sexta-feira, 30 de março de 2018

Você sabia disso ? - Vanguardas Europeias








As Vanguardas Europeias representam um conjunto de movimentos artísticos-culturais que ocorreram em diversos locais da Europa a partir do início do século XX.
As vanguardas artísticas europeias que se destacaram foram: Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo, Futurismo, Expressionismo.
Juntos, esses movimentos influenciaram a arte moderna mundial desde pintura, escultura, arquitetura, literatura, cinema, teatro música, etc.
As vanguardas artísticas ultrapassaram o limite até então encontrado nas artes, propondo assim, novas formas de atuação estética ao questionar os padrões impostos.
No Brasil, elas influenciaram diretamente o movimento modernista, que teve início com a Semana de Arte Moderna de 1922.
A palavra vanguarda, do francês “avant-garde” significa a “guarda avançada”, o que pressupõe, nesse contexto, um movimento pioneiro das artes.

Contexto Histórico

Com o advento da revolução industrial no século XIX e da primeira guerra mundial no início do século XX, a sociedade passava por diversas transformações.
Destacam-se os avanços tecnológicos, progressos industriais, descobertas científicas, dentre outros.
Nesse sentido, a arte demostrou a necessidade de propor novas formas estéticas e de fruição artística, pautadas na realidade vigente.
Dessa forma, os movimentos artísticos europeus surgidos no fervor dos ideais da época foram diretamente contra os ideais da guerra.
Os artistas utilizavam da ironia e da capacidade de “chocar” o público, a fim de despertar outras maneiras de apreciar e refletir sobre a vida.
Por outro lado, um deles exaltou os avanços tecnológicos e o progresso, como é o caso do futurismo italiano.


Vanguardas Artísticas Europeias: Resumo

Confira abaixo cada uma das vanguardas artísticas europeias, suas principais características, artistas e obras:

Expressionismo

Surgido na Alemanha em 1905, o expressionismo foi um movimento artístico calcado na expressão das emoções e dos sentimentos.
Possuía um caráter deveras subjetivo, irracional, pessimista e trágico, justamente por enfatizar as mazelas e os problemas do ser humano.
O artista norueguês Edvard Munch é o precursor do expressionismo. Sua obra mais importante é O Grito (1893), considerada uma das mais emblemáticas do movimento expressionista.
Além dele, merecem destaque os artistas: Paul Klee, Kandinsky, Modigliani e Van Gogh.


Cubismo

O cubismo foi um movimento artístico pautado na geometrização das formas e no abstracionismo.
Foi iniciado em 1907 pelo pintor espanhol Pablo Picasso, com a tela "Les Demoiselles d'Avignon" (As damas d'Avignon).
Outros representantes do movimento foram: Georges Braque, Juan Gris e Fernand Léger. No Brasil, temos como destaque as obras de Tarsila do Amaral.


Futurismo

Movimento encabeçado pelo poeta italiano Filippo Marinetti no dia 20 de fevereiro de 1909.
Suas principais características eram a exaltação da tecnologia, das máquinas, da velocidade e do progresso. Um dos expoentes da pintura futurista foi o artista italiano Giacomo Balla.
No Brasil, os ideais da Semana de Arte Moderna, que inauguraram o movimento modernista no país, sofreram grande influência do futurismo. Isso porque a rejeição ao passado bem como o culto do futuro propulsionaram as ideias modernistas.


Dadaísmo

Movimento ilógico encabeçado por Tristan Tzara em 1916, que mais tarde ficou conhecido como o propulsor dos ideais surrealistas.
Além dele, outros líderes do movimento foram: o poeta alemão Hugo Ball e o pintor, escultor e poeta franco-alemão Hans Arp.
As principais características do dadaísmo são: a espontaneidade da arte pautada na liberdade de expressão, no absurdo e irracionalidade.
Sem dúvida, o pintor e escultor francês Marcel Duchamp foi uma das figuras mais emblemáticas do movimento dadaísta com seus objetos prontos (ready-made) que se afastam de sua função original. A Fonte é uma das obras mais representativas desse momento.

Surrealismo

O surrealismo, liderado pelo artista André Breton, despontou em Paris em 1924.
Pautado no subconsciente, esse movimento era caracterizado por uma arte impulsiva, fantástica e onírica.
Alguns artistas que merecem destaque são Giorgio de Chirico, Max Ernst, Joan Miró, René Magritte e Salvador Dali.
A literatura e as artes plásticas brasileiras sofreram grande influência dessa vanguarda. Merecem destaque: o escritor Oswald de Andrade e os artistas plásticos Tarsila do Amaral, Ismael Nery e Cícero Dias..

https://www.todamateria.com.br/

Artigo de Opinião - A importância da Baixa Literatura


Muitos colegas professores se exaltam quando a discussão descamba para a qualidade dos livros lidos pela juventude atual. Alguns acham uma merda, baixa literatura, qualidade zero. Ótimo. É bom ter essa visão crítica acerca dos vários livros ruins que são lançados anualmente no Brasil e no mundo.

Você sabia disso ? - Fábulas, Parábolas e Apólogo ?

Esses três tipos de texto são frequentemente confundidos devido às grandes semelhanças que possuem, mas podemos diferenciá-los também através de algumas características. 

Vejamos alguns conceitos:

quinta-feira, 29 de março de 2018

Artigo de Opinião - Cortejo do medo


Que o luto de Marielle nos implique. Para que ela fique.


Por Carlos Eduardo Rebuá.

Um medo que não passa. Talvez a face mais assombrosa do medo em suas múltiplas morfologias. Possivelmente uma das descrições da iminência da morte ou dela própria.

Você sabia disso ? - Notícias falsas, a triste marca da política nas redes sociais




Campanha deste ano será marcada por distribuição de informações sem fundamento pela internet
Por Bruna Fantti

Você sabia disso ? - O legado da Semana de 22

O legado da Semana de 22


Da Semana de Arte Moderna, em 1922, para cá, Brasil amadureceu em relação à produção e ao consumo da arte. A análise é da ensaísta e professora titular de literatura brasileira do Departamento de Teoria Literária da Unicamp, Maria Eugênia Boaventura. Ela é autora do livro "22 por 22 : A Semana de Arte Moderna" (Editora Edusp). Em entrevista exclusiva à Folha da Região, a ensaísta comenta o legado deste movimento de vanguarda e diz que o povo brasileiro, hoje, recebe bem a produção de seus artistas.

A Semana de Arte Moderna, realizada entre 11 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, contou com a participação de escritores, artistas plásticos, arquitetos e músicos. Seu objetivo era renovar o ambiente artístico e cultural da cidade. Os artistas queriam a produção de uma arte brasileira, afinada com as tendências vanguardistas da Europa, sem, contudo, perder o caráter nacional.

Maria Eugênia orienta inúmeras pesquisas de iniciação científica, mestrado e doutorado, além de supervisão de projeto de pós-doutorado.

