quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Charge - Crise hídrica


Aposto que você não sabia - Dia das Mães

A data surgiu em virtude do sofrimento de uma americana que, após perder a mãe, passou por um processo depressivo. As amigas mais próximas de Anna M. Jarvis, para livrá-la de tal sofrimento, fizeram uma homenagem para sua mãe, que havia trabalhado na guerra civil do país. A festa fez tanto sucesso que em 1914, o presidente Thomas Woodrow Wilson oficializou a data, e a comemoração se difundiu pelo mundo afora.

Quem, conta um conto - Negrinha - Monteiro Lobato

NEGRINHA


Monteiro Lobato



Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta?? Não. Fusca, mulatinha escura, de cabelos
ruços e olhos assustados.
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos de vida, vivera-os pelos cantos escuros
da cozinha, sobre farrapos de esteira e panos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava
de crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada pelos padres, com lugar
certo na igreja e camarote de luxo no céu. Entaladas as banhas no trono uma cadeira de balanço na sala
de jantar, — ali bordava, recebendo as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma
virtuosa senhora, em suma — “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”,
dizia o padre.
Ótima, a D. Inácia.
Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos,
não a calejara o choro da sua carne, e por isso não suportava o choro da carne escrava. Assim, mal vagia,
longe na cozinha, a triste criança, gritava logo, nervosa:
— Quem é a peste que está chorando aí?
Quem havia de ser? A pia de lavar pratos?? O pilão?? A mãe da criminosa abafava a boquinha
da filha e corria com ela para os fundos do quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões desesperados:
— Cale a boca, peste do diabo!!
No entanto, aquele choro nunca vinha sem razão. Fome quase sempre, ou frio, desses que
entanguem pés e mãos e fazem-nos doer...
Assim cresceu Negrinha — magra, atrofiada, com olhos eternamente assustados. Órfã aos
quatro anos, ficou por ali, feita gato sem dono, levada a pontapés. Não compreendia a idéia dos grandes.
Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provocava
ora risadas, ora castigos. Aprendeu a andar, mas não andava, quase. Com pretexto de que, às
soltas, reinaria no quintal, estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num
desvão de porta.
— Sentadinha aí, e bico!! Hem??
Negrinha imobilizava-se no canto, horas e horas. — Braços cruzados, já, diabo!!
Cruzava os bracinhos, a tremer, sempre com o susto nos olhos. E o tempo corria. O relógio batia
uma, duas, três, quatro, cinco horas — um cuco tão engraçadinho! Era seu divertimento vê-lo abrir
a janela e cantar as horas com a bocarra vermelha, arrufando as asas. Sorria-se, então, feliz um momento.

