sexta-feira, 10 de maio de 2019

Você sabia disso ? - Cotas raciais no Brasil: entenda o que são!

COTAS RACIAIS NO BRASIL: ENTENDA O QUE SÃO!

Muito se fala, principalmente no contexto de ingresso em universidades públicas, sobre as cotas raciais, sociais e de escolas públicas. Em especial, neste texto, o Politize! trará uma explicação sobre o que são as cotas raciais, como e por que surgiram, o histórico e argumentos usados a favor e contra elas. Fique ligado!

Você sabia disso ? - Cotas Raciais - Juliana Bezerra


Juliana Bezerra
Professora de História

Cotas Raciais consiste na prática de reservar uma parte de vagas do ensino público ou de trabalho para indivíduos de um mesmo grupo étnico desfavorecido.

As cotas foram usadas por diversos países a fim de corrigir desigualdades étnicas e socioeconômicas. Da mesma forma, elas fazem parte de políticas afirmativas que visam dar oportunidade as minorias que historicamente sofreram algum prejuízo durante a formação de um Estado.

Esta ação também é chamada de “discriminação positiva”. A expressão une dois termos contraditórios, pois toda discriminação prejudica o indivíduo.

No entanto, o termo é empregado para descrever quando se privilegia um determinado grupo racial, cultural, étnico, com cotas e mecanismos de ascensão social com o objetivo de integrá-lo à sociedade.

Argumentos
A aprovação de cotas raciais provocou - e ainda provoca - um intenso debate na sociedade brasileira. Selecionamos alguns dos argumentos a favor e contra desta questão:

A Favor
O curso universitário é um dos que mais favorece a ascensão social e a maioria dos alunos das universidades brasileiras são estudantes brancos.
O Brasil tem uma dívida histórica com a população negra por conta da escravidão.
Ajuda a promover a diversidade étnica em profissões que são ocupadas tradicionalmente por brancos.
Dá exemplo para que outros jovens negros e indígenas sintam-se motivados para ingressar na universidade.
Como as cotas raciais promovem a convivência entre vários grupos étnicos, isto ajuda a diminuir o racismo.

Contra
Os cotistas roubam a vaga daqueles que não foram contemplados por este sistema.
Muitos não se sentem responsáveis por aquilo que aconteceu no passado.
As cotas dariam mais chances para os negros, pois eles não precisam estudar para passar no Vestibular.
As cotas vão contra a meritocracia e favorecem o racismo, ao invés de suprimi-lo.
O sistema de cotas fará cair a qualidade do ensino superior.
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O sistema de cotas no Brasil surgiu com a Constituição de 1988 que contém uma lei que garantia uma reserva de vagas para pessoas portadoras de deficiências físicas em empresas privadas e públicas.

A partir de então, a sociedade civil passa a demandar que outros grupos marginalizados no Brasil deveriam ter acesso à educação superior através do sistema de cotas.


No final dos anos 90, houve uma mobilização para dar mais condições às pessoas que não conseguiam entrar na universidade por motivos econômicos.

Assim, vários vestibulares populares foram criados por igrejas, associações e entidades civis, a fim de ajudar estudantes das escolas públicas a conseguirem a aprovação.

Um dos exemplos que podemos citar é o "Educafro", dirigido pelo religioso franciscano David Raimundo dos Santos. Surgido em 1990 na Baixada Fluminense (RJ), tem como objetivo auxiliar jovens negros ou de baixa renda a ingressar no ensino superior.

Após intensos debates, em 28 de dezembro de 2000, o estado do Rio de Janeiro aprova a lei que garante uma cota de 45% para estudantes oriundos das escolas públicas nas universidades estaduais do Rio de Janeiro. Foi o primeiro estado da federação a fazê-lo.

A UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) foi a pioneira em adotar este sistema. Segundo dados de 2014 fornecidos pela própria Universidade:

De 2003 a 2012, ingressaram na Uerj, pelo sistema de cotas, 8.759 estudantes. Destes, 4.146 são negros autodeclarados, outros 4.484 usaram o critério de renda, enquanto 129 pelo percentual de portadores de deficiência, índios.


Em agosto de 2012, o governo federal sancionou a Lei nº 12.711/2012, popularmente conhecida como Lei de Cotas. Nesta lei está prevista que 50% das vagas das instituições de ensino superior federal são para estudantes que cursaram o Ensino Médio em escolas públicas.


A primeira adotar o sistema foi a Universidade de Brasília (UNB), em 2004, e os demais estabelecimentos teriam até 2016 para criar seus critérios para as cotas.

A lei federal funciona da seguinte maneira. Tomemos como exemplo uma universidade federal que oferece 32 vagas para o curso de Comunicação Social. Dessas, 16 vagas estarão reservadas para as cotas.

