sexta-feira, 15 de julho de 2016

Para escrever melhor, é preciso ler melhor. O que isso significa?


Ana Freitas 


Pesquisadores descobrem que leituras mais complexas produzem escritores melhores. Mas 'escrever bem' é um conceito subjetivo

Machado de Assis e o Espiritismo


Machado de Assis e o Espiritismo

             No ano que marca o centenário de morte, ou, melhor dizendo, de imortalidade de Machado de Assis, é natural que voltemos a nos debruçar sobre sua obra buscando ainda compreender o processo de formação de um escritor de seu nível.  A dimensão da obra machadiana é tal que se torna até o momento inesgotável, sendo possível ao pesquisador encontrar na mesma um vasto campo temático para suas análises.

            Como homem de seu tempo, Machado se nos apresenta como um inteligente observador da sociedade, capaz de transformar os acontecimentos mais corriqueiros em farto material para sua produção literária em todas as expressões a que se dedicou.

Entrevista com Machado de Assis

Ainda abalado pela morte da esposa, o brilhante escritor Machado de Assis impressiona pelo ceticismo, mas nega ter abandonado de vez seu lado romântico

Daniel Piza 

O Rio de Janeiro do Machadão

Toda a obra de ficção de Machado de Assis se passa, com raras exceções, como já dissemos, no Rio de Janeiro que viu escoarem-se as suas sete décadas de vida. A cidade, que conheceu como corte, depois como capital federal, é o seu microcosmo, como a Paris de Balzac, a São Petersburgo de Gogol, a Londres de Charles Dickens, para citar uns poucos exemplos entre inúmeros. No Morro do Castelo — a acrópole quinhentista da cidade, estupidamente demolida em 1922 — só como exemplo, passa-se um episodio de Esaú e Jacó assim como o capítulo 75 de Memórias Póstumas de Brás Cubas, onde, recontando as origens de Dona Plácida, aparece a Sé Velha do Rio de Janeiro, talvez o trecho da ficção machadiana que, na nossa opinião, melhor sintetize a sua visão schopenhaeuriana da realidade, da vida intrinsecamente como dor. [...]

No Caminho de Mata Cavalos — rua do Riachuelo desde a vitória naval do mesmo nome, em 1865 —, “a mais carioca das ruas”, no dizer do autor, erguem-se as casas contíguas de Bentinho e Capitu. É numa casinha da Gamboa que Brás Cubas, depois morador de uma chácara no Catumbi, monta o seu ninho de amor com Virgínia. A protagonista de “A desejada das gentes” habita a Glória, onde ficava, aliás, o Clube Beethoven, muito frequentado pelo melômano Machado de Assis. É na Igreja do Carmo que Romão Pires, de “Cantiga de esponsais”, exercia suas funções como músico, a Igreja do Carmo na antiga rua Direita — Primeiro de Março a partir do fim da guerra do Paraguai — apesar de ele haver nascido no Valongo, onde existiu o velho mercado de escravos, e habitar a rua da Mãe dos Homens, nome da igreja do mesmo nome, ainda existente, onde Tiradentes chegou a hospedar-se, a atual rua da Alfândega. Defronte à Capela Real, bem ao lado da Igreja do Carmo, na mesma rua Direita, morreu a avó de Quincas Borba, atropelada por uma carruagem. No aristocrático Botafogo da época viviam Cristiano Palha e Sofia, que enfeitiçou o ingênuo Rubião de Quincas Borba. E assim por diante, numa enumeração que tão cedo não terminaria...

O Rio de Janeiro é, portanto, para Machado de Assis, o anfiteatro em que ele vê desfilar a dança macabra do egoísmo e da baixeza dos homens [...].





O chalé onde morou Machado situava-se no local do prédio à esquerda, o Edifício Machado de Assis, na Rua Cosme Velho, 174. Uma placa na fachada indica que "NESTE LOCAL VIVEU MACHADO DE ASSIS DE 1883 ATÉ SUA MORTE EM 1908".  Do conjunto de chalés da Condessa de São Mamede dos quais Machado ocupou um, este à direita é o único sobrevivente, dando portanto uma ideia de como teria sido o de Machado.

Após sua morte, quase todos os traços físicos de Machado de Assis na sua cidade natal, na sua cidade de eleição, foram desaparecendo, pouco a pouco. Da casa em que nasceu, casa de agregados da Quinta do Barroso, nada resta, como a própria chácara, e nem sabemos o ponto exato em que se erguia. [Nota do editor do blog: No Morro do Livramento, perto da antena da Embratel, existem ruínas do que pode ter sido a chácara onde a mãe de Machado foi agregada. Ver postagem Morro do Livramento: Nos Passos de Machado.] Os prédios que abrigaram as repartições em que trabalhou foram todos demolidos. O chalé da rua Cosme Velho, em que residiu por um quarto de século com Carolina, e no qual escreveu grande parte de sua obra, foi posto abaixo no ano do seu centenário de nascimento, 1939, para dar lugar a uma mansão, demolida por sua vez no final na década de 1980 para que se levantasse um edifício de apartamentos, com uma pizzaria no térreo, que lá esta [foto acima]. Um ano após a sua morte, no dia 29 de setembro de 1909, um grupo de acadêmicos inaugurou uma placa de mármore na fachada do chalé, capitaneados por Rui Barbosa, tendo Olavo Bilac proferido um discurso na ocasião. O chalé foi demolido, mas a placa se conserva no Pátio dos Canhões, no Museu Histórico Nacional, numa grande ironia machadiana, ou um retrato de um pais em que se destroem as casas históricas e se conservam as suas respectivas placas comemorativas. [Nota do editor do blog: A referida placa encontra-se agora na reserva técnica do MHN, que gentilmente cedeu a foto abaixo.] 






O Silogeu Brasileiro, onde ele presidiu a Academia e onde foi velado, também foi posto abaixo. De todas as casas em que viveu, a da rua da Lapa, onde esteve com Carolina, por uns poucos meses, logo após o casamento, parece que ainda existe, salvo um erro na confrontação das numerações. [Nota do editor do blog: A casa fica na Rua da Lapa, 242, e foi tombada pelo Município em 2008. Outra casa tombada no mesmo ano onde Machado também teria morado fica na Rua dos Andradas, 147.] Todas as outras desapareceram. A capela em que se casou, nos fundos da casa do conde de São Mamede, no Cosme Velho, esta ainda existe, sem altar ou outro resquício de função religiosa [foto abaixo], assim como a própria casa onde ele ia jogar gamão quase todas as noites. 


Seu túmulo, finalmente, e de Carolina, no Cemitério de São João Batista, o “leito derradeiro” do soneto, foi desmantelado no final da década de 1990. Suas cinzas — pouco mais do que isso resta de um corpo enterrado por noventa anos no úmido e ácido solo carioca — foram, juntamente com as de sua mulher, recolhidas ao Mausoléu dos Imortais, no mesmo cemitério.

http://literaturaeriodejaneiro.blogspot.com.br/2013/08/o-rio-de-janeiro-de-machado-de-assis.html

O Rio de Janeiro do escritor Machado de Assis


Conheça a cidade onde o romancista e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras nasceu e passou toda a vida

Daniel Piza 


Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) jamais deixou o estado do Rio de Janeiro. Como tinha muitas doenças, não podia viajar de navio, embora sonhasse conhecer a Itália. Nunca foi além de Nova Friburgo, na região serrana carioca, onde tratou a saúde em duas ocasiões. Sua vida, portanto, foi profundamente associada ao Rio de Janeiro, cujas transformações acompanhou de perto.