quarta-feira, 8 de junho de 2016

Charges


Mensagem - Vaso de gerânios - Paulo Coelho

Numa rua cinzenta e triste de um bairro operário de Liverpool, uma mulher colocou um vaso de gerânios na janela. Dois dias depois, sua vizinha da frente por inveja, ou porque notou que os gerânios eram bonitos colocou dois vasos de flores.

Crônicas do Dia - Certas palavras

Certas palavras nos dão a impressão de que voam, ao saírem da boca. "Sílfide", por exemplo. É dizer "Sílfide" e ficar vendo suas evoluções no ar, como as de uma borboleta. Não tem nada a ver com o que a palavra significa. "Sílfide", eu sei, é o feminino de "silfo", o espírito do ar, e quer mesmo dizer uma coisa diáfana, leve, borboleteante. Mas experimente dizer "silfo". Não voou, certo? Ao contrário da sua mulher, "silfo" não voa. Tem o alcance máximo de uma cuspida. "Silfo", zupt, plof. A própria palavra "borboleta" não voa, ou voa mal. Bate as asas, tenta se manter aérea mas choca-se contra a parede. Sempre achei que a palavra mais bonita da língua portuguesa é "sobrancelha". Esta não voa mas paira no ar, como a neblina das manhãs até ser desmanchada pelo sol. Já a terrível palavra "seborréia" escorre pelos cantos da boca e pinga no tapete.

Mensagem - Mulherão

Peça para um homem descrever um mulherão. “Ele imediatamente vai falar no tamanho dos seios, na medida da cintura, no volume dos lábios, nas pernas, bumbum e cor dos olhos. Ou vai dizer que tem de ser loira, 1,80m, siliconada, sorriso colgate. Mulherões, dentro deste conceito, não existem muitas: Veras, Giseles, Malus, Adrianes, Lumas e Brunas. Agora pergunte para uma mulher o que ela considera um mulherão e você vai descobrir que tem uma em cada esquina.
Mulherão é aquela que pega dois ônibus para ir para o trabalho e mais dois para voltar, e quando chega em casa, encontra um tanque lotado de roupa e uma família morta de fome.
Mulherão é aquela que vai de madrugada para a fila garantir matrícula na escola, e aquela aposentada que passa horas em pé na fila do banco para buscar uma pensão de 100 reais mensais.
Mulherão é a empresária que administra dezenas de funcionários de segunda à sexta, e uma família todos os dias da semana. Mulherão é aquela que sai do trabalho e vai para a faculdade estudar até às 24 horas para ter uma vida mais digna. Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas, depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com o orçamento.
Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que se maquila, que faz dieta, que malha, que usa salto alto, meia-calça, ajeita o cabelo e se perfuma, mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista. Mulherão é quem leva os filhos para escola, busca os filhos na escola, leva os filhos para natação, balé, leva os filhos para cama,
conta histórias, dá um beijo e apaga a luz.
Mulherão é aquela mãe de adolescente que não dorme enquanto ele não chega, e que de manhã bem cedo já está de pé, esquentando o leite. Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo, é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva, é quem opera pacientes, é quem lava roupa para fora, é quem bota a mesa, cozinha o feijão e à tarde trabalha atrás de um balcão.
Mulherão é quem cria os filhos sozinha, quem dá expediente de 8 horas e enfrenta menopausa, TPM e menstruação. Mulherão é quem arruma os armários, coloca as flores nos vasos, fecha a cortina para o sol não desbotar o sofá e mantém a geladeira cheia.
Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o que cada filho sente e qual o melhor remédio para azia.
Marias, Patrícias, Anas, Luanas, Sheilas,Vitórias: mulheres nota 10 no quesito lindas de morrer, mas mulherão é quem mata um leão por dia para sobreviver.”
Feliz Dia das Mulheres!


Marta Medeiros
Porto Alegre - RS.

Artigo de Opinião - O trem da vergonha nos Três Poderes - Ruth de Aquino

Numa edição de aniversário como a desta semana de ÉPOCA, o certo seria abrir uma janela rósea para o futuro. Mas o momento pede algo além: que se renove totalmente o ar. Vamos apelar aos jovens de 18 anos por uma refundação da República. Porque não é só minha a vergonha indignada com mais esse trem da alegria nos Três Poderes, encaminhado pela presidente afastada Dilma Rousseff e aprovado com salvas de palmas pelo presidente interino Michel Temer.