Dentro dessas 16 vagas, 50% - ou seja 8 vagas - deverá ser destinado a alunos que tenham a renda familiar bruta igual ou inferior a um salário mínimo per capita. Também dentro desses 50%, estão reservadas aos alunos que tenham renda superior a um salário mínimo per capita.

As outras 8 vagas, devem estar reservadas a portadores de deficiência física, negros e indígenas (proporcional à população de cada estado).



Cotas raciais vagas

Com este mecanismo, segundo os dados divulgados pelo Ministério de Educação (MEC), o número de negros cursando o ensino superior saltou de 3%, em 1997, para 19,8%, em 2013.

O sistema de cotas está crescendo de acordo com o MEC (Ministério da Educação): em 2013, 50.937 vagas foram preenchidas por negros, e em 2014, o número subiu para 60.731.

Igualmente, em 2013 e 2014, a lei estava sendo cumprida por 128 instituições federais. A maior resistência em aplicá-la provinha do estado de São Paulo, tanto na esfera estadual quanto na federal.


Após uma série de protestos de entidades estudantis, a maior universidade do país teve que adotar o sistema de cotas. Assim, em 2017, a USP (Universidade de São Paulo) anunciou a adoção de cotas no processo seletivo da instituição.

Você sabia disso ? - Projeto de Lei 470/2019

O Projeto extingue as cotas para negros, mas mantém para filhos de policiais civis e militares
No dia 08 de maio de 2019, foi publicado o projeto de lei 470/2019, assinado pelo deputado do Estado do Rio de Janeiro o Sr. Rodrigo Amorim, mais conhecido como aquele que em pleno processo eleitoral no ano passado esteve num palanque quebrando uma placa que fazia referencia a homenagem feita a vereadora Marielle Franco.

O mencionado projeto de lei propõe a extinção do sistema de cotas para o ingresso nas universidades estaduais do Estado do Rio de Janeiro, requerendo, no entanto, que seja mantidas as cotas para alunos da rede pública de ensino, pessoas com deficiência, filhos de policiais civis e militares, bombeiros militares, inspetores de segurança, agentes do DEGASE e administração penitenciária ou incapacitados em razão de suas atribuições.

Bem, considerando as ressalvas da proposta já fica evidente as contradições entre o que diz pretender e o que realmente pretende, porque, vejamos, se não é possível atestar a necessidade de um candidato negro pela cor da sua pele num país racista, qual o critério para atestar a necessidade do filho do policial civil, por exemplo?

Tal proposta apresenta, portanto, justificativa que além de contraditória desconsidera o direito constitucional à igualdade em todas as suas dimensões e evolução de suas concepções, além de ignorar o histórico escravocrata brasileiro.

Além do mais, se apega a teses que foram amplamente debatidas pela Suprema Corte  no âmbito do controle judicial e que foram vencidas por unanimidade.

No entanto, o mencionado projeto de lei retrata exatamente aquilo que há anos vem sendo demonstrado por renomados pesquisadores que é o fato do sujeito que se sente universal olhar para o mundo ao redor a partir de uma perspectiva simplista, medíocre, pois desconsidera processos históricos que moldaram a sociedade desigual atual.

Não é possível desconsiderar que a sociedade em que vivemos hoje é racista. Aliás, se o racismo fosse apenas uma ficção não seria criminalizado. Se consta em lei, inclusive como crime inafiançável, é porque existe, não é um mito. Até porque, o direito serve, entre outras coisas, para administrar os conflitos identificados numa sociedade e a discriminação racial é um desses conflitos e é grave.

O projeto de lei segue em sua justificativa levantando o princípio do mérito, e como proposto, sendo exigido tão somente aos negros e negras , sujeitos historicamente subalternizados, mas dispensado aos filhos de policiais civis, por exemplo.

Para além do apontamento da mencionada contradição, vamos aqui aprofundar apenas um pouco a questão da meritocracia. Como suscitar o princípio do Mérito sem considerar que pessoas negras além de em regra não terem a garantia da igualdade de oportunidade, possuem muito menos a garantia da igualdade de resultado, já que são negativamente discriminadas pela cor, pelo fenótipo, pela textura dos cabelos?

Dessa forma, é um grande equívoco tratar a cota racial como mecanismo de discriminação para justificar que deva ser extinta, inclusive abordando o tema discriminação de forma tão simplista, desconsiderando a modalidade da discriminação positiva, que existe exatamente para combater a discriminação negativa, que mesmo criminalizada não conseguiu ainda fazer com que indivíduos parem de discriminar pessoas negras nesse país. Nesse sentido o professor Adilson Moreira esclarece que

(…) podemos dizer que ações afirmativas não são políticas discriminatórias contra brancos porque as instituições estatais não pretendem promover a marginalização dessas pessoas, elas também não estão agindo a partir de estereótipos culturais negativos que os representam como sujeitos inferiores

Portanto, quem coloca brancos contra negros são aqueles que pretendem induzir as pessoas a erro de interpretação a respeito do espírito das cotas raciais, não as cotas raciais.