Suas pesquisas, bem como as de seus orientados, são assiduamente contempladas com financiamento de agências de fomento nacional, como CNPq, Capes, e Fapesp. Sua especialidade é a literatura brasileira como um todo, embora seja referência fundamental nos estudos sobre o modernismo e a literatura contemporânea. É pesquisadora relevante também sobre fontes primárias e arquivos privados.

O Livro

O livro"22 por 22" é uma coletânea de textos publicados originalmente em jornais de São Paulo e Rio de Janeiro ao longo daquele ano-chave e recupera o calor da polêmica que envolveu escritores, artistas, críticos e jornalistas num verdadeiro tiroteio verbal entre passadistas e futuristas - com destaque para nomes como os de Oswald e Mário de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Sérgio Milliet, Plínio Salgado e Lima Barreto -realçado por caricaturas de Belmonte e Voltolino.

Para a escritora, a Semana de 22 não teria tanta importância sozinha. O que a tornou importante, afirma a pesquisadora, foram as mudanças que o evento provocou na vida cultural e intelectual de São Paulo.

"A semana teve sentido a partir do momento em que estimulou uma vida cultural interessante". A Semana, para a escritora, foi um marco na vida intelectual de São Paulo. O Ano de 1922 foi responsável pela construção da modernidade no Brasil ao instaurar efetivamente a vida cultural na cidade.

Leia trechos da entrevista:

O que motivou a senhora a selecionar esses textos e reviver o tema da Semana da Arte Moderna?

O que me levou a reunir este conjunto de textos foi a constatação da impossibilidade de encontrar este material reproduzido em qualquer livro sobre o Modernismo, impedindo assim que o interessado pudesse conhecer detalhes do processo de atualização da linguagem artística em geral. Em particular, o leitor tomará conhecimento das principais polêmicas fundadoras daquele movimento.

Quais textos e ideias a senhora destaca do livro como ponto de partida para novas discussões quase um século depois?

Os textos dos dois primeiros capítulos revelam de um lado o período de preparação da Semana, a escolha do nome, as pessoas envolvidas, a repercussão, a forma como se divulgou o evento, os temas preferidos, o nível de informação, o tom do debate. Acabam-se com as dúvidas sobre o processo de modernização da literatura brasileira.

Como foi o processo de pesquisa? A quem se destina o livro?

A Pesquisa procurou rastrear nas revistas e jornais do Rio e de São Paulo, exclusivamente em 1922, ano da Semana de Arte Moderna, textos sobre o citado evento, quer de autores favoráveis, quer de pessoas contrárias ao movimento em prol da atualização da cultura brasileira, ou do seu processo. O livro se destina a qualquer pessoa que deseje conhecer os bastidores do Modernismo, ou pelo menos de sua primeira festa. É uma pequena amostra do jornalismo da época. Portanto, também uma bibliografia para cursos de Letras, Jornalismo, Comunicação, História, etc.

A senhora acredita que o Brasil reconhece a valorosa contribuição dos artistas que participaram deste movimento?

Claro, não tem como não reconhecer. Basta observar como se produzia arte no Brasil do início do século 20 e comparar com o cenário que se descortinaria depois de 1922.

Hoje o Brasil carece de novas polêmicas e produções de vanguarda nas artes?

Isto acontece de modo cíclico, pelo menos no mundo ocidental. Movimentos artísticos surgem e revitalizam a vida cultural, desaparecem quando sua produção se torna convencional.

De 1922 para cá, o povo brasileiro progrediu ou regrediu na discussão e produção artística?

Acho que nem uma coisa, nem outra. Os artistas procuram rotineiramente manter a produção local atualizada, sobretudo em termos de técnica e linguagem. No mínimo, acho que o país amadureceu.

Como a senhora analisa a relação do brasileiro com sua história e sua arte?

Quando tem oportunidade o povo recebe muito bem: as exposições, os cinemas, os teatros estão lotados. Publica-se muito mais hoje no País. Tudo isso acontece, por enquanto, em zonas urbanas privilegiadas, ou seja mais ricas.

As escolas cumprem o seu papel de ensinar os estudantes sobre produção cultural?

Na medida do possível sim. Para que a situação melhore, o professor precisa ser mais valorizado, isto é, o seu salário tem que ser aumentado, muitíssimo. E as instalações escolares devem ser aprimoradas.

Obras ajudam a entender anseios do movimento artístico modernista

A Semana da Arte Moderna, realizada em fevereiro de 1922, é um dos períodos das história da arte brasileira mais retratados em livros. Vários especialistas investigam este movimento, destacando desde a sua importância para a criação de uma identidade artística nacional até sua influência nas políticas culturais do País.

Além de "22 por 22 : A Semana de Arte Moderna" (Editora Edusp), da professora Maria Eugênia Boaventura, os leitores interessados em conhecer mais sobre o tema podem buscar informações em publicações como "A Semana de Arte Moderna" (Editora Ática), de Neide Rezende; "Semana de 22 - Entre Vaias e Aplausos" (Boitempo Editorial), de Márcia Camargos; "A Semana de 22 - Coleção História em Aberto" (Editora Scipione), de Francisco Alambert.

MAIS

Também são consideradas obras importantes sobre este período os livros "Artes Plásticas na Semana de 22" (Editora 34), de Aracy A. Amaral; "Entre o Escândalo e o Sucesso - A Semana de 22 e o Armory Show" (Editora Unicamp), de Eliana Bastos; "A Ausência Lilás da Semana de Arte Moderna" (Editora Letras Contemporânea), de Tereza Virgínia de Almeida, e ainda "A Semana de Arte Moderna - Série Princípios" (Editora Ática), de Neide Rezende. J.o.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Você sabia disso ?

A Semana de Arte Moderna representou uma verdadeira renovação artística na linguagem, na busca pela experimentação, na liberdade criadora e uma ruptura com o passado. A arte passou a ser modernista. Representou o espírito de uma época disposta a apresentar novas ideias e conceitos. A poesia deixou de ser apenas escrita e passou a ser também declamada; a música passou a ser apresentada também em concertos ao invés de ser unicamente orquestrada com sinfônicas; e as arte plásticas ganharam maior visibilidade sendo exibidas em telas, esculturas e maquetes arquitetônicas, com desenhos arrojados e modernos.

domingo, 25 de março de 2018

Personalidades - Vinícius de Moraes


  
Por Dilva Frazão



Vinicius de Moraes (1913-1980) foi um poeta e compositor brasileiro. "Garota de Ipanema", feita em parceria com Antônio Carlos Jobim, é um hino da música popular brasileira. Foi também diplomata e dramaturgo.

Vinicius de Moraes (1913-1980) nasceu no Rio de Janeiro, no dia 19 de outubro de 1913. Filho do funcionário público e poeta Clodoaldo Pereira da Silva e da pianista Lídia Cruz desde cedo já mostrava interesse por poesia. Ingressou no colégio jesuíta Santo Inácio onde fez os estudos secundários. Entrou para o coral da igreja onde desenvolveu suas habilidades musicais. Em 1929, iniciou o curso de Direito da Faculdade Nacional do Rio de Janeiro.