Puseram-na depois a fazer crochê, e as horas se lhe iam a espichar trancinhas sem fim.
Que idéia faria de si essa criança, que nunca ouvira uma palavra de carinho? Pestinha, diabo,
coruja, barata descascada, bruxa, pata choca, pinto gorado, mosca morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha,
coisa ruim, lixo — não tinha conta o número de apelidos com que a mimoseavam. Tempo houve
em que foi — bubônica. A epidemia andava à berra, como novidade, e Negrinha viu-se logo apelidada
assim — por sinal, achou linda a palavra. Perceberam-no e suprimiram-na da lista. Estava escrito que
não teria um gostinho só na vida, nem esse de personalizar a peste...
O corpo de Negrinha era tatuado de sinais roxos, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa,
todos os dias, houvesse ou não motivo. A sua pobre carne exercia para os cascudos, cocres e beliscões
a mesma atração que o ímã exerce para o aço.
Mão em cujos nós de dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria dos fluidos
em sua cabeça, de passagem. Coisa de rir, e ver a careta...
A excelente D. Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora
de escravos e daquelas ferozes, amigas de ouvir contar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se
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afizera ao regímen novo — essa indecência de negro igual a branco; e qualquer coisinha, a polícia!!
“Qualquer coisinha”; uma mucama assada ao forno, porque se engraçou dela o senhor; uma novena de
relho, porque disse: — “Como é ruim, a sinhá!”....
O 13 de maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava,
pois, Negrinha em casa como remédio para os frenesis. Simples derivativo.
— Ai! Como alivia a gente uma boa roda de cocres bem fincados!...
Tinha de contentar-se com isso, judiaria miúda, os níqueis da crueldade: cocres, mão fechada
com raiva e nós de dedos que cantam no coco do paciente. Puxões de orelha: o torcido, de despegar a
concha (bom! bom! bom! gostoso de dar!) e o a duas mãos, o sacudido. A gama dos beliscões: do miudinho,
com a ponta da unha, a torcida do umbigo, equivalente ao puxão de orelha. A esfregadela: roda
de tapas, cascudos, pontapés e safanões à uma — divertidíssimo! A vara de marmelo, flexível, cortante:
para doer fino, nada melhor.
Era pouco, mas antes isso do que nada. Lá de quando em quando vinha um castigo maior para
desobstruir o fígado e matar saudades do bom tempo. Foi assim com aquela história do ovo quente.
Não sabem?? Ora! Uma criada nova furtara do prato de Negrinha — coisa de rir — um pedacinho
de carne que ela guardava para o fim. A criança não sofreou a revolta e atirou-lhe um dos nomes
com que a mimoseavam, todos os dias.
— “Peste”?? Espere aí!! Você vai ver quem é peste. E foi contar o caso à patroa.
D. Inácia estava azeda, e necessitadíssima de derivativo. Sua cara iluminou-se.
— Eu curo ela! disse, desentalando as banhas do trono e indo para a cozinha, qual uma perua
choca, a rufar as saias. — Traga um ovo!!
Veio o ovo. D. Inácia mesma pô-lo na chaleira de água a ferver e, de mãos à cinta, gozando-se
na prelibação da tortura, ficou de pé uns minutos, à espera. Seus olhos contentes envolviam a mísera
criança que, encolhidinha a um canto, trêmula, olhar esgazeado, aguardava alguma coisa de nunca visto.
Quando o ovo chegou a ponto, a boa senhora exclamou:
— Venha cá!! Negrinha aproximou-se. — Abra a boca!!
Negrinha abriu a boca, como o cuco, e fechou os olhos. A patroa então, com uma colher, tirou
da água “pulando” o ovo e zás! na boca da pequena. E antes que o urro de dor saísse, prática que era
D. Inácia nesse castigo, suas mãos amordaçaram-na até que o ovo arrefecesse. Negrinha urrou surdamente,
pelo nariz. Esperneou. Mas só. Nem os vizinhos chegaram a perceber aquilo. Depois:
— Diga nomes feios aos mais velhos outra vez!! Ouviu, peste??
E voltou contente da vida para o trono, a virtuosa dama, a fim de receber o vigário que chegava.

— Ah! Monsenhor! Não se pode ser boa nesta vida... Estou criando aquela pobre órfã, filha de
Cesária; mas que trabalheira me dá!
— A caridade é a mais bela das virtudes! exclamou o padre.
— Sim, mas cansa...
— Quem dá aos pobres, empresta a Deus! A virtuosa senhora suspirou piedosamente: — Inda
é o que vale...
Certo dezembro vieram passar as férias com “Santa” Inácia duas sobrinhas suas, pequenotas,
lindas meninas louras, ricas, nascidas e criadas em ninho de plumas.
Negrinha, do seu canto, na sala do trono, viu-as irromperem pela casa adentro como dois anjos
do céu, alegres, pulando e rindo numa vivacidade de cachorrinhos novos. Negrinha olhou imediatamente
para a senhora, certa de vê-la armada para desferir sobre os anjos invasores o raio dum castigo
tremendo.
Mas abriu a boca: a sinhá ria-se também... Quê? Pois não era um crime brincar?? Estaria tudo
mudado e findo o seu inferno — e aberto o céu??!
No enlevo da doce ilusão, Negrinha levantou-se e veio para a festa infantil, fascinada pela alegria
dos anjos. 
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Mas logo a dura lição da desigualdade humana chicoteou sua alma. Beliscão no umbigo e nos
ouvidos o som cruel de todos os dias:
— Já, para o seu lugar, pestinha!! Não se enxerga?? Com lágrimas dolorosas, menos de dor
física que de angústia moral — sofrimento novo que se vinha somar aos já conhecidos, a triste criança
encorujou-se no cantinho de sempre.
— Quem é, titia? perguntou uma das meninas, curiosa. — Quem há de ser?! disse a tia num
suspiro de vítima. — Uma caridade minha. Não me corrijo, vivo criando essas pobres de Deus.. Uma
órfã... Mas, brinquem, filhinhas!! A casa é grande. Brinquem por aí a fora!!
“Brinquem!!” Brincar! Como seria bom brincar! refletiu com suas lágrimas, no canto, a dolorosa
martirzinha, que até ali só brincara em imaginação com o cuco!
Chegaram as malas; e logo:
— Meus brinquedos!! reclamaram as duas meninas. Uma criada abriu-as e tirou-os fora.
Que maravilha! Um cavalo de rodas!... Negrinha arregalava os olhos. Nunca imaginara coisa
assim, tão galante. Um cavalinho! E mais... Que é aquilo? Uma criancinha de cabelos amarelos... que
fala “papá”... que dorme...
Era de êxtase, o olhar de Negrinha. Nunca vira uma boneca e nem sequer sabia o nome desse
brinquedo. Mas compreendeu que era uma criança artificial.
- É feita??... perguntou extasiada.
E, dominada pelo enlevo, um momento em que a senhora saiu da sala a providenciar sobre a
arrumação das meninas, Negrinha esqueceu o beliscão, o ovo quente, tudo, e aproximou-se da criaturinha
de louça. Olhou-a com assombro e encanto, sem jeito sem ânimo de pegá-la.
As meninas admiraram-se daquilo. — Nunca viu boneca??
— Boneca?? repetiu Negrinha. — Chama-se Boneca?? Riram-se as fidalgas de tanta ingenuidade.

