terça-feira, 11 de agosto de 2020

Artigo de Opinião - O silêncio de quem se diz sem preconceito é gritante

 


“Não podemos apenas dizer que não somos racistas, que não temos preconceito, precisamos ser radicalmente contra tudo aquilo que tenta oprimir, que gera intolerância e até fere a existência de alguém”, diz autora de petição que pede justiça pela morte de Miguel.


Não podemos apenas dizer que não somos racistas, que não temos preconceito, precisamos ser radicalmente contra tudo aquilo que tenta oprimir, que gera intolerância e até fere a existência de alguém”, declara a estudante Dani Brito, de 22 anos, criadora da petição online que em apenas cinco dias reuniu mais de 2,5 milhões de apoiadores num grito de justiça pelo menino Miguel Otávio, morto após cair do 9º andar do prédio onde sua mãe trabalhava.

Miguel Otávio Santana da Silva, 5 anos, negro e filho da empregada doméstica. Deixado por 10 minutos aos cuidados da patroa de sua mãe, branca e moradora de um condomínio de luxo na cidade de Recife (PE), caiu de uma altura de 35 metros após ser abandonado em um elevador e perder-se nos andares do edifício em busca de refúgio. Em meio ao movimento antirracista Vidas Negras Importam, a morte da criança tornou-se símbolo.

O símbolo de uma sociedade estruturalmente racista que condena frequentemente à morte inúmeros George Floyd, João Pedro, Amarildo e Ágatha Félix pela cor de sua pele, em países onde vidas negras importam menos. Foi depois de acompanhar as mobilizações gigantescas que se formavam em torno dos protestos #BlackLivesMatter e notar que pouco se falava sobre o caso Miguel, que Dani decidiu lançar a campanha pedindo justiça pelo menino.  

“O que aconteceu com Miguel não poderia passar despercebido e logo ser esquecido. Pelo momento que temos vivido, pela dor de uma família e também pela justiça necessária, daí surgiu a vontade de criar e compartilhar esse desejo de que o caso ganhasse a visibilidade necessária”, comenta a estudante, que também mora na capital pernambucana e passou a se inteirar do ocorrido assim que os jornais locais começaram a noticiá-lo na tarde do dia 2.  

Dani, que trabalha como atendente em uma lotérica e estuda para prestar o vestibular na área de comunicação, não é negra, não é filha de empregada doméstica e não tem uma história de vida que se assemelhe aos tantos “Miguéis” produzidos pela sociedade brasileira. Mas acredita que a luta antirracista precisa do envolvimento dos brancos. “Precisamos fazer parte, muito além que só assistir”, foi o que pensou quando decidiu lançar a campanha.  

Precisamos fazer parte, muito além que só assistir.

“Ficar só assistindo de longe, na bolha do nosso mundinho, em situações de injustiça, é realmente ensurdecedor e não podemos fazer parte disso. Esse momento que o mundo grita cada vez mais alto por algo que a história já vem gritando tem tempo, nos mostra que já passou da hora de agir de maneira mais enérgica. Parar de empurrar para debaixo do tapete tantos assuntos que precisam ser discutidos e mudados na nossa sociedade”, desabafa. 


A petição foi aberta pela jovem, na plataforma Change.org, na última quinta-feira (4) e um dia depois já ultrapassava a marca de mais de 1 milhão de assinaturas. No dia seguinte (6), dobrou de tamanho e, na tarde desta terça-feira (9), alcançou o total de 2,5 milhões de pessoas engajadas. De imediato, a mobilização ganhou as redes sociais e foi compartilhada por famosos, como as atrizes Monica Iozzi e Patricia Pillar e a cantora rapper Tássia Reis.   

Inspirada por outros abaixo-assinados que também repercutiram nos últimos dias reforçando o debate sobre o racismo, Dani se diz admirada pelo alcance da campanha. “Fiquei muito surpresa e também com o coração muito grato por ver cada vez mais e mais pessoas se juntando e unindo forças para pedir por justiça. Sei que a petição foi o mínimo que poderia ser feito, mas foi uma forma de solidarizar e mobilizar o maior número de pessoas, e contribuir para que essa dor que essa mãe e essa família estão sentindo não seja silenciada”, conta.

