quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Gosto de roçar a minha língua na língua de Luiz de Camões


Artigo de Opinião - Quem são os neonazistas no Brasil ?

Número de pessoas interessadas no neonazismo cresce mais que a população brasileira, afirma antropóloga

Por Lu Sudré
Caros Amigos

Artigo de Opinião - A crise da educação no Brasil não é uma crise, é projeto

"A crise da educação no Brasil não é uma crise, é projeto"

Por Roberto Amaral 

"Gosto de roçar a minha língua na língua de Luís de Camões"


Você sabia disso ? - E então, vemos ressurgir Lima Barreto


22 de agosto de 2017Redação JC
Dissertação do IEB estuda maior atenção dada às obras do autor em períodos de instabilidade

Por Giovanna Querido

Baseando-se no livro Os significados e sentidos da obra de Lima Barreto (Carlos Eduardo Coutinho, 1970), o pesquisador do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) Alexandre Rosa retoma a tese de que a obra do autor carioca desponta em momentos de profunda crise. Ele o faz em seu recente trabalho de mestrado, denominado O conto em Lima Barreto: oscilação editorial e hibridismo estético. Esse interesse é também amplamente acompanhado pelo mercado editorial.

Durante os primeiros anos do governo Lula, quando o país passou por certa estabilidade econômica, o interesse do mercado editorial voltou-se a uma literatura mais ligada ao consumo – diferentemente do que se observa em momento de desequilíbrio, seja por motivos filosóficos, políticos, institucionais ou morais. Nos anos 60 e 70, as obras de Lima foram muito requisitadas diante do cenário de ditadura e redemocratização; depois, novamente, em 2010, com a incerteza de Dilma no governo; e, agora, de novo com a atual crise.

Assim, na 15ª Festa Literária de Paraty (Flip) foi impossível dissociar literatura de política.  A homenagem a Lima permitiu encampar debates acerca de racismo, feminismo, corrupção. “Um novo país pode ser pensado a partir de Lima Barreto”, disse a curadora Joselia Aguiar, preocupada com a diversidade no festival.

Irmãos de outra época

O dia 1 de novembro marca a morte de Lima Barreto (1902) e o nascimento de Lázaro Ramos (1970). Ambos foram meninos tímidos, acanhados e escritores. Depois, homens negros que, mesmo vivendo em séculos diferentes, sofreram e sofrem com o racismo.

Lima começou a vivenciar o preconceito racial quando foi estudar em colégios burgueses,  onde era o único negro.  Em seu diário pessoal, relata situações em que recebia notas menores de um professor ou era tratado de forma diferente em espaços da alta sociedade – evidenciando o racismo a que era constantemente submetido.

“É triste não ser branco no Brasil”. Lima escreve em seu diário.
O autor, então, passa a abordar a problemática em sua produção jornalística, questionando as teorias evolucionistas da época. Sendo sua mãe negra e empregada doméstica, o autor estava ciente do resquício da escravidão representado por tal ofício – assim como se faz Lázaro Ramos em Na Minha Pele, também denunciando uma falsa democracia social no país. Além disso, Lima é também o primeiro escritor a colocar personagens negros em primeiro plano, como faz em Recordações do Escrivão Isaías Caminha.

Assim, como o Indianismo de Alencar, o literato queria implementar o Negrismo como filosofia oficial. Seu objetivo era escrever um livro fundador dessa corrente estética, feito que não conseguiu ao longo da carreira. Embora o escritor fosse notório em sua cena, ele ainda tinha certa mágoa por não ter o reconhecimento das instituições literárias, a exemplo da Academia Brasileira de Letras. Nesse caso, o pesquisador Alexandre afirma que Lázaro foi mais longe, ocupando espaços e papéis de protagonismo tradicionalmente renegados à população negra.

Movimento negro

“Por sofrer o racismo na pele, Lima foi um dos grandes pioneiros para chamar atenção ao fato de que a África contribuiu para o Brasil e não o degenerou”, afirma Alexandre. Em suas produções, o autor começou a retratar de forma positiva a população negra brasileira. Assim, tornou-se um símbolo ao movimento negro e também à luta de outras minorias.