Em 1933, ano de sua formatura, Vinicius publica "O Caminho Para a Distância". Não exerceu a advocacia. Trabalhou como censor cinematográfico, até 1938, quando recebeu uma bolsa de estudos e foi para Londres. Estudou inglês e literatura na Universidade de Oxford. Trabalhou na BBC londrina até 1939.

Várias experiências conjugais marcaram a vida de Vinicius, casou-se nove vezes e teve cinco filhos. Suas esposas foram Beatriz Azevedo, Regina Pederneira, Lila Bôscoli, Maria Lúcia Proença, Nellita de Abreu, Cristina Gurjão, Gesse Gessy, Marta Rodrigues e a última, Gilda Matoso.

Em 1943 é aprovado no concurso para Diplomata. Vai para os Estados Unidos, onde assume o posto de vice-cônsul em Los Angeles. Escreve o livro "Cinco Elegias". Serviu sucessivamente em Paris, em 1953, em Montevidéu e novamente em Paris, em 1963. Volta para o Brasil em 1964. É aposentado compulsoriamente em 1968, pelo Ato Institucional Número Cinco.

De volta ao Brasil, dedica-se à poesia e à música popular brasileira. Fez parcerias musicais com Toquinho, Tom Jobim, Baden Powell, João Gilberto, Francis Hime, Carlos Lyra e Chico Buarque. Entre suas músicas destacam-se: "Garota de Ipanema", "Gente Humilde", "Aquarela", "A Casa", "Arrastão", "A Rosa de Hiroshima", "Berimbau", "A Tonga da Mironga do Kaburetê", "Canto de Ossanha", "Insensatez", "Eu Sei Que Vou Te Amar" e "Chega de Saudade".

Compôs a trilha sonora do filme Orfeu Negro, que foi premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes e com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Em 1961, compõe Rancho das Flores, baseado no tema Jesus, Alegria dos Homens, de Johann Sebastian Bach. Com Edu Lobo, ganha o Primeiro Festival Nacional de Música Popular Brasileira, com a música "Arrastão".

A parceria com o músico Toquinho foi considerada a mais produtiva. Rendeu músicas importantes como "Aquarela", "A Casa", "As Cores de Abril", "Testamento", "Maria Vai com as Outras", "Morena Flor", "A Rosa Desfolhada", "Para Viver Um Grande Amor" e "Regra Três".

É preciso destacar também sua participação em shows e gravações com cantores e compositores importantes como Chico Buarque de Hollanda, Elis Regina, Dorival Caymmi, Maria Creuza, Miúcha e Maria Bethânia. O Álbum Arca de Noé foi lançado em 1980 e teve vários intérpretes, cantando músicas de cunho infantil. Esse Álbum originou um especial para a televisão.

A produção poética de Vinícius passou por duas fases. A primeira é carregada de misticismo e profundamente cristã, como expressa em "O Caminho para a Distância" e em "Forma e Exegese". A segunda fase vai ao encontro do cotidiano e nela se ressalta a figura feminina e o amor, como em "Ariana, a Mulher".

Vinícius também se inclina para os grandes temas sociais do seu tempo. O carro chefe é "A Rosa de Hiroshima". A parábola "O Operário em Construção" alinha-se entre os maiores poemas de denúncia da literatura nacional: "Pensem na crianças/Mudas telepáticas/Pensem nas mulheres/Rotas alteradas/Pensem nas feridas /Como rosas cálidas".

Marcus Vinícius de Mello Moraes morreu no Rio de Janeiro, no dia 09 de julho de 1980, devido a problemas decorrentes de uma isquemia cerebral.

Obra de Vinícius de Moraes
O Caminho Para a Distância, poesia, 1933
Forma e Exegese, poesia, 1936
Novos Poemas, poesia, 1938
Cinco Elegias, poesia, 1943
Poemas, Sonetos e Baladas, poesia, 1946
Pátria Minha, poesia, 1949
Orfeu da Conceição, teatro, em versos, 1954
Livro de Sonetos, poesia, 1956
Pobre Menina Rica, teatro, comédia musicada, 1962
O Mergulhador, poesia, 1965
Cordélia e O Peregrino, tearo, em versos, 1965
A Arca de Noé, poesia, 1970
Chacina de Barros Filho, teatro, drama
O Dever e o Haver
Para Uma Menina com uma Flor, poesia
Para Viver um Grande Amor, poesia
Ariana, a Mulher, poesia
Antologia Poética
Novos Poemas II


sábado, 24 de março de 2018

Você sabia disso ? - Mais de 90 propostas que coagem ou proíbem discussão de gênero na sala de aula tramitam pelo país


Já existem 90 propostas em tramitação pelo país que tentam evitar que os professores “façam a cabeça dos alunos”


JULIANA DAL PIVA


Protesto de estudantes em São Paulo Salas de aula viraram campo de batalha ideológico (Foto: Marlene Bergamo/Folhapress)


Poderia ser mais um vídeo de adolescentes nas redes sociais, se não fosse a letra. O grupo de 25 alunos aparece dançando em sala de aula ao ritmo do funk “Baile de favela”, do mc João. A maioria veste roupas azuis e aparece animada ao centro da sala. Seguram cartazes em espaços abertos pelo afastamento das carteiras escolares. Os alunos substituem os versos sensuais sobre a mulher que vem fervendo por paródia politizada ao cantar: “Karl Marx estudou economia e também estudou sociologia. Quer nos explicar a luta de classes pela ideologia, alienação e mais-valia”. Mais adiante, na mesma batida do funk original, completam: “Os burgueses não moram na favela. Estão nas empresas explorando a galera. E os proletários, o salário é uma miséria. Essa é a mais-valia, vamos acabar com ela”.

No dia seguinte à divulgação do filme, os alunos da turma do 3o ano do ensino médio do colégio estadual Professora Maria Gai Grendel, no bairro da Caximba, em Curitiba, foram liberados mais cedo. A última aula das segundas-feiras à noite era reservada à disciplina de sociologia. Taymara Rodrigues, uma das alunas, recorda-se do comunicado da direção da escola. “Apenas disseram que a professora tinha sido dispensada.”

Não demorou muito para que se espalhasse que a razão da ausência da professora Gabriela Viola, titular da disciplina, era o vídeo de quase três minutos que postara em seu perfil no Facebook. As imagens registravam um exercício relacionado a um dos conteúdos estudados no segundo bimestre daquele ano: a introdução ao pensamento do teórico alemão Karl Marx (1818-1883). A partir de alguns tópicos dos textos de Marx, os alunos produziram músicas.



O vídeo foi postado a pedido dos alunos, afirmou Viola. “Já tínhamos estudado o sociólogo Max Weber (1864-1920). O vídeo fazia parte dos estudos sobre Marx. Coloquei na rede social em um domingo à noite. Às 8 horas do dia seguinte, a repercussão estava gigantesca.”

No mundo virtual, a postagem tinha se tornado um viral. Quase 150 mil visualizações fizeram com que o alcance das imagens superasse em muito as redondezas do bairro periférico de Curitiba. A reação nas redes sociais foi uma enxurrada de críticas dos mais diversos pontos do país. A educadora virou alvo de defensores do movimento Escola sem Partido, acusada de “doutrinar” os alunos.