— Como é boba! disseram. — E você, como se chama?
— Negrinha.
As meninas, novamente, torceram-se de riso; mas vendo que o êxtase da bobinha perdurava,
disseram, estendendo-lhe a boneca:
— Pegue!!
Negrinha olhou para os lados, ressabiada, com o coração aos pinotes. Que aventura, santo
Deus! Seria possível?? Depois, pegou a boneca. E muito sem jeito, como quem pega o Senhor
Menino, sorria para ela e para as meninas, com relances de olhos assustados para a porta. Fora de si,
literalmente... Era como se penetrara o céu e os anjos a rodeassem, e um filhinho de anjo lhe viesse
adormecer ao colo. Tamanho foi o enlevo que não viu chegar a patroa, já de volta. D. Inácia entreparou,
feroz, e esteve uns instantes assim, imóvel, presenciando a cena.
Mas era tal a alegria das sobrinhas ante a surpresa estática de Negrinha, e tão grande a força
irradiante da felicidade desta, que o seu duro coração afinal bambeou. E pela primeira vez na vida
soube ser mulher. Apiedou-se.
Ao percebê-la na sala, Negrinha tremera, passando-lhe num relance pela cabeça a imagem do
ovo quente, e hipóteses de castigos piores ainda. E incoercíveis lágrimas de pavor assomaram-lhe aos
olhos.
Falhou tudo isso, porém. O que sobreveio foi a coisa mais inesperada do mundo: estas palavras,
as primeiras que ouviu, doces, na vida:
— Vão todas brincar no jardim!! e vá você também!! mas veja lá!! Hem??
Negrinha ergueu os olhos para a patroa, olhos ainda de susto e terror. Mas não viu nela a fera
antiga. Compreendeu e sorriu-se.
Se a gratidão sorriu na vida, alguma vez, foi naquela surrada carinha...
Varia a pele, a condição, mas a alma da criança é a mesma — na princesinha e na mendiga. E
para ambas é a boneca o supremo enlevo. Dá a natureza dois momentos divinos à vida da mulher: o 
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momento da boneca — preparatório, e momento dos filhos, — definitivo. Depois disso está extinta a
mulher.
Negrinha, coisa humana, percebeu nesse dia da boneca que tinha alma.
Divina eclosão! Surpresa maravilhosa do mundo que ela trazia em si, e que desabrochava, afinal,
como fulgurante flor de luz. Sentiu-se elevada à altura de ser humano. Cessara de ser coisa e de
ora avante lhe seria impossível viver a vida de coisa. Se não era coisa! Se sentia! Se vibrava!...
Assim foi, e essa consciência a matou.
Terminadas as férias, partiram as meninas levando consigo a boneca, e a casa reentrou no ramerrão
habitual. Só não voltou a si Negrinha. Sentia-se outra, inteiramente transformada.
D. Inácia, pensativa, já a não atenazava tanto, e na cozinha uma criada nova, boa de coração,
amenizava-lhe a vida. Negrinha, não obstante, caíra numa tristeza infinita.
Mal comia e perdera a expressão de susto que tinha nos olhos. Trazia-os agora nostálgicos,
cismarentos.
Aquele dezembro de férias, luminosa rajada de céu trevas adentro de seu doloroso inferno,
envenenara-a. Brincara ao sol, no jardim. Brincara!...
Acalentara dias seguidos, a linda boneca loura, tão boa, tão quieta, a dizer papá e a cerrar os
olhos para dormir. Vivera realizando sonhos da imaginação. Desabrochara-se de alma.
A repentina retirada de tudo isso fora forte demais para a débil resistência de uma alma, com
um mês de vida apenas. Enfraqueceu, definhou, como roída de invisível doença consuntora. E uma
febre veio e a levou.
Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono. Ninguém, entretanto,
morreu jamais com maior beleza. O delírio rodeou-se de bonecas, todas louras, de olhos azuis. E de
anjos... E bonecas e anjos rodamoinhavam em torno dela, numa farândola do céu. Sentia-se agarrada
por aquelas mãozinhas de louça, abraçada, rodopiada.
Veio a tontura, e uma névoa envolveu tudo. E tudo regirou em seguida, confusamente, num
disco. Ressoaram vozes apagadas, longe, e o cuco pela última vez lhe apareceu, de boca aberta.
Mas, imóvel, sem rufar as asas.
Foi-se apagando. O vermelho da goela desmaiou... E tudo se esvaiu em trevas.
Depois, vala comum. A terra papou com indiferença sua carnezinha de terceira — uma misé-
ria, quinze quilos mal pesados...
E de Negrinha ficaram no mundo apenas duas impressões. Uma cômica, na memória das
meninas ricas:
— Lembras-te daquela bobinha da titia, que nunca vira boneca??
Outra de saudade, no nó dos dedos de D. Inácia: — Como era boa para um cocre!...