A mobilização via petição online também foi o meio que outros cidadãos encontraram para transformar a indignação em luta e reforçar o movimento antirracista. Um abaixo-assinado por justiça a George Floyd, morto asfixiado durante abordagem policial nos Estados Unidos, engajou 17 milhões de pessoas, tornando-se o maior em toda a história mundial da Change.org. Na mesma plataforma, uma campanha em atenção a João Pedro, adolescente fuzilado em operação policial no Rio de Janeiro, já ultrapassa 2,7 milhões de apoiadores. 

Para Dani, a mobilização ofereceu a possibilidade de informar as pessoas sobre o fato e divulgar a causa. Também permitiu um alcance mais amplo da sociedade, bem como a chance de juntar “uma só voz” para pedir por esclarecimento e justiça e, ainda, gerou uma discussão sobre como a história do garoto Miguel se encaixa no debate emergencial sobre racismo estrutural e sobre como os brancos precisam tomar responsabilidades nesta pauta.    

“Tenho ciência de que esse não é meu lugar de fala, mas não muda o fato que precisa e deve ser meu lugar de aprendizado”, diz a jovem. “A causa é importantíssima e o que precisa ser combatido é o que vem sendo propagado de forma estrutural, na nossa cultura, na maneira de falar, em certas opiniões e olhares”, acrescenta, opinando que esse “aprendizado” é que precisa “impregnar” na estrutura da sociedade para o futuro que está sendo construído hoje.

Dani espera que a campanha #JustiçaPorMiguel mostre às autoridades responsáveis pela apuração do caso que a família da criança não está sozinha nessa luta. Indignada pela fiança de R$ 20 mil paga pela patroa da mãe do menino, Sarí Gaspar Côrte Real, a jovem estudante ressalta que a vida de Miguel importa e vale muito mais. “Cobramos por justiça e para que os responsáveis paguem pelo crime”, fala sobre a motivação da mobilização. 

Apesar de não poder confortar a dor que Mirtes Renata Santana de Souza está sentindo pela morte de seu único filho, Dani deseja que a ação faça com que ao menos a “dor da injustiça e da impunidade” não seja sentida pela empregada doméstica. “Também para que todo o assunto sobre racismo, desigualdade, direitos humanos e tudo que envolve o caso, continue sendo discutido e mais pessoas possam ser conscientizadas e transformadas”, afirma. 

A estudante se opõe a atos racistas que acontecem “debaixo do nosso próprio nariz”, partindo de pessoas que “estão ao nosso lado”. “Não é porque não sentimos na pele que não devemos nos importar, muito menos menosprezar”, diz. E condena piadas de cunho racista. “Pequenas ‘brincadeirinhas’, que nunca são apenas brincadeirinhas, e tantos outros exemplos que são justificados com: ‘não tenho preconceito, tenho até amigos que são negros’”. 

As investigações

As investigações dos fatos que levaram à morte do menino Miguel estão sob responsabilidade do delegado Ramon Teixeira, da Polícia Civil de Pernambuco. Sarí, que é primeira-dama da cidade de Tamandaré (PE), foi presa em flagrante por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) e liberada após o pagamento da fiança.

A equipe da Change.org entrou em contato com a Polícia Civil de Pernambuco para cobrar um posicionamento quanto à mobilização por justiça. Em nota, a assessoria de imprensa da corporação informou que a polícia está “dedicada ao avanço e conclusão das investigações”. De acordo com a resposta, depoimentos, imagens, perícias criminais e outros elementos de prova estão sendo colhidos e analisados para, no “menor tempo possível e com qualidade”, apresentar o inquérito policial ao Ministério Público de Pernambuco (MP/PE).

“A Polícia Civil se solidariza com familiares, amigos e sociedade neste momento de imensa dor e irreparável perda. E ressalta que está atuando com intensidade, técnica e dentro da legalidade para esclarecer as circunstâncias da trágica morte e colaborar para que a justiça seja feita. A corporação rechaça qualquer insinuação de favorecimento ou proteção dentro dessa investigação”, diz a nota. “A Polícia Civil de Pernambuco reforça que está trabalhando com dedicação, seriedade e isonomia, e dará respostas à sociedade no momento oportuno”. 