A direção da escola e a Secretaria de Educação do Paraná determinaram o afastamento da professora ainda na noite de segunda-feira, 24 horas após a postagem do vídeo. Gabriela Viola disse que seus superiores criticaram o uso do funk, a publicação do vídeo e cogitaram transferi-la para outra escola, o que ela recusou. Os estudantes, por sua vez, agiram no sentido oposto. Protestaram em defesa do retorno da educadora. A diretora reunia todas as turmas na quadra antes do início das aulas para rezar o pai-nosso, que classificava como oração universal. Com medo de protesto, evitou a convocação da oração naquela semana. Não adiantou. Os alunos se dirigiram ao pátio e se sentaram no chão: “Dissemos que só iríamos para a sala quando a Gabi voltasse”, afirmou Taymara.

A professora retomou as aulas na semana seguinte. Ela conseguiu lecionar até o fim de 2016. Como tinha contrato de trabalho temporário, quando expirou, no primeiro semestre de 2017, o vínculo não foi renovado. “Houve um corte muito grande de professores no Paraná. Fiquei sem dar aula. Virei personagem de uma guerra mais ampla”, disse a professora.

A Secretaria de Educação do Paraná informou que Gabriela Viola retomou suas turmas depois que a escola conseguiu “garantir a normalidade das aulas”. A secretaria atribuiu a não renovação do contrato à posição obtida por ela no processo seletivo de 2017. Ficou em 36o lugar, mas havia apenas 33 vagas para contratação. No fim do ano passado, nova convocação foi feita, mas Gabriela recusou o chamado.

Nos últimos anos, a novidade brasileira na educação vem não de educadores, mas de quadros políticos. Tentativas de regular o comportamento dos professores em sala de aula, na maioria por meio de leis municipais, multiplicam-se em todo o país. Em geral, inspiram-se no movimento Escola sem Partido, que pretende conter o que classifica de doutrinação ideológica de alunos dos ensinos fundamental e médio.

Uma pesquisa da historiadora Fernanda Moura, mestre pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, identificou a tramitação de 90 projetos de lei e uma Proposta de Emenda Constitucional (pec) alinhados à restrição ou normatização da ação dos professores em diferentes casas legislativas do país. A maioria (80%) das propostas tramita em Câmaras municipais. Já há 28 leis inspiradas no movimento Escola sem Partido aprovadas – todas em âmbito municipal. Esse número pode aumentar, porque outros 11 projetos foram aprovados, mas aguardam a sanção do Executivo. Cinco outros só não estão em vigor porque prefeitos vetaram a medida.

A pesquisadora compilou o avanço do movimento Escola sem Partido, com dados atualizados até meados de janeiro. O movimento afirma defender interesses de pais e estudantes preocupados com a influência ideológica na educação, seja política, religiosa, partidária ou moral. Tem provocado polêmica, conflitos e processos judiciais em torno da formação de crianças e jovens.

Episódios controversos como o ocorrido na escola paranaense estão se multiplicando pelo país. Provocam debates sobre os limites dos professores em sala de aula. Políticos unidos a movimentos da sociedade civil se organizam para legislar sobre como devem ou não ser tratados – em sala de aula – temas relacionados à política, à moral e aos costumes. Sexualidade e a chamada “ideologia de gênero” estão no topo das preocupações desses grupos.

O primeiro dos projetos de lei a regular a ação de professores surgiu no Rio de Janeiro em 2014. Foi resultado de parceria entre o deputado estadual Flávio Bolsonaro (psc-rj) e o criador do movimento Escola sem Partido, o advogado Miguel Nagib. Bolsonaro falou a época em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, no centro da cidade, dividindo espaço entre uma visita e um telefonema para negociar sua troca de partido e uma eventual candidatura para o Senado na eleição de 2018.

Logo que ouviu a pergunta sobre como surgiu a ideia do projeto, Bolsonaro, sorridente, justificou: “Havia um processo de décadas de formação de militantes de esquerda dentro dos colégios. Você, que fez faculdade de Jornalismo, sabe que lá a tendência é essa”.

Apesar de ter passado pelos bancos escolares nas últimas três décadas, Bolsonaro, de 36 anos, disse que ele próprio nunca sofreu “doutrinação”.

O deputado conheceu o movimento Escola sem Partido por meio da internet em 2014. Após algumas conversas por telefone, convidou Miguel Nagib para vir ao Rio de Janeiro. “A ideia de sugerir um projeto criando um programa ‘Escola sem Partido’ foi minha. Ele estava remando havia muito tempo, sem que tivesse uma publicidade tão grande. Ninguém dava importância ao assunto”, disse o deputado.

Nagib citou um episódio familiar como ponto de partida para o movimento. Em setembro de 2003, sua filha mais nova cursava a 7a série do ensino fundamental em um colégio particular de Brasília quando chegou da escola contando que o professor de História havia comparado o líder guerrilheiro Che Guevara a São Francisco de Assis. Nagib elaborou uma carta aberta para denunciar o “empenho” do professor em “fazer a cabeça dos alunos”. Fez 300 cópias e distribuiu-as no estacionamento da escola. Ele próprio admite que ninguém lhe deu respaldo. “A direção do colégio contestou rispidamente a veracidade do fato narrado pela minha filha. Negou que seus professores usassem as aulas para doutrinação. Os alunos se solidarizaram inteiramente com o professor. Recebi dezenas de mensagens ofensivas. Nenhum pai me procurou”, recordou.

Derrotado, mas inconformado, Nagib se dedicou a criar o site que, em 2004, desembocaria na criação do movimento Escola sem Partido. Demorou uma década para que se encontrasse com Flávio Bolsonaro, que se tornou assim o acendedor de um rastilho de pólvora que se acumulara por anos.

Nagib usou a experiência como advogado para auxiliar Bolsonaro na elaboração do projeto apresentado à Assembleia do Rio. Nenhum educador foi consultado para auxiliar no tema. “Especialista nessa área aí normalmente é totalmente viciado, opinião totalmente politizada”, justificou Bolsonaro. No Rio, o projeto recebeu duras críticas de parlamentares e educadores e não avançou.

A iniciativa, apesar de malfadada, inspirou descontentes país afora. Em 2014, o movimento abraçou a agenda de grupos que trabalhavam contra a inclusão de igualdade de gênero no Plano Nacional de Educação, base para os planos estaduais e municipais. É uma espécie de Constituição dos temas da educação no Brasil. O plano determina diretrizes, metas e estratégias para a política educacional até 2024.

Embalado com a ampliação das adesões e o acirramento da polarização política a partir de 2014, o movimento Escola sem Partido colocou em seu site propostas próprias de leis a serem encampadas por seguidores políticos nas Câmaras Municipais, nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional. Estava aberta a franquia de projetos de lei do movimento.