O que afronta a meritocracia é manter pessoas em situação de desigualdade sendo colocadas para competir como se estivessem em situação de igualdade. E aqui estamos falando de igualdade material, concreta, não aquela igualdade abstrata a que se apegam os defensores da tese de que “somos todos iguais”.

Inclusive, a narrativa de que somos todos iguais precisa ser combatida. Somos todos diferentes e devemos ser tratados de forma desigual na medida de nossas desigualdades. Então, se negros são discriminados e estão em situação de desvantagem social, devem ser, sim, criadas políticas públicas que garantam que pessoas negras tenham acesso a espaços que a elas foram historicamente negados, como é  o caso das universidades.

Não é sequer mais aceitável acreditar no mito da democracia racial nesse país.


As cotas raciais precisam, sim, ser mantidas como cotas r-a-c-i-a-i-s.

Precisamos dar nomes para os problemas para que possamos solucioná-los. Como bem disse a brilhante filósofa Djamila Ribeiro:

Melhorar o índice de desenvolvimento humano dos grupos vulneráveis deveria ser entendido como melhorar o índice de desenvolvimento humano de uma cidade, de um país. E, para tal, é preciso focar nessa realidade, ou como feministas negras afirmam há muito: nomear. Se não são nomeadas sequer serão pensadas melhorias para uma realidade que segue invisível

É preciso, portanto, que existam, sim, as cotas raciais apontando e fazendo lembrar que vivemos num país racista com estrutura racista, que ainda mantém privilégios ancorados nesse racismo que foi suportado por aqueles que foram obrigados a atravessar o Atlântico e por aquelas pessoas negras que hoje aqui vivem.

Um projeto que alega visar extinguir divisão social não pode ser um projeto que pretende extinguir direitos conquistados a tão pouco tempo por grupos historicamente subalternizados, mantidos a margem.

Afirmar que num país racista como o Brasil a cor da pele não prejudica o acesso de pessoas negras a certos espaços? Acreditar que estamos na era da democracia racial em pleno momento de denúncias internacionais a respeito do racismo no Brasil? Não, deputado. Não mesmo.

E sobre a questão das fraudes, por que não lançar mão de mecanismos de combate em vez de atacar política pública tão necessária para o combate das desigualdades sociais e raciais?

Portanto, esse projeto de lei é uma reverência a onda de retrocessos que infelizmente assola o Brasil, mas que acreditamos será duramente combatido e derrubado. Que será enterrado como deve ser tudo aquilo que pretende nos fazer andar para trás.

https://www.cartacapital.com.br/blogs/3a-turma/as-cotas-raciais-do-rio-de-janeiro-na-mira-do-retrocesso/

Você sabia disso ? - Cotas Raciais

As cotas raciais são um modelo de ação afirmativa implantado em alguns países para amenizar desigualdades sociais, econômicas e educacionais entre raças. A primeira vez que essa medida foi tomada data de 1960, nos Estados Unidos, para diminuir a desigualdade socioeconômica entre brancos e negros.

Artigo de Opinião - No limite, lá “nos finalmentes” - César Felício

Bolsonaro e Congresso conversam, com o revólver à mesa

O mais ilustre admirador de Olavo de Carvalho gosta do fio da navalha. Ao assinar o decreto que permite o rearmamento da sociedade, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que foi “no limite da lei”. “Não inventamos nada e nem passamos por cima da lei. O que a lei abriu de oportunidade para nós, fomos lá no limite. Lá nos finalmentes”.

Artigo de Opinião - Mulheres, bagunçai ! - Dorrit Harazim

A vida é mais interessante e indomável. Melhor focarmos nela primeiro

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Editorial - O Globo - Pista para cura da Aids reforça a importância das pesquisas genéticas


Transplante de medula para contaminados por HIV abre novas possibilidades aos pesquisadores

A história da Ciência tem diversos relatos de avanços conseguidos ao acaso. Em certa medida é o que acontece com dois contaminados por HIV, tratados de outras doenças com o transplante de células-tronco de medula e que se viram livres do vírus. A primeira das duas pessoas é o americano Timothy Brown, conhecido nos textos médicos como o “Paciente de Berlim”, que foi submetido ao transplante há 12 anos.

Brown, contaminado por HIV, e depois de se tratar com sucesso durante uma década com retrovirais, contraiu uma leucemia e recebeu o transplante de um doador. Só não se sabia que este tinha uma mutação genética, já detectada em pesquisas, que o tornava imune ao HIV. E assim o “Paciente de Berlim” tornou-se resistente ao vírus.

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Artigo de Opinião - O amor vence os desafios do déficit de atenção

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sexta-feira, 3 de maio de 2019

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REDAÇÃO 12 de novembro de 2018