Sobre a não divulgação de imagens da acusada, fato que chegou a ser questionado pela sociedade visto que, normalmente, fotos de presos são amplamente divulgadas, o órgão informou atender à Lei de Abuso de Autoridade (nº 13.869). “Esse procedimento e alinhamento institucional valem para todos, sejam ricos, pobres, brancos, negros, pessoas influentes ou não, homens, mulheres, praticantes de crimes contra a vida, roubos ou corrupção”, fala a nota.  

petição criada pela jovem estudante pernambucana segue aberta e fazendo pressão. “O silêncio de quem se diz sem preconceito é totalmente gritante”, aponta. “Precisamos ser totalmente intolerantes com a intolerância”, finaliza Dani citando um texto que a jornalista Joana Rozowykwiat postou no Twitter sobre o caso Miguel, no qual ressalta como a morte do garoto carrega inúmeros símbolos que mostram como o racismo é estrutural no Brasil. 



https://www.huffpostbrasil.com/entry/peticao-racismo-caso-miguel_br_5ee03893c5b6b9cbc769753b

Você sabia disso? - Morte de Miguel expõe o racismo estrutural por trás das desigualdades no Brasil

 Por  em 04/06/2020, 13:45.

Você sabia disso? - Movimentos e advogada criminalista apontam racismo na condução do Caso Miguel

 


Menino de cinco anos morreu na terça-feira (02) enquanto estava sob os cuidados da patroa de sua mãe

Brasil de Fato | Recife (PE) |
 
O caso envolvendo a morte da criança Miguel Otávio, de cinco anos, gerou uma onda de protestos contra o racismo em Pernambuco. Filho da empregada doméstica Mirtes Renata, o menino caiu do 9º andar do condomínio de luxo conhecido como “Torres Gêmeas” no Recife. A fatalidade foi resultado da negligência de Sarí Corte Real, patroa da mãe de Miguel, que mandou a criança sozinha de elevador para a cobertura do prédio enquanto Miguel estava sob seus cuidados.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Você sabia disso ? - O que é a Lei de Cotas?

1) O que é a lei de cotas?

A Lei nº 12.711/2012, sancionada em agosto deste ano, garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas 59 universidades federais e 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos integralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos. Os demais 50% das vagas permanecem para ampla concorrência.

2) A lei já foi regulamentada?

Sim, pelo Decreto nº 7.824/2012, que define as condições gerais de reservas de vagas, estabelece a sistemática de acompanhamento das reservas de vagas e a regra de transição para as instituições federais de educação superior. Há, também, a Portaria Normativa nº 18/2012, do Ministério da Educação, que estabelece os conceitos básicos para aplicação da lei, prevê as modalidades das reservas de vagas e as fórmulas para cálculo, fixa as condições para concorrer às vagas reservadas e estabelece a sistemática de preenchimento das vagas reservadas.

3) Como é feita a distribuição das cotas?

As vagas reservadas às cotas (50% do total de vagas da instituição) serão subdivididas — metade para estudantes de escolas públicas com renda familiar bruta igual ou inferior a um salário mínimo e meio per capita e metade para estudantes de escolas públicas com renda familiar superior a um salário mínimo e meio. Em ambos os casos, também será levado em conta percentual mínimo correspondente ao da soma de pretos, pardos e indígenas no estado, de acordo com o último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

4) A lei deverá ser aplicada imediatamente?

Sim, mas gradualmente. Em 2013 terão de ser reservadas, pelo menos, 12,5% do número de vagas ofertadas atualmente. A implantação das cotas ocorrerá de forma progressiva ao longo dos próximos quatro anos, até chegar à metade da oferta total do ensino público superior federal.

5) Como as universidades que já tiveram edital de vestibular publicado devem agir?

As universidades que já publicaram seus editais para o vestibular terão de fazer novas chamadas.

6) A lei vale para quem estudou em colégios militares também?

Sim, vale para todas as escolas públicas de ensino médio. O conceito de escola pública se baseia na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei nº 9394/96, art. 19, inciso I:

Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis classificam–se nas seguintes categorias administrativas:

I – públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas, mantidas e administradas pelo Poder Público

7) Quem obteve certificação do ensino médio pelo Enem poderá entrar pela reserva de vagas?

Para ser considerado egresso de escola pública, o estudante deve ter cursado o ensino médio em escola pública ou ter obtido certificação do Enem, Encceja e demais realizadas pelos sistemas estaduais, tendo cursado o ensino fundamental em estabelecimento público. O estudante não pode ter cursado escola particular em nenhum momento.

8) Quem concorrer pelas cotas também poderá entrar pela ampla concorrência?

