar e foi boicotado, agora tentam impedir o presidente Bolsonaro de consertar o que recebeu destroçado.]

Sua maior singularidade esteve na rotação da Presidência. Enquanto pelo mundo afora os ditadores só deixavam o poder mortos ou depostos, no Brasil todos tiveram mandatos. O regime intitulava-se “revolução”. Disso resultou que o governo do marechal Castello Branco (1964-1967) pouco se parece com o de Arthur da Costa e Silva (1967-1969). A Presidência de Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) pouco teve a ver com a de Ernesto Geisel (1974-1979). Foi Médici quem escolheu Geisel para sucedê-lo e anos depois diria que, “se arrependimento matasse, eu já teria morrido”. [lamentavelmente os dois melhores presidentes do Brasil, Médici e Geisel, tiveram alguns pequenos pontos divergentes.
Castelo fica à parte, mais foi fenomenal quando começou o enquadramento dos maus brasileiros às novas normas do regime;
Costa e Silva teve um período de governo breve e extremamente complexo, mas deixou um legado precioso para a Nação = o Ato Institucional nº 5.] 

Nenhum dos quatro se pareceu com João Baptista Figueiredo (1979-1985). Quando ele saiu pela porta lateral do Palácio, estava afastado de Geisel, o país estava quebrado, o regime havia perdido a credibilidade. A estabilidade política foi salva pela primeira conciliação nacional partida da oposição, graças à genialidade de Tancredo Neves. (Ele viria a ser eleito indiretamente, mas morreu sem tomar posse.) As duas décadas de ditadura produziram progresso e pleno emprego, bancarrota e recessão, ordem pública, censura e torturas, moralidade e corrupção (numa escala centesimal).

O coronel-deputado Costa Cavalcanti, que construiu a hidrelétrica de Itaipu, morreu com patrimônio irrelevante. Até hoje, as viúvas da ditadura fingem que as ruínas não aconteceram, e seus adversários relutam em admitir que algumas coisas deram certo. Fulanizando: o general Augusto Heleno disse em 2018 que “a Colômbia ficou 50 anos em guerra civil porque não fizeram o que fizemos no Araguaia.” E o que fizeram no Araguaia? Entre outubro de 1973 e o segundo semestre de 1974, a tropa do Exército combatia uma guerrilha do Partido Comunista do Brasil na região do Araguaia.

Matou cerca de 40 combatentes, inclusive aqueles que atenderam aos convites para que se rendessem. Presos, eram interrogados e em seguida, assassinados. Uma guerrilheira achada debaixo de uma árvore à míngua foi presa, alimentada, ouvida e executada. [sugerimos, respeitosamente, que antes de qualquer juízo  sobre eventuais excessos do Governo Militar, procurem ler sobre a forma covarde e cruel  com que  o tenente Mendes,  PM-SP, foi assassinado por guerrilheiros, raça maldita que também assassinou - com explosivos - o soldado Mario Kozel Filho.
O Blog Prontidão Total tem matéria sobre o assunto, mas sugerimos procurar no Google.]A ditadura teve períodos de relativa liberdade de imprensa e de severa censura. A repressão política exacerbou-se a partir de 1968 e declinou depois de 1977. Praticada em nome do combate a um surto terrorista que foi debelado em 1971, gerou uma força militar indisciplinada. A bomba que explodiu na casa do jornalista Roberto Marinho em 1976 foi colocada por oficiais. Eram militares lotados no DOI-Codi o capitão e o sargento que em 1981 levaram outra bomba para o estacionamento do Riocentro na noite em que se realizava um espetáculo musical. (O sargento morreu quando ela explodiu no seu colo.)

Folha de S. Paulo - Elio Gaspari, jornalista - MATÉRIA COMPLETA

Artigo de Opinião - Os equívocos do novo tributo, o ITF

A criação do imposto sobre transações financeiras, o ITF, cogitada pelo governo, não é uma medida apropriada para viabilizar a desoneração das contribuições previdenciárias. O objetivo seria gerar empregos e impulsionar a atividade econômica no pós-pandemia de Covid-19. Seria, a rigor, a recriação da CPMF com outro nome e os mesmos defeitos.
Vários estudos comprovam que a desoneração de contribuições previdenciárias eleva a renda dos trabalhadores, mas não o estoque de empregos. A contribuição é recolhida pelas empresas, mas seu custo recai sobre os empregados. Uma vez abolida, incorpora-se aos salários.
O ITF, tal como a CPMF, incidiria em cascata, impactando cumulativamente os custos de produção e as cadeias produtivas. Não seria possível desonerá-lo nas exportações, o que reduziria a competitividade de produtos e serviços. Resultaria em perdas de comércio exterior e, portanto, de atividade econômica, emprego e renda.
Tributos como esse se justificam em emergências, instituídos em caráter temporário para melhorar a situação fiscal. Foi o caso da CPMF, que tinha prazo para ser extinta. Demorou a desaparecer, mas de forma alguma deixou saudade.
A experiência brasileira mostra que tributos de fácil arrecadação costumam ter suas alíquotas aumentadas em momentos de crise. Foi o caso do imposto sobre vendas e consignações (IVC), de competência estadual, também cobrado em cascata. Criado nos anos 1930 com alíquota de 0,5%, mas já se aproximava de 10% em alguns estados quando foi substituído, em 1967, pelo imposto sobre circulação de mercadorias (ICM), que depois viraria ICMS com a incorporação de alguns serviços em sua base.
Outro caso foi o Fundo de Financiamento Social (Finsocial), criado em 1982 com alíquota de 0,5%. Substituído em 1991 pela contribuição para o financiamento da seguridade social (Cofins), sua alíquota já era de 3%. Anos depois, para eliminar a cascata, a Cofins tornou-se uma contribuição sobre o valor agregado, com alíquota de 7,6%.
Sistemas tributários eficientes não comportam um tributo como o ITF. Alguns países o instituíram e dele desistiram. Foi assim na Austrália, que o aboliu ao se dar conta de seus efeitos danosos para a modernização e expan­são da atividade econômica.
A União Europeia estaria cogitando a criação de um imposto digital sobre transações financeiras, que seria destinado ao pagamento de bônus de 750 bilhões de euros, emitidos com o objetivo de enfrentar os efeitos negativos da Covid-19. Não se sabem detalhes da proposta, mas se sua incidência for em cascata é provável que discussões e estudos mostrarão suas ineficiências.
Continua após a publicidadeNo Brasil, a criação do ITF agravaria o caos que impera no Sistema Tributário Nacional, que tem sido fonte de perdas de eficiência. Uma nova CPMF constituiria areia a impregnar as engrenagens da atividade produtiva nacional e contribuiria para manter a mediocridade do crescimento. É uma má ideia, travestida de poção mágica para criar empregos