Nesse sentido, o pesquisador do IEB destaca um crescimento do movimento negro nos últimos anos. Isso é evidenciado pelos espaços de destaque que este passou a ocupar, como a mídia tradicional. “É preciso ocupar sim. Lima queria ocupar a Academia Brasileira de Letras”, reforça.

O escritor carioca é um referencial muito forte para que as vozes desses movimentos possam afirmar seu lugar de fala e de construção de identidade. Alexandre reitera, por isso, a importância do rap nos saraus e nos slam, que continua como principal propulsor para o surgimento de novos poetas.

Valor literário

Como a procura da obra de Lima aumenta em tempos crise, o pesquisador afirma que a leitura de sua produção ficaria muitas vezes limitada ao aspecto militante. No entanto, ele afirma que a obra do escritor marcou uma revolução literária nas formas de se perceber uma realidade que estava se formando no século passado, durante a primeira República.

Enquanto, no Brasil, tentava-se incorporar o modo de vida europeu a partir de teorias como o Darwinismo Social e o Positivismo, Lima se posicionava contra isso em suas produções jornalísticas e em seus livros.

“Literariamente ele não é só isso, ele não é só um panfletário”, diz.  Ao unir crítica social e reformulação da linguagem, Lima Barreto é considerado um dos grandes arautos do Modernismo Brasileiro.

Artigo de Opinião - O inofensivo Bolsonaro

Carlos Andreazza, O Globo

Jair Bolsonaro é candidato a presidente, tem cerca de 15% nas pesquisas e vem de alugar um partido para concorrer. Nunca, porém, geriu algo que não a vida dos filhos.

Crônicas do Dia - E a Monarquia ?

No momento em que a sociedade aspira por valores éticos, morais, de educação e cultura compatíveis com a grandeza nacional, o exame da questão não poderia ser eliminado ou ignorado