“Apresentei a proposta a alguns deputados e vereadores. Devagarinho a coisa foi se espalhando e a partir daí não parou de crescer. Estamos apenas no começo”, disse Nagib, orgulhoso. Ele acredita que a Escola sem Partido será um dos temas essenciais das eleições de 2018, obrigando os candidatos a se posicionar em relação à proposta.


Com algumas variantes, os projetos de lei encaminhados a partir do movimento têm em comum a redação de cinco artigos. O principal diz que o “poder público não se imiscuirá no processo de amadurecimento sexual dos alunos nem permitirá qualquer forma de dogmatismo ou proselitismo na abordagem das questões de gênero”. Em seguida, ficam estabelecidos os “deveres do professor”, como não promover suas opiniões ou preferências ideológicas, religiosas, morais, políticas e partidárias. Prega ainda o respeito “ao direito dos pais dos alunos a que seus filhos recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com as suas próprias convicções”. Estabelece que tais deveres sejam fixados em cartaz em todas as salas de aula, no ensino básico, e na sala dos professores, no infantil.

Um dos 11 projetos que tramitam na Câmara dos Deputados é de autoria do deputado Izalci Lucas (psdb-df). Propõe a proibição da “adoção de formas tendentes à aplicação de ‘ideologia de gênero’ ou orientação sexual na educação”. A justificativa do projeto, porém, contém trechos inexistentes de A ideologia alemã, obra de Karl Marx escrita em 1846. A fraude é descrita pelo pesquisador da Universidade Estadual do Oeste do Paraná José Luis Derisso, que apontou a costura como citação única de trechos de páginas distintas do livro de Marx. “A passagem não consta de nenhuma das publicações em português desta obra. É uma montagem a partir de trechos que aparecem em diferentes partes do livro, sem sequer respeitar a ordem sequencial”, descreveu.

A artimanha dá a dimensão do grau de tensão e politização que o tema tem despertado. A possibilidade de interferência no cotidiano de sala de aula virou tema de conflito entre educadores, pais e alunos. Questionamentos sobre a legalidade da medida têm se avolumado no Poder Judiciário.

Embora esteja no centro do debate, o primeiro escalão do Ministério da Educação não concede entrevistas sobre o tema. Por nota, afirmou que o Ministério da Educação se posicionou contra a Escola sem Partido em projeto que tramita na Câmara dos Deputados.

“O papel dado pela Constituição ao governo federal na educação básica é suplementar, de apoio e fomento. Jamais pode interferir na gestão de nenhuma rede, muito menos em um outro poder local”, informou.

“Apresentei a proposta a alguns deputados e vereadores. Devagarinho a coisa foi se espalhando e a partir daí não parou de crescer. Estamos apenas no começo”
Miguel Nagib, movimento Escola sem Partido
Parcela significativa dos educadores observa com perplexidade o texto da legislação que se amplia pelo país. “Costumo dizer que, mais do que uma mordaça, eles têm estabelecido um tribunal pedagógico nas escolas”, afirmou Daniel Cara, coordenador da campanha pelo direito à educação. Para ele, o clima de desconfiança é “extremamente improdutivo e nenhum professor é capaz de lecionar num tribunal inquisitório”.

Claudia Costin, professora da Fundação Getulio Vargas (fgv) e ex-secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro, declarou que são exceções os casos de professores que extrapolam o papel educacional. Classifica como histórica a existência de disputas sobre como devem ser tratados temas políticos e de comportamento. “A doutrinação sempre existiu em escola. A minha mãe é húngara. Ela nos contava que, quando tinha 11 anos, a professora de história dela ensinava — como verdade científica — que os generais romenos usavam calcinha de mulher”, contou, aos risos. O equilíbrio, de acordo com ela, poderia ser encontrado na formulação de currículos bem estabelecidos. “O que é considerado doutrinação? Se eu ensinar evolucionismo, que é a teoria científica estabelecida, vou estar doutrinando?”, questionou Costin.

Para Priscila Cruz, diretora executiva do movimento Todos pela Educação, nem sequer faz sentido a alegação de que as salas de aula estejam dominadas por educadores que fazem imposições políticas. “São muito mais casos isolados do que algo sistêmico. Para mim é um exercício de lógica. Se realmente professores estivessem fazendo doutrinação ideológica de esquerda, não haveria a onda conservadora atual. É incompatível”, analisou.

Para ela, barrar opiniões distintas da família ao longo do amadurecimento da criança ou do jovem é “uma forma de infantilização”. Priscila acredita que poderá haver reflexos até na maneira como o adolescente fará sua argumentação em exames como Enem e Fuvest, entre outros. “O que é grande parte da nota nesses grandes exames? Interpretação de texto. Se você coloca o aluno numa bolha em que só um tipo de ideia é debatido ou aceito na escola, está privando esse aluno da capacidade de interpretar textos diversos”, observou. Ela acredita que falta às famílias compreensão sobre o papel da escola.

No cotidiano das relações entre famílias e escolas, há queixas sobre o que pais eventualmente consideram excesso de professores. A atriz e empresária Sherazade Médici, de 36 anos, é mãe de uma estudante de 15 do Colégio Federal Pedro ii, na unidade do Humaitá, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Ela diz que a escola vive um cotidiano de muita polarização e dificuldade de diálogo entre pais, alunos e professores. Até seu sobrenome, igual ao do ditador Emílio Garrastazu Médici, mesmo sem parentesco, motiva olhares desconfiados de funcionários da escola.

Médici cita palestra sobre a prática de aborto que houve na escola. “O filho de uma mãe extremamente conservadora disse que não iria porque o tema era contra a religião dele. A esse episódio, seguiram-se cobranças da professora na linha: ‘Você tem de ir, deixa de ser careta’. Essas são coisas que incomodam as famílias. Se me perguntar, acho um absurdo a mulher não ter direito ao aborto em caso de estupro, mas essa mãe pensa diferente. A saída é o respeito”, opinou.

A secretária Maria Inez Medeiros Belarmino, de 56 anos, moradora de Brás de Pina, no subúrbio carioca, vê papéis distintos para a família e para a escola. “Gênero é para ser orientado pelos pais", disse ela. Mãe de uma aluna de 11 anos do Colégio Pedro ii, na unidade de São Cristóvão, ela ficou famosa na internet após um discurso na Câmara Municipal do Rio, em abril de 2017. Com uma camisa verde grafada com os dizeres “Basta! Não à ideologia de gênero e à doutrinação partidária nas escolas”, subiu à tribuna. Com o braço direito balançando negativamente no ar, esbravejou que, após 15 dias de aula, a filha chegou em casa dizendo que não tinha mais religião e perguntou: “Mamãe, você é homofóbica?”

Discussões como essas, antes ocorridas em reuniões escolares, agora vão parar no Judiciário. A historiadora Fernanda Moura — autora da pesquisa que compila o avanço do movimento Escola sem Partido — explica que as propostas de legislar sobre o conteúdo transmitido na educação criaram um ambiente que incita denúncias. “Estão judicializando a sala de aula. Antes os pais queriam resolver essas coisas na direção ou na coordenação regional. Agora querem fazer denúncia no mp. É o que o Escola sem Partido estimula”, afirmou.