Monteiro Lobato - 1927

Quem conta um conto - O caso do espelho - Ricardo Azevedo

O caso do espelho


 Versão do conto popular por Ricardo Azevedo



 Era um homem que não sabia quase nada. Morava longe, numa casinha de sapé
esquecida nos cafundós da mata.
 Um dia, precisando ir à cidade, passou em frente a uma loja e viu um espelho
pendurado do lado de fora. O homem abriu a boca. Apertou os olhos. Depois gritou, com o
espelho nas mãos:
― Mas o que é que o retrato de meu pai está fazendo aqui?
―Isso é um espelho – explicou o dono da loja.
Não sei se é espelho ou se não é, só sei que é o retrato do meu pai.
Os olhos do homem ficaram molhados.
― O Senhor... conheceu... o meu pai? – perguntou ao comerciante.
O dono da loja sorriu. Explicou de novo. Aquilo era só um espelho comum, desses de
vidro e moldura de madeira.
― E não! – respondeu o outro – Isso é o retrato do meu
pai. É ele sim! Olha o rosto dele. Olha a testa. E o cabelo? E o
nariz? E aquele sorriso meio sem jeito?
O homem quis saber o preço. O comerciante sacudiu os
ombros e vendeu o espelho, baratinho.
 Naquele dia, o homem que não sabia de quase nada
entrou em casa todo contente. Guardou cuidadoso o espelho
embrulhado na gaveta da penteadeira.
 A mulher ficou só olhando.
 No outro dia, esperou o marido sair para trabalhar e
correu para o quarto. Abrindo a gaveta da penteadeira,
desembrulhou o espelho, olhou e deu um passo atrás. Fez o
sinal―da―cruz tapando a boca com as mãos. Em seguida,
guardou o espelho na gaveta e saiu chorando.
 ― Ah, meu Deus! – gritava ela desnorteada. – É o retrato de outra mulher! Meu
marido não gosta mais de mim! A outra é linda demais! Que olhos bonitos! Que cabeleira
solta! Que pele macia! A diaba é mil vezes mais bonita e mais moça do que eu!
Quando o homem votou, no fim do dia, achou a casa toda desarrumada. A mulher,
chorando sentada no chão, não tinha feito nem comida.
― Que foi isso, mulher?
―Ah, seu traidor de uma figa! Quem é aquela jararaca lá no retrato?
― Que retrato? –perguntou o marido, surpreso.
Aquele mesmo que você escondeu na gaveta da penteadeira!
O homem não estava entendendo nada.
― Mas aquilo é o retrato do meu pai!
Indignada, a mulher colocou as mãos no peito:
― Cachorro sem―vergonha, miserável! Pensa que eu não sei a diferença entre um
velho lazarento e uma jabiraca safada e horrorosa?
A discussão fervia feito água na chaleira.
― Velho lazarento coisa nenhuma! – gritou o homem, ofendido.
A mãe da moça morava perto, escutou a gritaria e veio ver o que estava acontecendo.
Encontrou a filha chorando feito criança que se perdeu e não consegue mais voltar para casa.
― Que é isso, menina?
― Aquele cafajeste arranjou outra!
― Ela ficou maluca – berrou o homem, de cara amarrada.
― Ontem eu vi escondendo um pacote na
gaveta do quarto, mãe! Hoje, depois que ele saiu, fui ver
o que era. Tá lá! É o retrato de outra mulher!
A boa senhora resolveu, ela mesma, verificar o
retrato.
Entrando no quarto, abriu a gaveta,
desembrulhou o pacote e espiou. Arregalou os olhos.
Olhou de novo. Soltou uma sonora gargalhada.
― Só se for o retrato da bisavó dele! A tal fulana é a coisa mais enrugada, feia, velha,
cacarenta, murcha, arruinada, desengonçada, capenga, caduca, torta e desdentada que eu já vi
até hoje!
E completou, feliz, abraçando a filha:
― Fica tranquila: a bruaca do retrato já está com os dois pés na cova!


