quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Crônicas do Dia - Educação do Olhar

As impressões deixadas pelo professor podem virar digitais nas ações do educando, porque seus olhos observam o professor

19/11/2017 
O DIA

Rio - Ao fim de cada ano letivo, a sociedade recebe uma nova geração de jovens professores. Quando concluímos a universidade e entramos na carreira docente, acreditamos que a primeira coisa que iremos fazer será ensinar. Ledo engano. Descobrimos que primeiramente iremos aprender, principalmente aprender a olhar.

Os olhos são peças anatômicas singulares. Falam, em certos momentos, mais do que muitas palavras. As estruturas mais simples apenas percebem a luz ao derredor, enquanto as estruturas mais complexas proporcionam o sentido da visão.

Ao mesmo tempo em que são sensores do corpo, os olhos são reflexos dele. Ao mesmo tempo em que impactam, são impactados. É interessante a analogia que há entre os olhos com relação ao corpo, e o professor com relação à Educação. Os olhos percebem a luz e transmitem as informações das imagens ao cérebro, que as transforma em conhecimento. O professor não pode sozinho gerar o conhecimento, assim como os olhos, mas é o mediador da sua concepção, podendo levar luz ou manter o educando na obscuridade. "Se teus olhos forem bons, todo teu corpo terá luz."

Os olhos expressam as reações do nosso organismo, como a dor, a alegria, a tristeza, o sorriso, a lágrima. Há pessoas que sorriem com os olhos. Dizem com os olhos o que não dizem com palavras. Os olhos são expressões das nossas emoções. Com eles, acolhemos ou rejeitamos, focamos ou ficamos dispersos. Expressamos com o nosso corpo, em gestos, o que nossos olhos confessam sem exigências de palavras.

Os olhos têm o poder de encorajar-nos e ganham intrepidez na verdade. De quando em vez, desviam-se para ocultar enganos. Insistem em olhar quando falam de amor; distraem-se, quando falam de maneira descompromissada. Os olhos do aluno estão sempre mirados no professor, e em alguns momentos mostram reverência. Quando o professor retribui o seu olhar, o aluno constrói sua segurança. É a disponibilidade do olhar do professor que encurtará a distância entre os dois.

As impressões deixadas pelo professor podem virar digitais nas ações do educando, porque seus olhos observam o professor. É apropriado que o professor olhe o aluno com empatia, mas o aluno não precisa ser sua imagem refletida, um reflexo seu, pois cada aprendente é um ser único que precisa conquistar sua identidade.

Eugênio Cunha é professor e jornalista

Artigo de Opinião - A reforma



Igor Grabois

A reforma trabalhista está sendo aplicada, e como era previsível, categorias como professores e médicos têm sido duramente atingidos. O tal trabalho intermitente se encaixa não apenas para trabalhadores de restaurantes ou de grandes lojas. O regime de plantão dos profissionais de saúde e a remuneração por hora-aula caem como uma luva pros tubarões do ensino e pros donos de hospitais e trambiclínicas, tipo os dr.Cosulta da vida.
São trabalhadores que apenas em um país de exploração tão desenfreada como o nosso podem ser considerados privilegiados. Quem já viveu a incerteza e trabalhar no ensino superior privado, como este que vos escreve, sabe do que estou falando.
Me incomoda muito que gente politizada saia escrevendo nas redes sociais e em páginas de comentários de blogs que o que acontece com médicos e professores é bem feito, pois apoiaram o golpe etc. Esse negócio de culpa coletiva - categorias profissionais, etnias, nacionalidades - é coisa de fascista. Conheci operários metalúrgicos, funcionários públicos, choferes de ônibus, empregadas domésticas apoiando o golpe e dizendo barbaridades sobre a CLT e a previdência. Professores públicos e privados estiveram entre as categorias que mais resistiram, com uma bela greve nacional em março. Ou alguém acha que as invasões da polícia federal nas universidades é pra pegar corrupção?
As entidades médicas, em geral, tiveram um papel vergonhoso e continuam tendo, como no episódio da proibição de novos cursos de medicina. Mas entre os profissionais do SUS tem muita crítica e muita resistência. O sinistro Ricardo Barros não consegue ir a um único evento de saúde coletiva.
Grande parte dos que bateram panela fizeram papel de otário, muitos morrem de vergonha do que fizeram. Outros não. Sabem muito bem o papel que exerceram. Estão aí, fazendo propaganda fascista e querendo pisar na cabeça dos outros.
Independente das posições políticas, defender direitos dos trabalhadores, de que categoria sejam, é obrigação de quem milita e tem consciência política.

Crônicas do Dia - O sucesso da jovem velhice - Walcyr Carrasco

Bibi Ferreira aos 94 anos apresenta-se no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro. Em Bibi, por toda a minha vida, canta de Edith Piaf a Roberto Carlos. A plateia sai maravilhada. Bibi faz parte de um grupo cada vez maior de pessoas que envelhecem, mas continuam em plena atividade. Quando eu era criança, velhice era sinônimo de aposentadoria. Paz e tranquilidade. Quem quer? Meu pai se aposentou aos 52 anos. Continuou trabalhando para complementar a renda. Pré-adolescente, diziam que o fim do mundo chegaria em 2000. (A crença continuou até a virada daquele ano, com teorias conspiratórias, previsões do calendário maia e até gente que se refugiou em arcas.) Eu pensava: “Quando o fim do mundo chegar, estarei velho, com 49 anos”.