Artigo de Opinião - Indigência moral e o caos administrativo de Temer


Temer montou um ministério branco, misógino, machista, incompetente e cujos expoentes não passariam em um teste básico de consulta à folha corrida policial

Artigo de Opinião - Tempo de Intolerância

A caça as bruxas já começou, e aqueles que pensam diferente que se acautelem

O DIA
Rio - O planeta está andando na contramão. Os estudantes ocupam as escolas e a polícia os expulsam. Mais da metade da população é de mulheres, e nenhuma representação feminina no primeiro escalão do governo interino. O Brasil precisa de educação e cultura para seu desenvolvimento civilizatório, e o governo provisório, sob a tutela do Judiciário, tenta extinguir o Ministério da Cultura — no que teve de recuar.

Artigo de Opinião - A Educação contra a cultura da violência

Dados mostram que 11 jovens foram estupradas no Rio no mesmo dia em que a adolescente da Praça Seca foi violentada

O DIA
Rio - Estatísticas sobre crimes contra mulheres no Brasil comprovam o absurdo de realidade que precisa ser enfrentada. Entre 2009 e 2012, registros de estupro subiram 157 %. Dados agora levantados informam que 11 jovens, no Rio, foram estupradas no mesmo dia em que a adolescente da Praça Seca foi enganada, dopada, violentada e exposta com depreciação nas redes sociais. Tal violência contra a mulher caracteriza a cultura do estupro, que se manifesta na forma de cantadas de rua, assédios verbais e físicos, mas também se revela através de filmes, propagandas, novelas, piadas. Faz necessário analisar esses fatos no contexto da família.

Personalidades - ‘O negro, o gay e a mulher são minhas bandeiras’, diz Elza Soares


O nome dela é agora. Aos 85 anos, Elza Soares, segue como uma das artistas mais vanguardistas da música brasileira. “Eu gosto do novo, como sempre digo e repito: my name is now. Fiquei louca quando soube que seria um trabalho totalmente de musicas inéditas com uma juventude atual e que admiro, isto sim, me deixa louca. O Kastrup me trouxe a proposta eu adorei, são minhas bandeiras, o negro, o gay e a mulher, na hora comprei a ideia”, afirma a diva em entrevista exclusiva ao Virgula.

Artigo de Opinião - Quem teme os professores ?


Jorge Rubem Folena de Oliveira
Advogado constitucionalista e doutor em ciência política



Tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 867, de 2015, de autoria do Deputado Izalci Lucas Ferreira, do PSDB/DF (do mesmo partido do “professor” sociólogo Fernando Henrique Cardoso), que pretende introduzir o “Programa Escola sem Partido”, que tem por objetivo claro emparedar a categoria dos professores brasileiros, uma vez que visa proibir, “em sala de aula, a prática de doutrinação política e ideológica, bem como a veiculação ou a realização de atividades que possam estar em conflito com as convicções religiosas ou morais dos pais ou responsáveis pelos estudantes.” 
O projeto de lei, numa tentativa de se demonstrar avançado e de acordo com os princípios liberais, procura estabelecer que a educação nacional atenderá:
1) à neutralidade política, ideológica e religiosa do Estado; 
2) ao pluralismo de ideias no ambiente acadêmico; 
3) à liberdade de aprender, como projeção específica, no campo da educação, da liberdade de consciência; 
4) à liberdade de crença; 
5) ao reconhecimento da vulnerabilidade do educando/estudante como parte mais fraca da relação de aprendizado;
6) à educação e informação do estudante quanto aos direitos compreendidos em sua liberdade de consciência e de crença;
7) ao direito dos pais a que seus filhos recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções.
Como se pode ver, ao contrário do que anuncia, o projeto de lei atenta diretamente contra as liberdades democráticas (artigo 1.o da Constituição), pois tem como objetivo engessar os professores no exercício do seu ofício profissional e constitui um “rosário” de violações aos princípios constitucionais:
1) do exercício da cidadania (artigo 1.o, II);
2) do pluralismo político (artigo 1.o, V);
3) da formação de uma sociedade livre, justa e solidária (artigo 3.o, I);
4) contra a discriminação (artigo 3.o, IV);
5) da não privação de direitos por motivos de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política (artigo 5.o, VIII);
6) da liberdade de expressão da atividade intelectual e científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença (artigo 5.o, IX);
7) do livre exercício do trabalho, ofício ou profissão (artigo 5.o, XIII);
8) do livre aceso à informação (artigo 5.o, XIV);
9) da liberdade de aprender, de ensinar, de pesquisar e de divulgar o pensamento, a arte e o saber (artigo 206, II);
10) do pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas (artigo 206, III);
11) do ensino da História do Brasil, que deverá levar em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro (artigo 242, parágrafo 1.o).
O “medo” dos patrocinadores do projeto de lei é que os professores possam se aproveitar “da audiência cativa dos alunos, com o objetivo de cooptá-los para esta ou aquela corrente política ideológica ou partidária”. É a “confissão” tosca dos que acreditam que os professores detêm este poder absoluto e imaginam, os defensores da iniciativa parlamentar, ser possível despolitizar completamente uma sociedade. 
Na verdade, o medo não é da politização dos estudantes, que é muito positiva para a sociedade, pois nos leva a exigir dos políticos uma atuação como mandatários da vontade popular, impedindo-os de a agir conforme seus interesses privados ou os dos seus financiadores de campanha.
O real objetivo desse malfadado projeto de lei é desmantelar e desmobilizar a forte categoria profissional dos professores (que, inclusive, levaram à derrota de Aécio Neves na última eleição presidencial, quando o magistério mineiro denunciou os seus desmandos na educação no Estado de Minas Gerais) e criminalizá-la, a exemplo do que vem sendo feito com o movimento social nos últimos tempos.
Assim, o projeto de lei é uma agressão direta à categoria dos professores (independentemente de suas origens ideológicas ou religiosas) e, de maneira transversa, visa desconstituir o enunciado de “uma sociedade fraterna, plu
ralista e sem preconceito, fundada na harmonia social”, proposto no preâmbulo da Constituição de 1988.
A atual legislatura – tomada pela força do capital, que norteou com força máxima as últimas eleições – procura acender o ódio entre as classes sociais, no Brasil, e age também para debilitar a defesa da soberania nacional, tanto sob o aspecto material quanto cultural.
A democracia brasileira está sendo testada, diuturnamente, pela atual legislatura, tomada majoritariamente por representantes de segmentos empresariais, rurais, fundamentalistas e moralistas, que se acham no direito de impedir e calar a todos os brasileiros que pensam e agem de forma diferente da sua. 
Em decorrência da infeliz “judicialização”, que revela o fracasso da política, a bola foi novamente transferida para os pés dos ministros do Supremo Tribunal Federal, uma vez que, neste grande teste contra a democracia, já foi aprovada, no Estado de Alagoas, a lei 7.800/2016, que instituiu o “Escola Livre”, cujo conteúdo é semelhante ao do projeto de lei em referência.
Em 30/05/2016, a lei alagoana teve a sua constitucionalidade questionada no Supremo Tribunal Federal pela Confederação Nacional dos Trabalhadores de Ensino, por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.537, cujo é relator o ministro Luís Roberto Barroso.
Por fim, vale lembrar que, entre 1.o de abril de 1964 a dezembro de 1967, o Supremo Tribunal Federal também foi testado pela ditadura militar-civil, que permitiu passivamente a constante mutilação da Constituição de 1946 e, dessa maneira, deram causa ao Ato Institucional número 05, de 13 de dezembro de 1967, diante do qual todos os “escrúpulos de consciência” foram jogados “às favas” pelo “passarinho”, que se foi neste último dia 05/06/2016. Foi este Passarinho que, à frente do Ministério da Educação, deixou de legado aos brasileiros o desmantelamento do sistema público de ensino, em favor da iniciativa privada, a partir da ditadura militar.

Crônicas do Dia - O Funk, o espelho e o reflexo - Artur Xexéo

O proibidão está aí. Machista, homofóbico, promovendo bailes onde traficantes aparecem armados

O recente estupro coletivo que abalou o país trouxe de volta a discussão sobre as letras do funk carioca, mais especificamente do subgênero que ficou conhecido como proibidão. No vídeo postado na internet que acabou denunciando o crime cometido numa comunidade da Zona Oeste carioca, um dos acusados de estupro refere-se a um desses hits de bailes funk dizendo “essa aqui mais de 30 engravidou”.