AZAVEDO, Ricardo. O caso do espelho. In: Nova Escola, maio 1999, p.28-9,

"Não" para os clichês

Alteridade indígena e africana ainda é pouco conhecida pelos professores e retratada de forma superficial nos livros didáticos

Danielle Bastos Lopes

Crônicas do Dia - O ano e os dias - Fred Coelho

Enquanto o vento veloz da História nos carrega para a frente, insistimos em olhar para trás

Tá na Hora do Poeta - Ode para o Futuro - Jorge de Sena

Ode para o Futuro



Falareis de nós como de um sonho. 
Crepúsculo dourado. Frases calmas. 
Gestos vagarosos. Música suave. 
Pensamento arguto. Subtis sorrisos. 
Paisagens deslizando na distância. 
Éramos livres. Falávamos, sabíamos, 
e amávamos serena e docemente. 

Uma angústia delida, melancólica, 
sobre ela sonhareis. 

E as tempestades, as desordens, gritos, 
violência, escárnio, confusão odienta, 
primaveras morrendo ignoradas 
nas encostas vizinhas, as prisões, 
as mortes, o amor vendido, 
as lágrimas e as lutas, 
o desespero da vida que nos roubam 
- apenas uma angústia melancólica, 
sobre a qual sonhareis a idade de oiro. 

E, em segredo, saudosos, enlevados, 
falareis de nós - de nós! - como de um sonho. 

Jorge de Sena, in 'Pedra Filosofal'

Crônicas do Dia - Um 2016 de concórdia - Milton Cunha

Somos iguais na diferença, que não nos anula ou nos torna inimigos. Nos reconhecemos em nossas humanidades

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

"Gosto de roçar a minha língua na língua de Luís de Camões" - Última chamada: novo acordo ortográfico passa a valer em 2016


As novas normas da Língua Portuguesa passam a ser obrigatórias em 2016. Você está preparado?

Bruna Nicolielo (bruna.nicolielo@fvc.org.br)

Uma proposta de Trabalho - Palavras e erros sob investigação

Casa é com Z ou com S? Será que carro escreve com R ou RR? Questões como essas são parte da aprendizagem da Língua Portuguesa. A maneira como as escolas têm lidado com as dúvidas, no entanto, vem mudando bastante ao longo dos anos. Por muito tempo, os educadores defenderam que, para aprender a escrever, os alunos tinham de dominar plenamente, desde os primeiros anos do Ensino Fundamental, o código alfabético e as normas de escrita - como a pontuação e a ortografia. Surgiram aí práticas como a memorização de longas listas de palavras grafadas de forma descontextualizada e mecânica, sem que os estudantes aprendessem a construir bons textos. 