Nos primeiros quatro anos de implementação da lei, os estudantes cotistas devem disputar vagas tanto pelo critério de cotas quanto pelo de ampla concorrência, já que as vagas serão oferecidas gradativamente. A partir de quatro anos, a permanência desse modelo ficará a critério de cada instituição de ensino.

9) As cotas valerão para vestibulares tradicionais e para o Sisu?

Sim, a lei já valerá para os próximos vestibulares das instituições e também na próxima edição do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) do Ministério da Educação. As instituições federais de ensino que adotarem diferentes processos seletivos precisam observar as reservas de vagas em cada um destes processos.

10) Como será comprovada cor e renda declarados pelos candidatos?

O critério da raça será autodeclaratório, como ocorre no censo demográfico e em toda política de afirmação no Brasil. Já a renda familiar per capita terá de ser comprovada por documentação, com regras estabelecidas pela instituição e recomendação de documentos mínimos pelo MEC.

11) No critério racial, haverá separação entre pretos, pardos e índios?

Não. No entanto, o MEC incentiva que universidades e institutos federais localizados em estados com grande concentração de indígenas adotem critérios adicionais específicos para esses povos, dentro do critério da raça, no âmbito da autonomia das instituições.

12) Como o governo federal vai garantir a permanência dos estudantes cotistas na universidade?

A política de assistência estudantil será reforçada. No orçamento de 2013 já está previsto um aumento para o Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes). Serão investidos pelo menos R$ 600 milhões em assistência estudantil em 2013. O MEC está articulando com os reitores a política de acolhimento dos alunos cotistas, que também gira em torno da política de tutoria e nivelamento.

13) Universidades que já têm programas de cotas terão de mudar?

Podem ser mantidas as iniciativas já existentes, desde que as exigências da lei, ou seja, 12,5% das vagas, sejam implementadas conforme o Congresso Nacional estabeleceu. Então, no mínimo, esses 12,5% têm que corresponder integralmente aos critérios da lei. A partir desse 12,5%, podem ser criados critérios adicionais. A Lei de Cotas determina o mínimo de aplicação das vagas, mas as universidades federais têm autonomia para, por meio de políticas específicas de ações afirmativas, instituir reservas de vagas suplementares.

14) Haverá algum tipo de acompanhamento da implementação da lei?

Sim. O acompanhamento ficará a cargo de um comitê composto por representantes do Ministério da Educação, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e da Fundação Nacional do Índio (Funai), com a participação de representantes de outros órgãos e entidades e da sociedade civil.




Fonte: Portal MEC

 http://sapienciaeruditamcz.blogspot.com/2019/03/voce-conhece-essa-lei-lei-n-127112012-o.html

quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Quem foi João Gilberto? Conheça a história do pai da bossa nova

A cultura está de luto: o músico João Gilberto morreu aos 88 anos, na tarde deste sábado (6). Ele estava em casa, segundo seu filho João Marcelo, no Rio de Janeiro. O artista enfrentava graves problemas de saúde há alguns anos.


Para você que é grande fã do João ou apenas sente comoção com imensa perda da música popular brasileira, nós aqui do Cifra Club achamos que seria uma singela homenagem  relembrar o legado tão ímpar deixado por esse artista. Por isso, o texto de hoje é sobre a história do pai da bossa nova e de suas músicas e discos tão importantes. Vamos nessa?

A história de João Gilberto

João Gilberto Prado Pereira de Oliveira nasceu em Juazeiro, cidade do interior da Bahia, no dia 10 de junho de 1931. Filho do comerciante Juveniano Domingos de Oliveira e da dona de casa Martinha do Prado Pereira de Oliveira, a popular Patu, João Gilberto viveu em sua cidade natal até 1942, aos 11 anos, quando foi morar e estudar em Aracaju (SE). Na capital sergipana, João passou a fazer parte da banda da escola.

Em 1946, de volta a Juazeiro, João Gilberto ganhou um violão do pai e começou a ouvir os mais variados tipos de música. Com a ajuda da Rádio Nacional, o jovem passou a ter contato com a suavidade do som de Dorival Caymmi, com o romantismo de Orlando Silva e com a agressividade aveludada do jazz de Chet Baker. Na mesma época entrou para o grupo Enamorados do Ritmo, e viu sua cidade natal ficar pequena.

