quarta-feira, 2 de março de 2016

O Gênero Dramático

O Gênero Dramático

               
O gênero dramático se diferencia dos outros principalmente pelo fato de não ser um texto escrito para ser lido, e sim representado. Dessa forma, sua estrutura é também muito singular. Veremos alguns traços importantes a serem observados nesse gênero.
                A primeira questão é que o texto escrito para ser encenado possui duas estruturas, não apenas uma como nos demais. Aqui falamos em estrutura interna e estrutura externa do texto.
                Quanto à estrutura interna do texto, temos a situação inicial, o conflito e o desenlace. 

- Situação inicial: é a apresentação dos personagens e da intriga a ser desenvolvida;
- Conflito: é o desenvolvimento da ação ou interação discursiva por meio de uma sequência de atos até se chegar ao ponto culminante do conflito.
- Desenlace: é o resultado final da interação discursiva entre as forças oponentes do conflito. É o destino final de cada personagem.

                Na estrutura externa do texto dramático, encontramos o ato, que é a grande divisão do texto que decorre num mesmo espaço, e a cena, que é a subdivisão do ato, determinada pelas entradas e saídas das personagens. 
                O gênero dramático é uma arte que consiste, entre outros aspectos, na representação do real através da imitação - de gestos expressões, sentimentos, atitudes e situações, através de linguagem não verbal e linguagem verbal, oral relacionados com um determinado contexto situacional. Para que isso ocorra, é necessária a presença de um locutor (aquele que emite a mensagem), de um interlocutor (ou ouvinte), que recebe a mensagem. E isso é muito claro na representação teatral. Os principais meios utilizados para que essa comunicação aconteça são a linguagem oral, a linguagem escrita e a linguagem não verbal.
                No texto dramático, os procedimentos narrativos extrapolam os limites do alcance literário, para atingirem as dimensões da encenação cênica temos, além do texto em si, que constitui o discurso das personagens, as chamadas indicações cênicas, rubricas, que aparecem sempre entre parênteses e em itálico e indicam quais devem ser as atitudes das personagens, além da entonação, expressão ou gesto que devem ser feitos em cada cena. As rubricas representam a voz do dramaturgo que se dirige aos profissionais de teatro ou, no âmbito textual, ao leitor, assumindo, ele próprio, o papel de narrador, de verdadeiro articulador da ação dramática.
            Quanto às falas das personagens, elas podem ser em forma de: 

- Diálogo: quando o locutor e interlocutor comunicam entre si através de uma interação discursiva baseada em atos de fala, com uma determinada cadeia de referência;
- Monólogo: é uma produção verbal sem a interferência direta do interlocutor, ou com um interlocutor virtual, que na verdade é o próprio locutor; 
- Apartes: quando a personagem faz comentários para o público, que assim passa de ouvinte a interlocutor passivo. 
                Como o texto dramático é escrito para ser representado, temos então uma hibridização das artes. A literatura funde-se com a arte cênica para que o espetáculo aconteça e para que o público se emocione. Dessa forma, alguns aspectos externos à arte literária devem ser considerados. 
Um desses aspectos é o espaço teatral, que é o próprio palco e os cenários nele contidos. O tempo é outra questão importante, já que deve ser breve diante da apresentação que deve acontecer. As personagens são encorporadas pelos atores da peça. A linguagem, por sua vez, é predominantemente verbal e objetiva, predominando os diálogos, podendo aparecer, no entanto, os monólogos e os apartes.


Contos Machadianos - O caso da vara

O CASO DA VARA

Damião fugiu do seminário às onze horas da manhã de uma sexta-feira de agosto. Não sei bem o ano, foi antes de 1850. Passados alguns minutos parou vexado; não contava com o efeito que produzia nos olhos da outra gente aquele seminarista que ia espantado, medroso, fugitivo. Desconhecia as ruas, andava e desandava, finalmente parou. Para onde iria? Para casa, não, lá estava o pai que o devolveria ao seminário, depois de um bom castigo. Não assentara no ponto de refúgio, porque a saída estava determinada para mais tarde; uma circunstância fortuita a apressou. Para onde iria? Lembrou-se do padrinho, João Carneiro, mas o padrinho era um moleirão sem vontade, que por si só não faria coisa útil. Foi ele que o levou ao seminário e o apresentou ao reitor:
Trago-lhe o grande homem que há de ser, disse ele ao reitor.