07/09/2017 00:02:09
O DIA

Crônicas do Dia - Pede pra sair, Governador ! - Artur Xéxeo

A esta altura do campeonato, já se pode concluir: Pezão não deu certo

Conto - Eis - me - Rita Lee



Eis–me
Eis‑me aqui viva, mera mortal, filosofando sobre a vida, sobre Deus, sobre a crise mundial. Vem‑me à cabeça minha herança e lembro de mim criança, depois adolescente e assim como todos, carente. Muito antes que depois fui mutante, mulher e amante. Eis‑me aqui perdida no futuro do presente, neste mundinho esquisitão, sobrevivente da bobalização. Meio insatisfeita sou a sujeita do verbo ser star, estrela perdida no índigo do céu, pés no chão, cabeça na lua, coração ao leo. Homens não sabem como dizer adeus, mulheres não sabem quando. Posso resistir a tudo, menos à tentação, e descobri que sou quem eu estava esperando. Eis‑me aqui dia seguinte profissa, espreguiça, lava a cara, escova dente e cabelo, dá uma piscada pro espelho e parte pra rotina de dar bons‑dias. Trabalho como se não precisasse do dinheiro, danço como se ninguém estivesse me olhando e perdoo meus inimigos, nada os deixa mais putos. É uma pena que estupidez não cause dor. Eis‑me aqui caidaça no meio da naite, birinaite, cachaça, me levo pra casa depois de muito blá‑blá‑blá, chego e ainda como um resto de pizza com guaraná. Dou um suspiro, respiro, me inspiro e piro na maionese de mim mesma, esta lesma lerda que não sabe por que caiu, nem onde escorregou. Eis‑me aqui confusa, uma estúpida com raros momentos de lucidez, minha consciência limpa é sinal de memória fraca, um boato que entra pelo ouvido e sai por muitas bocas, depois eu é que sou louca. Tusso na frente de um fumante para ele se sentir culpado, depois queimo meu baseado na calada da noite, lá fora o frio é um açoite, então fecho os olhos, não se preocupe comigo, eu apenas estou morrendo. Ei‑me aqui odiando o amor, me abrace por favor, chego à conclusão de que talvez esteja errada, na esperança nada permanece, só a mudança. Estranhos são amigos esperando eu os encontrar, hay mucho que hacer, calo a boca e sorrio, seria engraçado se não tivesse acontecido comigo. Eis‑me aqui na mesmice, nunca vou perdoar as palavras que não disse, não tenho preconceito, neste mundo odeio tudo igualmente e quando não consigo convencer eu confundo, melhor te amar, se tenho medo da solidão melhor não me casar. Eis‑me aqui bem‑amada, Houston, we have a problem, minha namorada é homem, sou o oposto da puta porque estou pouco me fodendo, não estou podendo tanto assim, ai de mim que não sei se acendo uma vela ou se xingo a escuridão, ando tão sem tempo de tanto assistir televisão. Eis‑me aqui falada, mal‑bem‑amada, o vestido mais bonito uso para ser despido, a vida é tão tranquila que devia emitir atestado de óbito, é óbvio que uma das coisas que me dão mais prazer é fazer o que não devo, vou comer e aproveitar até a última mastigada. Eis‑me aqui me despedindo de mim depois de vomitar a alma, felicidade é a minha direção não meu destino, me peça para ter calma, antes de rezar vou me perdoar, antes de desistir vou tentar, antes de falar vou escutar. Eis‑me aqui renascendo, sendo mais eu do que jamais fui, de que me adianta falar bem se estou errada no que digo, não me ofereça sua sabedoria, me dê apenas um copo d’água, uma fatia de pão e um pouco de circo. Só não posso viver com quem não consegue conviver comigo, nessas eu tive foi sorte. E se você não salvou minha vida, pelo menos não arruíne minha morte.


Rita Lee 

Entrevista - Rita Lee - "Uma palhaça que faz graça até da desgraça"

POR CRISTINA FIBE 13/08/2017 


 RIO — Ela anunciou a aposentadoria dos palcos, se isolou em sua casa em São Paulo, reduziu o contato (presencial, ao menos) com imprensa e público. Mas a cantora e compositora Rita Lee, que chega aos 70 no último dia do ano, não parou de trabalhar. Primeiro, viu sua “Autobiografia” virar fenômeno de vendas ao ser lançada, em novembro passado. Meses depois, leva às lojas mais uma obra, “Dropz” (Globo Livros), desta vez uma reunião de 61 contos que misturam ficção e realidade e acompanham pequenos desenhos da própria autora.

Sobre o tom descrente e sarcástico com que aborda, no livro, temas como terrorismo, feminismo e política, Rita diz que é preciso ter uma “boa dose de humor, ou a velhice pode ficar amarga demais”. Em entrevista por e-mail, ela conta ainda que gostaria de se aventurar num romance policial (“sou boa em desvendar crimes, meu autor predileto é Rex Stout”), anuncia um filme para breve, escondendo qualquer detalhe, e não descarta voltar a lançar um disco de inéditas (“nunca parei de compor”), se a “preguiça de aposentada deixar”.

Quando foram escritos os contos de “Dropz”? Você sempre teve o hábito de escrever ou o seu afastamento dos palcos é que gerou o tempo para a nova atividade?

Depois que escrevi a bio bateu um vazio tipo pós-parto, e naturalmente minha cabeça começou a imaginar um novo filho. Foi só pegar meu iPad que os contos foram saindo sem que eu soubesse o final deles, uma surpresa até para mim. Sempre tive o hábito de escrevinhar, mas depois que me afastei dos palcos pude extravasar mais o côté escritora.

O sucesso comercial da autobiografia te estimulou a lançar o novo livro?