Um exemplo é o caso do professor Pedro Mara, diretor do ciep 210, em Belford Roxo. O deputado estadual Flávio Bolsonaro denunciou-o ao Ministério Público. Pediu seu afastamento das funções porque Mara possui uma folha similar à maconha tatuada na parte interna do antebraço esquerdo. A acusação? Apologia às drogas.


“O poder público não se imiscuirá
no processo de amadurecimento sexual dos alunos nem permitirá qualquer forma de dogmatismo ou proselitismo nas questões de gênero”
Projeto de lei do movimento Escola sem Partido
O MP arquivou o caso e considerou a tatuagem como parte do exercício de liberdade de expressão do educador. O episódio, porém, fez com que Mara recebesse ameaças de agressão na internet. “Tive de sair do estado por 15 dias até a poeira baixar”, disse, antes de mencionar que a escola fica em um local que tem a presença de traficantes e milicianos.

Em Manaus, os Bolsonaros é que foram alvo de acusações de doutrinação. Estudantes do 3o ano do ensino médio do Colégio Estadual Professor Waldocke Fricke de Lyra gravaram um vídeo convidando o deputado federal Jair Bolsonaro (psc-rj), pai de Flávio Bolsonaro, para sua formatura. As imagens mostram filas de alunos, comandados por dois policiais militares, gritando como soldados em treinamento: Convidamos Bolsonaro, salvação dessa nação/Nos quatro cantos ouvirão completa nossa canção. Procurado, o coronel Diniz, corregedor responsável por avaliar o caso, disse que os dois militares respondem administrativamente por “transgressão à disciplina”.

Neste ano, é provável que a confusão aumente. A expectativa é que a cidade de São Paulo vote projeto na linha do movimento Escola sem Partido. A arena da batalha final, no entanto, deverá ser o Supremo Tribunal Federal, que terá de decidir pela legalidade ou não das restrições ao comportamento dos professores em sala de aula.



A proliferação de projetos de lei inspirados no movimento Escola sem Partido, além de refletir o crescimento de uma onda conservadora no país, é também sintomático de um problema grave (tanto à direita quanto à esquerda) no debate educacional brasileiro: achar que questões complexas podem ser resolvidas com soluções simplistas, sem base em evidências, e motivadas apenas pelo senso comum.

O Escola sem Partido é um bom exemplo disso. O movimento parte do princípio de que a prática de doutrinação política e ideológica em sala de aula está disseminada por todo o sistema de ensino. Como evidência, seus defensores citam uma pesquisa de opinião. A citação de casos isolados para comprovar a “disseminação sistêmica” de um fenômeno é uma lógica argumentativa rudimentar.

Não se trata de negar que, num país com mais de 2 milhões de professores, certamente há casos de abusos e má conduta, como em qualquer profissão. A questão é que faltam evidências sólidas para sustentar a tese de que o problema seja estrutural. E, mesmo que elas existissem, os projetos inspirados no movimento Escola sem Partido partem de premissas de que a aprovação de uma lei seria uma forma eficiente de atacar a questão, fato questionado até mesmo por educadores que, ao menos em algum grau, concordam com o diagnóstico feito pelo movimento.

Há ainda o problema da percepção arcaica de que o papel do professor é transmitir conhecimentos para uma audiência de estudantes passivos, como se os jovens de hoje fossem presas indefesas para ideias perniciosas de seus mestres. Nenhum sistema educacional de ponta do mundo trabalha mais com esse conceito.

Em resumo, o diagnóstico da extensão do problema carece de comprovação e nada indica que o método proposto para combatê-lo seja eficaz. Sem falar que o efeito prático dessas ações tende a ser o estímulo a um clima de desconfiança e de medo, pelos docentes, de tratar de necessários temas políticos e de gênero na escola. Resta, no entanto, um debate pertinente e não restrito ao Brasil: qual o limite da atuação do professor em sala de aula na abordagem de temas políticos controversos.

Essa foi uma das questões abordadas pelas pesquisadoras Diana Hess e Paula McAvoy, da Universidade de Wisconsin, num estudo feito com professores de 1.001 alunos de ensino médio em 35 escolas públicas nos Estados Unidos. Os resultados foram publicados na obra The Political Classroom (A sala de aula política), vencedora do prêmio de melhor livro do ano de 2016 pela Associação Americana de Pesquisas Educacionais. O argumento inicial das autoras é que, justamente em cenários tão polarizados, ensinar os alunos a se envolver de forma respeitosa e qualificada em diálogos sobre temas públicos importantes torna-se função essencial.

Ao acompanhar como educadores conduziam discussões que tratavam desses temas, as pesquisadoras identificaram que a questão que mais influenciava a qualidade da aula não era o fato de o professor ter exposto ou não sua opinião pessoal sobre o tema. “Não há nada de errado no fato de as pessoas serem partidárias. O que seria um problema, e nós temos realmente uma boa evidência de nossa pesquisa sobre isso, é ensinar como se houvesse uma resposta definitiva a uma pergunta que deveria ser debatida como uma questão aberta de política pública”, diz Diana Hess.

O argumento das autoras não deve ser confundido com a relativização de tudo. O aquecimento global, por exemplo, é um fato com evidências científicas, e sobre isso não cabe discussão. O que deve ser tratado como uma questão em aberto são as políticas públicas para lidar com esse fenômeno ambiental.

Por fim, um ponto importante e válido para o contexto brasileiro é que conduzir essas discussões políticas em sala de aula requer preparo e planejamento. “Discussões espontâneas são de baixa qualidade, porque nem todos conhecem o tema de forma suficiente para participar adequadamente”, afirma Hess.

Em vez de leis inúteis, deveríamos discutir como as escolas podem ensinar melhor os alunos a dialogar em alto nível, respeitando discordâncias, mas com base em
evidências.

*Antônio Gois é jornalista especializado em educação e passa temporada de estudos na Universidade Harvard, em Cambridge (EUA)

Você sabia disso ? - O planeta pede água


A crise é mundial: 20 países exauriram suas reservas e a cada cinco minutos 500 pessoas morrem de sede ou por beberem de fontes contaminadas. No Brasil, onde o quadro é igualmente preocupante, especialistas alertam: é preciso poupar e garantir com rigor a qualidade do precioso líquido

Crônicas do Dia - Cultura e corrupção


É razoável esperar que um PM do Rio, que recebe um salário mensal de US$ 400, não seja empurrado para a corrupção?


José Padilha, O Globo

A cultura de uma organização, o conjunto de práticas e comportamentos que seus membros exibem de forma recorrente, tem dois componentes: um formal, balizado pelas regras e procedimentos expressos nos seus documentos, e outro informal, composto por práticas que não estão escritas e muitas vezes (mas nem sempre) vão contra o que está formalizado.

Exemplo: de um ponto de vista formal, quando um policial militar prende um traficante, deve levá-lo a uma delegacia. Na prática, boa parte dos policiais militares do Rio que trabalham diretamente na repressão ao tráfico de drogas negociam informalmente com os traficantes: ou você me corrompe, ou te levo preso...

