sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Artigo de Opinião - Para que serve a celebridade ?

James Cameron é uma celebridade. Ganhou o Oscar de melhor diretor com o filme Avatar. Como celebridade veio ao Brasil. Não veio filmar. Foi ao Amazonas. Veio protestar contra a hidroelétrica de Belo Monte. Mobilizou a mídia nacional e internacional. A cada relato contra a construção da hidroelétrica, murmurava “Washington precisa saber disto. Vou avisar a Washington”, conforme relato de pessoas que estavam lá.
James Cameron não é especialista em ecologia, hidroelétricas ou mesmo Amazônia. Sua especialidade é filmes de Hollywood. Nem mesmo é ativista político e ecologista. Nada em sua biografia revela anterior engajamento. Na sua biografia no Google e no Wikipédia nada consta. Como não consta nenhuma sugestão ou protesto sobre o fato de o governo americano não ter assinado o protocolo de Kyoto. Nem se pronuncia sobre o maior desastre econológico mundial, o vazamento provocado pela explosão da plataforma americana de perfuração no Golfo do México.

A internacionalização do mundo



Fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia, durante um debate, nos Estados Unidos. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para uma resposta minha. De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia.
Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Respondi que, como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia é para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da humanidade.

Artigo de Opinião - Leitura e (é) inclusão social

Não é possível que, a essa altura dos conhecimentos, ainda pairem dúvidas sobre a importância da leitura. Ler não é apenas ter uma relação sensual com o livro, namorar sua capa, verificar o seu papel, apreciar a tipologia, olhá-lo de frente, cheirá-lo, senti-lo, ouvir o som das páginas virando, decifra-lo com requinte, ou com volúpia, devorá-lo todinho. Ler é também se atualizar, aprofundar os conhecimentos, deixar a imaginação voar para lugares possíveis e improváveis, argumentar com interlocutores atentos e inteligentes. Apesar disso, a imagem da pessoa que lê é, frequentemente, a de um chato...

Artigo de Opinião - Tem que ter atitude

Por Anna Chaia* 

O que é ser um talento? Quando comecei minha carreira, há mais de 20 anos, isso tinha muito a ver com a bagagem dos jovens candidatos. Ou seja, quando alguém fazia parte de uma das três melhores universidades do Brasil e falava inglês fluentemente, já era considerado um talento. E todo o resto passava a ser um algo a mais. Lembro-me quando participei do programa para trainees da Unilever. Eu ainda não tinha inglês fluente e tampouco havia feito uma das faculdades eleitas, mas tinha algo que continua fundamental nos dias de hoje: o brilho nos olhos.

Artigo de Opinião - O preconceito linguísico deveria ser crime

Basta ser homem, estar em sociedade e estar rodeado de pessoas falantes que a língua - este sistema de comunicação inigualável - emerge. Ela se instaura e toma conta de todos nós, de nossos pensamentos, de nossos desejos e de nossas ações. Falar faz parte do nosso cotidiano, de nossa vida. A troca por meio das formas linguísticas é a nossa dádiva maior, nossa característica básica. É por meio de uma língua que o ser humano se individualiza, em um movimento contínuo de busca de identidade e de distinção. É isso, enfim, que nos torna humanos e nos diferencia de todos os outros animais. 

Livro: A troca de Lygia Bojunga Nunes


LIVRO: - A TROCA

            Para mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena os livros me deram casa e comida.
            Foi assim: eu brincava de construtora, livro era tijolo; em pé, fazia parede; deitado, fazia degrau de escada; inclinado, encostava um no outro e fazia telhado. E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar de morar em livro.
            De casa em casa eu fui descobrindo o mundo ( de tanto olhar pras paredes). Primeiro, olhando desenhos; depois, decifrando palavras.
            Fui crescendo; derrubei telhados com a cabeça. Mas fui pegando intimidade com as palavras. E quanto mais íntimas a gente ficava, menos eu ia me lembrando de consertar o telhado ou de construir novas casas. Só por causa de uma razão: o livro agora alimentava a minha imaginação.
            Todo dia a minha imaginação comia, comia e comia; e de barriga assim toda cheia, me levava para morar no mundo inteiro: iglu, cabana, palácio, arranha - céu, era só escolher e pronto, o livro me dava.
            Foi assim que, devagarinho, me habituei com essa troca tão gostosa que - no meu jeito de ver as coisas - é a troca da própria vida; quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava.
            Mas como a gente tem mania de sempre querer mais, eu cismei um dia de alargar a troca: comecei a fabricar tijolo para - em algum lugar - uma criança juntar com outros, e levantar a casa onde ela vai morar.

NUNES, Lygia Bojunga. Livro: um
encontro com Lygia Bojunga