Publicado em 02/02/2018 por O Globo
A famosa frase de Tom Jobim - "O Brasil não é para principiantes" - nunca esteve tão atual quanto neste ano eleitoral que já começamos a viver. Ainda que governados desde 2002 por uma associação de criminosos, et pour cause, não podemos entregar o poder a neófitos. Seria um desastre. Há uma onda perversa nesse sentido mundo afora, e criminalizar a política e os políticos não é uma atitude saudável ou sábia para sanear a representação e a administração pública desses flibusteiros e saqueadores do Erário.
Veja-se o caso clamoroso dos EUA. Elegeu-se lá um outsider demagogo, apenas porque era notório, e deu no que deu. Um país desgovernado, em franca decadência econômica no ranking dos PIBs mundiais. Já há previsões de que, até 2050, será superado por China e Índia, nessa ordem. Enquanto que nosso país saltará de sétima para quinta posição, apesar dos desmandos e de todas as roubalheiras na política, em invejável processo internacional de correção.
A notoriedade proporcionada pela mera exposição na mídia ou boas ações caridosas de filantropo de programas de auditório podem conquistar votos de incautos, mas a ciência do Estado é bem mais complexa e profissional do que um buquê de boas intenções de neófitos, ainda que bem intencionados. É certo que não se deva eleger políticos envolvidos ou citados em maracutaias, como os que se encontram atualmente no poder há anos. Mas daí a generalizar para todos os políticos e admiradores públicos, há um oceano de ignorância do que seja realmente o papel do eleitor nas democracias.
Longe das fulanizações primárias, procuremos nomes na própria imprensa, na academia ou no exercício mesmo do poder. Há incontáveis gestores públicos, probos e competentes no Brasil, como o atual prefeito de Manaus e ex-líder no Senado no governo FH. Manaus acaba de receber prêmios de exemplo de boa gestão. Arthur Virgílio é um nome íntegro e competente, por exemplo, em que pese ser um político profissional. Outro é o ex presidente do STF e ex-relator do mensalão, Joaquim Barbosa. Negro, lutador, de origem humilde, ascendeu ao mais alto posto do Judiciário brasileiro vindo de concurso público e pós-graduação na Sorbonne. Há outros, muitos outros, ao escrutínio do eleitor. Basta procurar. São dois nomes preparados e experientes, criados na administração pública.
Portanto, achar que soluções mirabolantes como candidatos militares, por exemplo, cuja formação nada tem a ver com a gestão pública, mas com a defesa da nossa integridade territorial ou do inimigo externo, da soberania e da segurança nacional, é um lamentável equívoco.