O primeiro comportamento faz parte da cultura formal da PM; o segundo, da sua cultura informal.

Durante a realização de “Ônibus 174”, “Tropa de elite” e “Tropa de elite 2”, entrei em contato com inúmeros policiais militares e estudiosos da segurança pública do Rio. Quando indaguei deles qual seria o percentual dos PMs que praticaram ou deixaram de denunciar algum tipo de corrupção, as estimativas informais que recebi ficaram na casa dos 65%.

Ora, se é verdade que mais de 30 mil dos 45 mil policiais militares do estado estão envolvidos, temos um problema relativo à qualidade das pessoas que ingressam na PM, ou temos um problema relativo à organização em si?

No primeiro “Tropa de Elite” defendi a tese de que o problema da PM era, fundamentalmente, organizacional.

Uma das convicções que formei foi a seguinte: a PM do RJ estava (e ainda está) estruturada de forma tão surreal do ponto de vista formal que era inevitável que boa parte de seus membros desenvolvesse uma cultura informal de violência e de corrupção.

Por exemplo: é razoável esperar que pessoas que têm a função de enfrentar, dia após dia, criminosos extremamente violentos e fortemente armados, recebam um salário mensal de US$ 400?  Ou será que o razoável é imaginar que a fragilidade econômica destas pessoas, somada à violência recorrente a que estão submetidas e ao contato diário com criminosos, vai empurrá-las para corrupção?

De forma geral, organizações que têm estruturas formais incompatíveis com a natureza biológica e a realidade econômica e social de seus membros tendem a desenvolver culturas informais que contrariam as suas normas.

(Pense na pedofilia e na igreja católica...) A única forma de se impedir que isso aconteça é a adoção de um algum sistema de controle externo à instituição, que tenha o poder de punir exemplarmente os seus membros.

Na Polícia Militar do Rio de Janeiro este sistema não existe, posto que seus homens e mulheres são supervisionados pela corregedoria da própria. Não foi à toa, portanto, que a PM desenvolveu uma cultura informal de corrupção que se estende muito além do tráfico de drogas. Há corrupção no trânsito, há corrupção na relação com o comércio informal, há corrupção com vans, com clínicas de aborto, com milicianos, com jogos de azar...

Pois bem, a tese que tenho defendido neste espaço (me refiro a ela como a tese do mecanismo) e que enuncio vagamente nos planos finais do “Tropa de Elite 2” pode ser expressa da seguinte forma: o que acontece na PM do Rio acontece em quase todas as organizações do estado brasileiro, em nível municipal, estadual e federal; no Legislativo, no Executivo e no Judiciário.

Em outras palavras: a grande maioria das organizações públicas do nosso país desenvolve culturas organizacionais informais que trivializam a corrupção e a transformam em hábito.

A pergunta que fica é: posto que cada organização tem a sua própria lógica interna, e que estas lógicas não são iguais, porque será que o fenômeno do “mecanismo” é tão generalizado no setor público do nosso país? Por que será que, no Brasil, o mecanismo tem o tamanho do Estado?


Crônicas do Dia - Do seu bolso

Nada pode ir bem num país em que os seus juízes e procuradores se aproveitam da vantagem de não poderem ser punidos nunca, por ninguém e por nenhum motivo, para desrespeitarem a lei em busca de um benefício pessoal. Felizmente não são todos ─ o país realmente já teria ido para o diabo se fossem. Os juízes estaduais e os Ministérios Públicos dos Estados, por exemplo, não participam da “greve” convocada para o dia 15 de março pelas “lideranças da categoria”. Mesmo entre os magistrados federais o problema está concentrado num desses grupos que transformaram suas associações em sindicatos trabalhistas com militância política. Não são muitos ─ mas falam, decidem e agem por todos. O resultado, de qualquer jeito, é que temos aí mais uma agressão aberta à democracia no Brasil. Não há um regime democrático em funcionamento normal quando juízes de direito dão a si próprios direitos diferentes e maiores que os do cidadão comum ─ no caso, colocando-se acima da lei numa greve para obrigar o Supremo Tribunal Federal a decidir uma causa em seu favor. Ou o STF faz o que eles querem, segundo ameaçam, ou então a Justiça não vai funcionar. Isso, obviamente, não existe em democracia nenhuma do mundo. O STF não pode ser obrigado por nenhum grupo particular, e muito menos por magistrados, a agir assim ou assado. Mas aqui, hoje, está valendo tudo.


Numa situação mais ou menos normal, o juiz que fizesse greve para pressionar publicamente os seus superiores na hierarquia, e isso para arrancar um privilégio pessoal, deveria ser simplesmente demitido do cargo e ir fazer outra coisa na vida. Acontece que o Brasil não vive, já há muito tempo, uma situação normal no Poder Judiciário. O motivo da anomalia é que se transformou num hábito, no sistema de Justiça brasileiro, ignorar a lei e a Constituição Federal em benefício dos interesses materiais e ideológicos dos que têm um emprego ali dentro. Nada poderia comprovar isso de forma tão clara como a “greve” do momento. Ela já é um disparate em si mesma, por ser escandalosamente ilegal, mas o motivo pelo qual foi convocada é muito pior ainda ─ na verdade, é o próprio sintoma da falência geral de órgãos que envenena atualmente o corpo da máquina judiciária nacional. Os grevistas não exigem o cumprimento de nenhum preceito virtuoso, como o direito de julgarem em liberdade e de acordo com as próprias consciências. O que querem, mesmo, é garantir miseráveis interesses financeiros pessoais ─ mais exatamente, o pagamento de 4.300 reais por mês como “auxílio moradia”, inclusive para quem já mora na própria moradia. São cerca de 30.000 juízes a procuradores no Brasil inteiro. Multiplique por 4.300 por mês ─ e veja aí o custo dessa brincadeira. Desde que o ministro Luiz Fux, do STF, inventou em 2014 que todos os magistrados brasileiros, sem exceção, deveriam ganhar o “auxílio” hoje contestado, a despesa pública com ele aumentou vinte vezes.



Quer dizer: é um desses casos onde se soma o insulto à injúria. A greve, por si só, já é uma ofensa à ordem; o motivo da greve é uma ofensa à moralidade. De fato, que sentido pode fazer uma aberração como esse “auxílio-moradia”? Os cidadãos brasileiros não têm direito a receber dinheiro do governo para pagar seu aluguel mensal, e muito menos para reforçar seu bolso quando já têm a própria casa. Por que, então, juízes, incluindo os “do trabalho”, e procuradores, deveriam receber aqueles 4 mil e tantos a mais por mês, se pela Constituição todos os cidadãos brasileiros são iguais perante a lei? Fica oficializado, com esse desatino, que não são iguais ─ se o Estado quer tirar dinheiro dos impostos para pagar a moradia de uns, deveria pagar então a moradia de todos. A respeito deste ponto, a propósito, desvenda-se a hipocrisia sem limites da “luta pelo direito à moradia”, que é como os sindicatos apresentam sua exigência. Ela é descrita como se o dinheiro gasto com o “auxilio” pertencesse ao “Estado” ─ ou, numa mentira mais grosseira ainda, “ao governo Temer”, ou ao “Supremo”. Então por que não dizem, logo de uma vez, que a verba vem do Tesouro de Marte? A verdade, como em 100% dos “gastos do governo”, é que o “governo” não gasta nada, nunca. Quem está pagando cada centavo do “auxílio moradia” é você mesmo, ninguém mais; é o público, que mete a mão no bolso para pagar imposto a cada vez que recebe o seu salário ou acende a luz de casa. Não seria mais “republicano” se os nossos magistrados exigissem da população, que de fato é quem lhes paga, o que exigem do SFT? Fica aí a ideia.