Aos 16 anos foi morar e estudar em Salvador (BA). Chegando na capital, abandonou os estudos para se dedicar à música [quer atitude mais rock and roll do que essa?] e aos 18 anos já trabalhava com carteira assinada na Rádio Sociedade da Bahia. Na mesma época fez parte do grupo vocal Garotos da Lua e gravou discos em 78 rotações. Ao deixar o grupo, chegou a gravar alguns singles, mas não conseguiu sucesso.

Mudança para o Rio de Janeiro

Depois de algum tempo dedicado ao estudo de harmonia na música, João Gilberto compreendeu que ao cantar mais baixo e manter a batida, poderia adiantar ou atrasar o canto. E foi armado com essa inovação sonora, além de seu violão debaixo do braço, que João chegou na cidade do Rio de Janeiro (RJ).

Na Cidade Maravilhosa, um destemido homem de 26 anos procurou seguir a trilha de quem poderia fazer a diferença em sua carreira. Numa dessas tentativas de network, o violonista baiano caiu nas graças do produtor e também violonista Roberto Menescal, simplesmente um dos personagens mais importantes da música brasileira do século XX.

Pai da bossa nova

No cenário musical carioca, o violão de João Gilberto era a joia mais admirada, observada e aplaudida. Sua levada era uniforme, mas surpreendentemente deslocava os acentos fortes para lugares poucos usuais entre os violonistas. Suas opções de harmonia abriam desbravaram um admirável violão novo! Por suas vezes, as inquietas mãos fazia o instrumento de cordas virar percussão.

Ah, e havia a questão da voz! A técnica vocal de João abria mão da impostação e procurava soar da mesma maneira que soava o trompetista Chet Baker quando cantava. Volume baixo e notas de longa duração, limpas, sem vibrato. Com o violão na ponta dos dos dedos e bem resolvido com seu jeito de cantar, João Gilberto estava pronto para voar alto.

Era julho de 1958, quando a cantora Elizeth Cardoso lançou o disco Canção do Amor Demais, com músicas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. No álbum, o baiano gravou o violão em duas faixas, Chega de Saudade e Outra Vez. No mês seguinte, e já sendo respeitado por Tom JobimDorival Caymmi e Aloysio de OliveiraJoão gravou seu próprio 78 rotações, um compacto com Chega de Saudade e Bim Bom. Ali a bossa nova nasceu e teve um pai: João Gilberto

O legado de João Gilberto

Entre os anos de 1959 e 1961, João Gilberto lançou uma trinca de álbuns que mudou o curso da música brasileira popular. Com os discos Chega de saudade (1959), O amor, o sorriso e a flor (1960) e João Gilberto (1961), o cantor e compositor baiano influenciou tudo que veio depois.

Se acabasse terminasse nessa trilogia, a missão artística de João já estaria cumprida e com louvor. Acontece, porém, que ele criou um jeito genuinamente brasileiro de se tocar violão brasileiro e, com isso, ajudou a fundar um gênero de música que influenciou tudo que veio depois. De Roberto Carlos a Chico Buarque, passando por Djavan e colando com os Los Hermanos, todo mundo tem um flerte com a obra de João.

Canções como Desafinado sempre estará entre as mais importantes do cancioneiro da música brasileira.

No dia 21 de novembro de 1962, João Gilberto foi uma das estrelas de um concerto no Carnegie Hall, em Nova Iorque. Produzido pela Audio Fidelity Records e patrocinado pelo Itamaraty, o evento foi tinha o objetivo de promover a bossa nova nos Estados Unidos. Entre os presentes estavam Tony BennettPeggy LeeMiles Davis e Herbie Mann. Havia grande presença da imprensa americana, de críticos especializados do mundo inteiro e de uma rádio que transmitiu o acontecimento para Moscou. Começou ali a internacionalização da música brasileira.

Enquanto esteve na ativa, o artista seguiu lançando discos lendários. Sua discografia contempla 52 obras, assim distribuídas:

  • 12 discos de estúdio
  • 9 álbuns ao vivo,
  • 7 compactos
  • 3 EPS
  • 21 coletâneas

Um dos registros de estúdio mais memorável é o álbum Amoroso, que foi gravado nos Estados Unidos. Lançado em 1977, o trabalho celebra a conexão harmoniosa da música do do artista brasileiro com o maestro alemão Claus Ogerman.