Uma proposta de Trabalho - Extra! Formiga dança e cigarra não canta mais

A trágica morte de uma cigarra foi revelada em detalhes pelos alunos do 6º ano da EMEB Suzana Albino França, em Lages, a 225 quilômetros de Florianópolis. Inspirados por reportagens que leram e discutiram nas aulas do professor Carlos Eduardo Canani, eles aceitaram o desafio e elaboraram um jornal com base em fábulas que conheciam. Ao analisar os textos finais (como o que você lê na página abaixo), fica claro que a moçada se apropriou das características do gênero e usou a criatividade para produzir notícias para jornalista nenhum botar defeito. 

Crônicas do Dia - Como ser adorável no Natal - Walcyr Carrasco

Dezembro é um mês perigoso. Nele, surgem mágoas e, pior, famas que grudam na pele da gente. Já contei mil vezes: certa vez, no amigo secreto (ou oculto, como preferem os fluminenses), tirei um grande amigo. Comprei uma camisa em promoção. Ele adorou! Mas a camisa não serviu. Fiquei de trocar. Não trocavam. Eu estava sem grana e enrolei meses, embora ele reclamasse todo dia. Fiquei com fama de pão-duro. Pior, de enrolão. Era uma fama justa, mas quem deseja ter? Amigos secretos são armadilhas. As pessoas escrevem e fazem charme anonimamente. Estipula-se o valor do presente, mas ninguém espera, na real, ganhar coisa baratinha. Presentes têm uma aura de romantismo. Crianças raramente querem roupa, a não ser meninas starlets. Querem brinquedos ou gadgets eletrônicos. Adultos? Chatíssimo receber um CD que não tem a ver no amigo secreto do trabalho. E ainda sorrir por obrigação:

Crônicas do Dia - Como encontrar a felicidade - Artur Xexéo

Para os votos de Feliz Ano Novo realmente funcionarem deveria haver um truque científico. Algo que cientificamente fizesse a felicidade acontecer

Crônicas do Dia - Seremos felizes em 2016 ? - Frei Betto

A felicidade não se encontra nos bens finitos ofertados pelo mercado, mas se acha nos bens infinitos

Artigo de Opinião - Sobre vidas e sombras - Ana Paula Guljor

Ao longo dos últimos 30 anos, a Reforma Psiquiátrica possibilitou a criação de rede de atenção na comunidade para as pessoas em sofrimento psíquico

O DIA

Artigo de Opinião - Brasil, país de contradições - João Batista Damasceno

Durante o Advento, tempo no qual cristãos esperam a comemoração do nascimento do seu deus-menino, bancária Fabíola é condenada num linchamento midiático

domingo, 27 de dezembro de 2015

Quem são os Griots ?

Griot é como são chamados, em alguns povos da África, os contadores de histórias. Possuem uma função especial que é a de narrar as tradições e os acontecimentos de um povo. O costume de sentar-se embaixo de árvores ou ao redor de fogueiras para ouvir as histórias e os cantos, perdura até hoje. Os griots também são músicos e muitas vezes as narrativas são cantadas. O Império Mali, sob o comando de Soundjata Keita, por volta do século XIII confere importância notável a esses sábios. A construção da história de base oral é marca dos povos africanos antigos e o griot tem papel fundamental em sua estruturação.

Crônicas do Dia - O rito, a ressaca e a esperança - Ruth de Aquino

Adeus, ano legislativo de 2015. Agora, nós devemos cumprir nosso rito de verão com nossas famílias, em clima de paz e na maior leveza possível, respeitando as divergências e data venia, já que juízes, senadores e deputados decidiram manter o recesso e empurrar as grandes decisões para depois das festas de Momo. Não deveriam. O momento é grave e exigiria a volta dos trabalhos em janeiro, mas os Três Poderes ainda pensam que Deus é brasileiro.

Crônicas do Dia - Um convite ao riso - Yves de La Taille

Minha carta ao Professor consistirá em fazer-lhe uma proposta de um tema a ser trabalhado na sala de aula.

Crônica do Dia - As cidades e as árvores - Flávia Lins e Silva

Já pensou ir para a escola e comer frutas pelo caminho?

O programa que mais gosto é caminhar no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, cumprimentando as árvores como se fossem velhas amigas: “Bom dia, Dona Sumaúma. Como vai, senhorita Mangueira...”