Fonte: “Veja”, 19/03/2018 - J.R. GUZZO 

Crônicas do Dia - E as mulheres brasileiras ?

Espanha, Turquia, França, Bélgica, Itália, China, Paquistão, Índia, Afeganistão, Filipinas, Coreia do Sul. Na América Latina: Argentina, Chile, México. Esses foram alguns dos países onde o Dia Internacional da Mulher foi marcado não por rosas pálidas e inúteis, mas por protestos clamando pela igualdade de oportunidades e pelo fim da discriminação e da violência contra a mulher. A imprensa internacional deu ampla cobertura aos protestos mundo afora. No Brasil, houve protestos em 50 cidades, mas nada comparável ao que ocorreu na Espanha e na Argentina, onde as mobilizações repercutiram ruidosamente.

domingo, 18 de março de 2018

Artigo de Opinião - A Síria não é aqui


O que falta ao Rio não é ser polo de negócios, mas sim polo de uma economia regional organizada por complexos produtivos

Entrevista - "Se você não ler, como quer fazer seu filho ler?", diz o dono da Livraria Cultura, Pedro Herz


Executivo de uma das maiores redes de varejo de livros fala da falta de novos leitores, das mudanças no mercado e dos planos da empresa

Artigo de Opinião - Marielle e o Terrorismo de Estado



 João Batista Damasceno, colunista do DIA

A bárbara execução de Marielle Franco demonstra do que são capazes os grupos que exercem, ilegitimamente, parcela significativa de poder em nossa sociedade. A substituição da civilidade pela força foi opção que os algozes das liberdades fizeram no Brasil e a ocorrência não é recente. Foi o Estado quem criou 'homens de ouro', autorizados a matar.

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No Brasil há mais mortes violentas que muitos países em guerra. As armas e munições com as quais matam pobres e pretos favelados não são produzidas nas favelas. São levadas para lá, normalmente, por agentes do Estado ou com suas conivências. A cada crime que se dê visibilidade, o Estado promete ampliar o seu poder executório. A escalada da violência é promovida, incentivada e apoiada pelo Estado ou possibilitada por sua omissão. Apenas 10% dos homicídios são esclarecidos, ainda assim por flagrantes e insistência de familiares. Dispõe a Constituição que é função institucional do Ministério Público exercer o controle externo da atividade policial. O controle sobre a origem do dinheiro com o qual se adquirem os carros de luxo estacionamentos em órgãos policiais, por si só, já implicaria contenção da delinquência estatal.

O Rio vive sob intervenção federal. Não é intervenção militar. O interventor é o presidente da República, que ocupa o cargo por meio do assassinato da democracia e dos 54 milhões de votos que elegeram a presidenta golpeada. Mas, o artífice da intervenção é o ex-governador do Rio, Moreira Franco, que se elegeu em 1986 prometendo acabar com a violência em seis meses e terminou o seu governo em fotografia com os bicheiros no Palácio Guanabara e com um dos assessores, Nazareno, envolvido em sequestro para extorsão. Em 31/10/78 o jornal O Estado de S. Paulo publicou que o promotor de justiça do tribunal do júri de Nova Iguaçu e um comandante de batalhão da polícia militar na Baixada eram sócios de um depósito de bebidas e membros de um grupo de esquadrão da morte. O coronel foi nomeado por Moreira Franco para integrar o seu governo.

O Estado promete combater crime com violência, mas nos seus altos escalões estão organizações criminosas. Contra os abusos do seu aparelho repressivo, o Estado promete ampliar o poder repressivo. É a lógica do Estado Policial. Marielle, com sua lucidez, denunciava os abusos e nos indicava o que fazer. Não basta apurar e punir os seus algozes. É preciso desmontar a máquina de matar pobres que se encontra instalada no interior do Estado. É preciso tirar os dentes da tigrada, conter os gorilas e colocar focinheira na cachorrada.

Artigo de Opinião - Garantia da lei e da ordem para quem ?

No dia 21 de fevereiro, após a sanção do Congresso Nacional, a Intervenção Federal no Rio de Janeiro passou oficialmente a vigorar, entregando o controle da Segurança Pública no estado às mãos do General Braga Netto. Pela primeira vez desde a redemocratização, o instituto é utilizado. Com forte teor militar, a medida veio propagandeada como a grande solução para a problemática da segurança pública que há muito enfrentamos.

Artigo de Opinião - Golpe contra Democracia

Espremido entre a violência do crime organizado e da polícia, o morador da favela e da periferia é o que tem maior interesse no enfrentamento da violência, mas, por experiência própria, sabe que o crime organizado não se combate com intervenção militar. Diante da força maior, este se torna invisível para voltar depois. O que sempre fica como saldo dessas ações espetaculares, mas inócuas, são abusos de poder, humilhação dos moradores e vítimas inocentes.

Editorial - Medida necessária - Jornal O Globo

A intervenção foi aprovada pelo Congresso, com ampla maioria, respeitando a Constituição. Tudo dentro da lei.
   

sexta-feira, 16 de março de 2018

Tá na Hora do Poeta - Morreu

Morreu.
Morreu a preta da maré,
a negra fugida da senzala
que foi sentar com "os dotô" na sala
e falar de igual pra igual com "os homi".
A negra que burlou a fome de se saber,
que fez crescer dentro dela, o conhecimento.
Aquela, que por um momento de humanidade,
sonhou com a justiça, lutou por liberdade
e ousou ir mais alto,
do que permitia sua cor.
"Mas preta sabida, não pode!
Muito menos pobre! Não tem valor."
Diziam as más línguas na multidão.
E ela ousou tirar seus pés do chão.
Morreu.
Morreu a "preta sem noção", que falava a verdade na cara do patrão,
que carregava a coragem, como bagagem,
no coração.
O tiro foi certo,
acertou com maldade,
ecoando seco no centro da cidade. 


Anielli - Poeta de V Redonda


Você sabia disso ?

Desde a noite desta quarta-feira, quando foi publicada a notícia do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Pedro, chegaram ao site e às redes sociais do EXTRA milhares de comentários de leitores. Grande parte lamentava o ato de barbárie no Rio, mas outros muitos criticavam e até debochavam de Marielle por ela ser uma defensora dos direitos humanos.