João Gilberto e o rock

O fato de ser reverenciado publicamente por Roberto Carlos não é a única ligação de João Gilberto com o rock. Como todo artista respeitoso, o violonista nunca limitou seu trabalho.

Pouco se comenta, por exemplo, de seu papel na carreira dos Novos Baianos, uma das bandas mais importantes do rock nacional. No ano de 1972, João atuou como mentor intelectual do disco Acabou Chorare, uma das obras canônicas da música feita na década de 1970. Com as sugestões e palpites do violonista baiano, os roqueiros encontraram a fórmula correta para cruzar Jimi Hendrix com Jackson do Pandeiro.

Em 1982 ele colaborou com Rita Lee, a eterna e única rainha do rock brasileiro. Na ocasião, João tocou violão na faixa Brazil com S, uma das músicas mais interessantes do disco Rita Lee e Roberto de Carvalho. No ano seguinte, o artista baiano foi uma das atrações do lendário Festival de Águas Claras, uma espécie de Woodstock made in Brazil.

Já em 1986, João gravou Me Chama, de Lobão, para a trilha sonora da novela HipertensãoLobão afirma ter recebido ligações do baiano para a aprovação da execução, além de ter de explicar o estado emocional que se encontrava quando escreveu a letra.

Os últimos anos da vida de João Gilberto

Nos últimos dez anos, o João Gilberto ícone da bossa nova foi aos poucos dando espaço para o seu lado mais complexo. Vivia recluso e cercado por questões complexas.

Em 2008, em ocasião dos cinquenta anos da bossa nova, João se se apresentou em São Paulo, no Rio, em Salvador e nos Estados Unidos. Seus shows tiveram a venda de ingressos esgotada em poucas horas. Do alto de seus 77 anos, o artista arrancou elogios do público e da crítica. Já em 2011, infelizmente, os problemas de saúde o impediram de celebrar suas oito décadas de vida com uma turnê.

No final de 2017, o homem que internacionalizou a música brasileira foi interditado pela justiça, a pedido de sua filha Bebel Gilberto, que justificou que seu pai não tinha condições de cuidar de sua saúde ou finanças por sua fragilidade física e mental.

De um lado, a decadência física e as questões de família devoravam cada partícula de seu ser. Na outra ponta do cabo de guerra, os problemas de dinheiro e os contratos mal feitos também cobravam a conta.No dia 6 de julho de 2019, João Gilberto partiu rumo a uma outra dimensão astral.

A música brasileira se despede de João Gilberto com um “muito obrigado”. Fica a esperança de que sua contribuição artística chegue aos ouvidos e olhos das novas gerações. Não podemos deixar a memória de mais um ídolo ser corroída pelo tempo…

https://www.cifraclubnews.com.br/noticias/148386-joao-gilberto-bossa-nova.html


segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Você conhece a história do Pelourinho ?

HISTÓRIA DO PELOURINHO

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A história do Pelourinho se confunde, em muito, com a história da própria cidade de Salvador, que Tomé de Souza, primeiro Governador Geral do Brasil, fundou em 1549, vindo com ordens expressas do rei de Portugal para construir uma "cidade fortaleza".

Feita em caráter de urgência e preocupação, essa medida do Rei de Portugal, D. João III, atendia à necessidade de defesa da nossa terra, constantemente invadida por corsários que vinham retirar, com a ajuda indígena, as riquezas naturais da então colônia portuguesa, principalmente o pau-brasil e a cana de açúcar.

Salvador foi escolhida como sede de governo devido à excelente localização geográfica e estratégica posição econômica, como principal porto de carga e descarga de mercadorias de todo o Nordeste. 

Logo que chegou aqui, Tomé de Souza tratou de cumprir as ordens do rei, fundando a cidade cujo nome homenageia Jesus Cristo Salvador, no melhor ponto para a construção da "cidade fortaleza", o hoje chamado Pelourinho, local ideal de suas pretensões.

As razões que levaram a escolha do Pelourinho são bastante claras. É a parte mais alta da cidade, em frente ao porto, perto do comércio e naturalmente fortificada pela grande depressão existente que forma uma muralha, de quase noventa metros de altura, por quinze quilômetros de extensão, o que facilitaria a defesa de qualquer ameaça vinda do mar.