Muito antes da biografia, eu escrevia historinhas pelo Twitter. Algumas acabaram saindo num livrinho com ilustrações de Laerte (“Storynhas”, de 2013). Séculos atrás (nos anos 1980 e 1990), lancei três livrinhos infantis sobre as aventuras de dr. Alex, um ratinho que defende os direitos dos animais. E, sim, a biografia me deu mais segurança para escrever o “Dropz”.

O livro traz desenhos seus. Qual o espaço que a Rita artista plástica ocupa na sua vida?

Veja você que além de ter a cara de pau de me pretender escritora também me meti a fazer as ilustrações do “Dropz”. Estou sempre envolvida com tintas e pincéis, me faz passar o tempo com mais leveza.

Qual é a história por trás do quadro que ilustra a capa do livro?

A capa é um autorretrato que fiz para Roberto (de Carvalho, seu marido) há 20 anos e é como sempre me vi: uma palhaça que faz graça até da desgraça.

Você já disse que os contos são historietas reais num mundo paralelo. Depois de uma autobiografia de sucesso, quanto de sua própria experiência ainda há nessas linhas?

Algumas delas são meditações cotidianas, outras são loucuras que passaram pela cabeça, outras ainda sou eu querendo imitar La Fontaine.

Nos contos, você aborda temas como terrorismo e violência e fala em um país que é o “reino da putaria”. Esses contos refletem a sua maneira de ver o mundo e o Brasil hoje?

Aos 70 anos, observo o mundo ao redor e os paralelos com mais desapego, hay que tener uma boa dose de humor e sarcasmo, ou a velhice pode ficar amarga demais.

Um conto como “Ateu” reflete a sua própria descrença do mundo? A raça humana não deu certo, como escreve no texto?

Psicografei a cabeça de um ateu no mundo de hoje: ele ia me contando como enxergava algumas questões sobre o assunto e eu apenas anotei. Sou uma ateia que coleciona santinhos de todas as religiões e que percebe o divino através dos animais; nós, humanos, somos apenas coadjuvantes.

Como vê a crise política que o Brasil enfrenta? Há solução em vista?

A polarização tá muito chatinha, não confio em nenhum dos lados. O voto obrigatório é o grande vilão do Brasil.

Quem seria o presidenciável que teria o seu voto no ano que vem?

Nenhum dos pré-candidatos até agora me fará sair de casa para votar.

Em entrevista ao GLOBO, Ney Matogrosso comentou, sobre as homenagens que recebeu no Prêmio da Música Brasileira, que a convidou para estar no palco da festa, mas você recusou. Ele chegou a dizer que o Rio estava mesmo muito perigoso para você vir. Foi o medo da cidade que a motivou a dizer não? Qual é a sua relação com o Rio hoje?

Cara, eu só saio da minha toca em caso de incêndio, coisas de uma velhinha que ficou cansada de agitos. Homenageio Ney nas minhas meditações, nas minhas orações, Ney é meu Bowie tropical. Faz um bom tempo que não vou ao Rio, no século passado tive a honra de ganhar cidadania carioca, sou uma paulista que não deixa falarem mal do Rio. #voltacapitalparaorio


O seu afastamento dos palcos prevê uma exceção para comemorar seus 70 anos, em dezembro? Há algum plano para a data?

O plano é lançar em março um coffee table book me auto-homenageando com fotos e curiosidades da minha vida. Vou passar meu aniversário quietinha com minha família, meus bichos e minhas plantas.

Uma exposição de itens seus seria possível? Como preserva seu acervo?

Tenho um sótão abarrotado de lembranças, dia desses faço uma expo-baú do arco da velha.

O que mais há para brotar dos seus escritos? Você anda compondo também?

Nunca parei de compor; dia desses, se minha preguiça de aposentada deixar, posso até lançar um disquinho de inéditas... Pensando bem, um single é bem menos trabalhoso e mais objetivo. E ainda vem aí um filme... Ah, são tantas emoções...



Leia mais: https://oglobo.globo.com/cultura/livros/depois-do-best-seller-autobiografia-rita-lee-lanca-livro-de-contos-21700333#ixzz4rzm2OoRq
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