Crônica do Dia - Como eliminar índios - Frei Betto

Método atual é o descaso do poder público, também conhecido popularmente como vista grossa

O DIA

Crônica do Dia - Da Amizade - Artur da Távola





Todo mundo adora falar bem da amizade, e com razão . Na essência, amizade é tão rara quanto possível profunda e redentora. Mas é frágil !!! A amizade é uma ligação que existe até ser posta á prova e quase sempre não resiste. Parece que é dos amigos que sempre se exige a perfeição. Amigo é o que não pode errar conosco .
         A amizade é a ligação que nasce da junção e atividade de quatro circunstâncias :
1.                 afinidade;
2.                 interesse comum;
3.                 expectativa ou esperança comum;
4.                 razões inconscientes ( necessidades psicológicas ).
O homem precisa da amizade, mas raramente sabe o que fazer com ela. Observo, ao longo dos anos, vendo amizades murchar; como se dá o fenômeno de junção ou coincidência dos quatro pontos acima citados e abaixo desenvolvidos.
Afinidade é uma adivinhação, um avanço dos mecanismos sub e inconscientes sobre a maneira de ser do próximo. É uma espécie de adiantamento de salário afetivo, percebido pelo outro numa fagulha de iluminação. É indispensável para o estabelecimento da amizade.
A palavra interesse é tida como maldita, porém não pode faltar quando se trata de amizade. E interesses os há de toda espécie. Dos nobres aos vis. Interesse comum é fundamental para o cimento, o fomento e o fermento da amizade.
Expectativa ou esperança comum é o outro ponto. Quem espera resultados idênticos; quem espera mudanças, quem vive com outrem uma esperança comum aos dois ( ou muitos ) , ou desfecho de negócios ou ideais ou propostas culturais ( tanto faz ) ; quem viaja junto e descobre afinidades; quem participa de movimentos afins; quem milita em qualquer organização destinada a salva os homens ou os países, vive maior possibilidade da amizade e esta cresce quando a espera propicia uma aproximação que muitas vezes a conquista ou a obtenção do almejado nem sempre mantêm.
Razões inconscientes ou necessidades psicológicas atendidas intuitivamente pela outra parte são determinantes profundas da amizade. Buscar no amigo a complementação de partes fracas ou mal desenvolvidas ( ainda que como tais desconhecidas ) é afã de todos. Tais razões e necessidades são, sempre, de difícil delimitação pois envolvem as fantasias mais obscuras de nossa mente. Mas selam amizades.
Basta que uma ou duas dessas categorias azedem ou infeccionem para que muda a circunstância determinante da amizade. Esta, até pode durar em nome da recordação do que foi, porém mesmo dizendo – se, considerando – se e sendo amigas, as pessoas nunca mais exercerão a amizade da mesma maneira. Haverá o sentimento , a recordação prazenteira, o reconhecimento das virtudes do outro, mas tudo eco, tudo passado, embora verdadeiro. O exercício da amizade não se fará igual. E sem exercício , a amizade é retrato da época ou saborosa saudade e não uma efetiva prática afetiva !
As pessoas tentam reter o tempo da amizade supondo que são amigas quando o correto é dizer que foram amigas sem que isso signifique que são inimigas.
Amizade é exercício das quatro precondições formadores da circunstância. Mudando a circunstância, as pessoas mudam , ainda que façam força para se manter amigas. São , apenas, ecos de amizade já vivida, um cansativo esforço de recordar sua vigência anterior.
Amizade, mesmo, no sentido em que a palavra amigo tem um radical de ama, de amor ( radical que lhe dá sentido oculto ) é aquela capaz de se manter quando muda a circunstância. Amizade é o afeto que não enfraquece quando os quatro pontos não mais coincidem . E esta é muito rara. Muito . Mas existe.
Amigo não é quem foi amigo. Amigo é quem está sendo amigo .


sábado, 26 de dezembro de 2015

Implementação da Lei 10. 639


Implementação da Lei 10.639 (1)
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos


LEI No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003.

Mensagem de veto Altera a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o A Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:

"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Art. stica e de Literatura e História Brasileiras.

§ 3o (VETADO)"

"Art. 79-A. (VETADO)"

"Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’."

Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque

Os mitos por trás do Zodíaco

O homem enxergou no céu referências para se orientar no tempo e no espaço. Viu também imagens que reproduziam os deuses e suas façanhas. Esse legado atravessou o tempo e está presente em nosso dia a dia

RICARDO MUNIZ 

O que é Mitologia ?