Em poucos anos, Tomé de Souza construiu uma série de casarões e sobrados, na parte superior dessa muralha, todas inspiradas, evidentemente, na arquitetura barroca portuguesa e erguidos com mão de obra escrava negra e indígena. Para dar maior proteção à cidade, o Governador Geral limitou o acesso a apenas quatro portões, estes totalmente destruídos durante as tentativas sem sucesso, de dominação da cidade no séc. XVII.

Na verdade, o termo "pelourinho" é o nome dado ao local onde os escravos eram castigados pelos senhores de engenho. O "pelourinho" era construído nos engenhos, afastado da cidade. A fim de demonstrar à população sua força e poder, os senhores de engenho resolveram construir um "pelourinho" no centro da cidade, instalando-o no largo central, hoje área localizada em frente a casa de Jorge Amado. A partir daí os escravos eram castigados em praça pública para que todos pudessem assistir tal demonstração de poder. Devido a esse fato o "pelourinho" virou ponto de referência da cidade, dando nome ao antigo centro da cidade, e hoje Centro Histórico de Salvador.

Com o passar dos tempos, o nome Pelourinho se popularizou, tanto na Bahia quanto no Exterior, passando a referir-se a toda a área do conjunto arquitetônico barroco-português compreendida entre o Terreiro de Jesus e a Igreja do Passo.

Durante o séc. XVI e até o início do séc. XX, o Pelourinho foi o bairro da aristocracia soteropolitana, composta de senhores de engenho, políticos, grandes comerciantes e o clero, por isso a forte influência européia na sua arquitetura e o grande número de igrejas num espaço geográfico tão pequeno e, certamente, o mais antigo da cidade.

Foi justamente nessa época que o poder político da cidade concentrava-se nesse local que ainda tem monumentos como a Câmara Municipal, sede da Prefeitura, a Assembléia Legislativa e a sede do Governo do Estado. Porém, hoje em dia, apenas a Câmara e a Prefeitura continuam com suas sedes no Centro Histórico.

Infelizmente, a partir da década de 60, o Pelourinho começou a sofrer um terrível processo de degradação política, social e econômica,pois a cidade sofria um intenso processo de modernização econômica que transformou sensivelmente a sua estrutura ganhando novos centros comerciais e industriais, e novos bairros geográficos.

O Pelourinho foi se tornando um local totalmente abandonando, onde a marginalidade e a prostituição imperavam, junto a monumentos em ruína e desabamentos, ocupados por pessoas exiladas do novo centro da cidade. Esse descaso adiou o reconhecimento do Pelourinho, como patrimônio da humanidade, porém reconhecido pela UNESCO, em 5 de novembro de 1985.

 

domingo, 2 de agosto de 2020

Você sabia disso? - Missa do Galo ? Meia noite ?

Umas das teses para a escolha desse horário é por conta de um hino que remonta o século IV, o qual dizia que Cristo teria nascido a zero hora.

Apesar dessa crença, existem outros mitos relacionados ao evento. Um deles é o que diz o monsenhor José Roberto Rodrigues Devellard, coordenador da Comissão de Arte Sacra da Arquidiocese do Rio. Segundo ele, o horário da missa faz alusão ao fato de Jesus ser o sol para a humanidade. Portanto, tanto o natal como a páscoa seriam celebrados na primeira hora do dia, pois é onde acaba a noite e o universo se prepara para o nascer do sol.

A referência ao animal também tem origem histórica. Segundo o monsenhor, o galo era considerado uma ave sagrada na antiguidade em Roma, pois ele era o primeiro a reverenciar o sol nascente. Portanto, ele estaria louvando a Deus com o seu canto.

Inclusive, nos lembra o devoto, que o galo ainda é mantido por algumas ordens religiosas a fim de exercerem esse papel de lembrar a todos a nascimento de mais um dia permitido por Deus.

Atualmente, por conta da violência em muitas cidades, a missa do galo passou a ser celebrada mais cedo.


A origem do natal é pagã. O dia 25 de dezembro era utilizado para celebrar o Deus do Sol. Com o advento do cristianismo, a comunidade discípula de Jesus adotou a data simbólica para representar o nascimento de Cristo, que na visão dela é o verdadeiro o sol da humanidade. A data tornou-se oficial quando o imperador romano Constantino confirmou-a por meio de um decreto.


Sobre o autor

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Jornalista formada pela Universidade Federal da Paraíba com especialização em Comunicação Empresarial. Passagens pelas redações da BandNews e BandSports, TV Jornal e assessoria de imprensa de órgãos públicos.