Maílson da Nóbrega - Revista Veja - 17 de junho de 2020 

Artigo de Opinião - Truque renovado


O exercício do poder recomenda instalar fusíveis que possam ser descartados quando alguma coisa dá errado. Para preservar o comando central, e o próprio comandante. Na pandemia da Covid-19 Jair Bolsonaro ficou sem fusível para queimarNão seria melhor para ele se hoje um ainda ministro Luiz Henrique Mandetta tivesse de responder pelos trágicos números?  Exercer e exibir poder pode ser prazeroso, mas traz custo. Aliás os maiores obstáculos e armadilhas enfrentados pelo presidente têm resultado quase sempre das decisões dele mesmo. [se o presidente Bolsonaro parar de agir de forma precipitada, a oposição se acaba e governará em céu de brigadeiro - o 'primeiro-ministro' se recolherá, os juristas que vêem inconstitucionalidade em tudo  que o presidente diz e pensa ficarão  quietos, mudos e os aplausos ao primeiro mandatário serão de toda a platéia.
A oposição no Brasil é tão incompetente, tão insignificante que Bolsonaro tem que fazer oposição a ele mesmo - e aí, vez ou outra exagera.
Só que sua natureza autoritária e seu estilo disciplinador o levam a precipitações.] Foi Bolsonaro quem decidiu chamar Sergio Moro para o ministério. Tivesse ficado em Curitiba, o ainda juiz estaria dando dor de cabeça só aos adversários do ocupante do Planalto.

Foi também Bolsonaro quem na formação do governo resolveu dar ouvidos ao canto de sereia da dita nova política. Fazer média com o eleitor-torcedor intoxicado pela antipolítica. Agora tem de consertar o avião em voo, trazendo de forma meio atabalhoada uma base capaz de evitar na Câmara dos Deputados o impeachment, ou a autorização para o processo no Supremo Tribunal Federal. Mas Bolsonaro também foi prudente, pelo menos num caso. Quando decidiu ignorar a eleição interna da corporação e nomeou um de fora da lista tríplice para procurador-geral da República. Como estaria o morador do Alvorada se o comando da PGR estivesse, como inaugurado pelo PT, sob controle da guilda dos procuradores? O risco persiste, claro, mas menor. [Optou por um sem vínculos nem com a guilda nem com o presidente = independência total; 
e nenhuma autoridade independente processará o presidente Bolsonaro, não realizará nem permitirá que interpretações criativas.]

Outra coisa arriscada: montar governo excessivamente com base em afinidade ideológica. O senso comum diz que os ideologicamente alinhados serão aliados mais fiéis. Quando o amor acaba, costuma ser o contrário. Os mais próximos no critério ideológico revelam-se os adversários mais ferozes. Desde Caim e Abel sabe-se: ódio entre irmãos é letal.
Eis minha engenharia da obra feita.

Mas talvez o principal problema do presidente resulte de um equívoco analítico: o erro na análise da conjuntura, da disposição das forças. Na identificação do inimigo mais perigoso. Enquanto Bolsonaro se dedica a infernizar a esquerda, quem lidera a operação de cerco e (tentativa de) aniquilamento contra ele são a direita e o dito centro atropelados na eleição presidencial de 2018. A esquerda está fora da linha de sucessão. E o objetivo das diversas frações dela é ganhar a eleição de 2022 surfando no desgaste do bolsonarismo. A alternativa seria confiar na tempestade perfeita em que 
1) o Tribunal Superior Eleitoral cassa a chapa Bolsonaro-Mourão, 
2) o STF referenda e 
3) no processo de liquidação do atual governo forma-se uma maioria eleitoral de esquerda. [Não é chute e sim convicção: a hipótese 1 não se realizará.
Bolsonaro está aprendendo e ainda há tempo para assumir o comando e o bolsonarismo se consolidará com BOLSONARO.]

Para a turma que pende à direita o caminho parece menos pedregoso. Poderiam por exemplo trabalhar mais firmemente o impeachment e a proposta de um governo de “união nacional” em torno do vice. Uma dificuldade dessa saída é Hamilton Mourão não parecer disposto a conspirar contra o chefe.
Diferente de recentes situações.
E tem sempre a alternativa do TSE, seguida do renovado truque de tentar a união em torno de um bolsonarismo sem Bolsonaro.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político - Análise Política  - Revista Veja 17 de junho de 2020