Por considerar a raça humana irremediavelmente perdida e cheia de defeitos, Zeus, o soberano dos deuses, resolveu acabar com ela. Para isso, provocou um dilúvio no mundo para afogar a humanidade. Apenas o casal formado por Deucalião e Pirra seria poupado, em virtude de sua bondade. Zeus os aconselhou a construírem uma arca e se abrigarem nela. Depois de flutuar nove dias e nove noites, sobre as águas da tormenta, a arca parou no topo de uma montanha, onde o casal desembarcou.

Artigo de Opinião - A crise da Educação como projeto

Na Uerj, com 28 mil alunos, há um problema central: a administração à base de complementação orçamentária

O DIA

Artigo de Opinião - A discriminação que tira oportunidades

O rendimento de mulheres é 79% do que ganham os homens, enquanto negros têm 50% do rendimento dos brancos

O DIA

Sampa - Caetano Veloso

Sampa


Caetano Veloso
  

Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim, Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos Mutantes

E foste um difícil começo
Afasta o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os Novos Baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa

O dicionário - Heloísa Pires Lima

Entrei na biblioteca e abri o dicionário do Aurélio. Procurei a palavra negro e entre seus significados estavam estes: "sujo, encardido", "triste", "maldito". Mais embaixo vinha negrura, palavra que podia ser associada à idéia de crueldade, perversidade, ruindade, falta, erro, culpa. Saí da sala achando que ser negro não era muito bom não.

A Humanidade - Darcy Ribeiro


  Humanidade é o conjunto de todos os povos que existem, ou seja, de todos os homens, mulheres e crianças que vivem neste mundo. São muitíssimos. A última conta que eu vi dava perto de cinco bilhões. Estão divididos em países, ou nações, com seus territórios, seu jeito de viver e sua fala. Em alguns desses países vive mais de uma nação, como, por exemplo, os Bascos, oprimidos lá na Espanha, ou como os Guarani, aqui no Brasil, que lutam por ter seu pedacinho de terra e para poder viver lá, do seu próprio jeito, sem serem incomodados.
  Infelizmente, os povos do mundo ainda guerreiam demais. Tudo guerra suja. Não há guerra limpa. Sempre quem guerreia está querendo tirar alguma coisa do outro, que não quer entregar. Nesse mundo, só os índios do Xingu conseguiram conquistar a paz: substituíram as guerras entre as tribos de lá pelo esporte. Fazem grandes festivais, em que juntam índios de várias línguas diferentes para disputarem na luta de *Huka-
 -huka*, uma espécie de luta romana, ou no de arremesso de lanças, que eles chamam de *Javari*, para estabelecer quem é o campeão, quem é o melhor.
  A humanidade está dividida em cinco continentes. O mais povoado é a Ásia, dos asiáticos, como os japoneses, chineses e outros. A África é também muito grande, dos africanos -- negros e mulatos. A Europa é dos brancos, europeus. A América era dos índios. Agora, é mais nossa, dos mestiços, criados pelo cruzamento de índios com brancos e com negros. Há, ainda, a Oceania, com pouquíssimos índios dos que viviam lá e muitíssimos australianos e outros imigrantes europeus, que invadiram aquilo e lá se multiplicam como uma nova Europa.
  Há quem diga que os europeus são brancos, os africanos pretos, os asiáticos amarelos e os índios cobreados. Mas não é bem assim: ninguém tem uma cor pura. Uns são mais claros, outros mais escuros, outros morenos. Todos são bonitos ou feios, porque isso de beleza não depende da cor. Nós, brasileiros, nos orgulhamos muito de ser um povo mestiço, na carne e no espírito. Fomos feitos pela fusão de gentes de todas as raças e pela mistura da sabedoria deles todos. Podemos, até, dizer que somos mais humanos por termos mais humanidades misturadas em nós.
  Melhor mesmo será se nos fizermos mais humanos, tirando o melhor de cada gente, como o sentimento musical e a alegria de viver dos negros; o gosto pelo convívio, a sociabilidade e a bondade dos índios; a sagacidade dos amarelos e a sabedoria dos brancos. Vamos misturando tudo isso, que um dia vai dar certo. Assim, poderá florescer no Brasil a civilização mais bonita deste mundo.

 (Darcy Ribeiro, ilustrações de
  Ziraldo. *Noções de coisas*.
  São Paulo, FTD, 1995.)