quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Crônica do Dia - A onda da intolerância

Dona Arlete estava com as mãos na massa, preparando o bolo para o aniversário da bisneta de 15 anos. Foi quando ouviu o comentário de um jornalista sobre uma notícia que a deixou chocada. Um homem assassinado na Bahia por divergências políticas, e o jornalista dizendo que essas coisas acontecem.
Dona Arlete sentou. O homem do rádio continuou noticiando outras coisas. Ela ficou com a imagem paralisada. Dona Arlete viveu a ditadura, chorou o desaparecimento do filho de uma estilista que ela conhecia. Acompanhou mães que imploravam para que os filhos não saíssem às ruas, que não enfrentassem o sistema. Que era perigoso.
Dona Arlete participou de um ou outro comício das "Diretas já", festejou a volta da democracia, votou em partidos diferentes nas eleições, sempre escolhendo quem ela considerava melhor para administrar sua cidade, seu estado ou seu país, livremente. Mas matar alguém por discordar é coisa com que ela não concorda. Depois do susto da notícia e do comentário, ficou com raiva. Como um jornalista vulgariza a morte de alguém? Como? Pensou um pouco. Disse para si mesma que não iria permitir que a raiva a dominasse.
Respirou fundo. Voltou a preparar o bolo. Lembrou do marido, morto há muito tempo. Lembrou do quanto ele temia a intolerância. O marido teve o pai morto na guerra. Fugiu com a mãe. Filho de judeus, ele contava aos filhos como era doloroso imaginar o que o seu pai sofrera, o que o seu povo sofrera. Amava o Brasil por ser uma terra de acolhimentos. Dizia aos amigos que essa terra era abençoada por Deus, não apenas pelo clima, pela água em abundância, mas pelo povo que não era adepto a preconceitos. No Brasil, dizia o marido de Dona Arlete, pode ser dessa ou daquela religião, nascido nesse ou naquele lugar, torcer para um ou outro time, ser dessa ou daquela escola de samba, gostar mais desse ou daquele governante. No Brasil, tudo é paz.

Enquanto mexia a massa para o bolo, os olhos de Dona Arlete teimaram em derramar lágrimas. As lágrimas são um presente do Criador para nos lembrarmos da beleza dos sentimentos. Tem saudades do marido. Tem preocupação com o amanhã.

Filhos, netos, bisnetos. Dona Arlete já viveu muito e, por isso, é agradecida a Deus pelo dom da longevidade. Mas quer viver mais. Diz sempre que, se depender dela, prefere ficar por aqui, embora acredite que há um outro lugar lindo que abraça os que se vão. Deus não nos faria para acabarmos e ponto. É o que ela diz. Mas não tem pressa.

Dona Arlete muda a estação do rádio. Não quer ouvir o jornalista mais. Prefere uma música. Uma música calma para acalmar os seus sentimentos. O bolo vai ficar lindo, a festa também. A bisneta merece.

Enquanto pensa isso, fecha os olhos e reza do seu jeito. Pelo Brasil. Pelos brasileiros. Que uma luz ilumine os que andam encobertos pela raiva. Ela nunca viu nenhum país saindo de crise nenhuma com ódio.

Dona Arlete é uma mulher que ama amar, por isso gosta tanto de viver.

Gabriel Chalita é professor e escritor


Você sabia disso ? - Movimento Antropofágico

O Movimento Antropofágico foi uma corrente de vanguarda que marcou a primeira fase modernista no Brasil.

Liderado por Oswald de Andrade (1890-1954) e Tarsila do Amaral (1886-1973), a finalidade principal era de estruturar uma cultura de caráter nacional.

Características do Movimento

A proposta do movimento era a de assimilar outras culturas, mas não copiar. A marca símbolo do Movimento Antropofágico é o quadro "Abaporu" (1928) de Tarsila do Amaral, o qual foi dado de presente ao marido, Oswald de Andrade.

Movimento Antropofágico

A obra Abaporu é o símbolo do Movimento Antropofágico

A divulgação do movimento era realizado na Revista de Antropofagia, publicada em São Paulo. Já o primeiro número trazia o Manifesto Antropofágico.

Essa revista foi editada em duas fases:

primeira fase: editada entre maio de 1928 e fevereiro de 1929;
segunda fase: editada entre 17 de março a 1º de agosto de 1929.

Manifesto Antropofágico
O Manifesto Antropofágico ou Manifesto Antropófogo, que deu origem ao movimento, foi publicado por Oswald de Andrade em 1º de maio de 1928 na Revista de Antropofagia:

"Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi, or not tupi that is the question. Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago." (trecho do manifesto)


O termo antropofágico foi utilizado como associação ao ato deruminar, assimilar e deglutir. A ideia, portanto, era de transfigurar a cultura, principalmente a europeia, conferindo assim, o caráter nacional.

Note que esse é o período mais radical do Modernismo que também foi influenciado por outros grupos:

Pau-Brasil (1924-1925); Verde-amarelismo ou Escola da Anta (1916-1929);
Manifesto Regionalista (1928-1929).

Influências
A ideia do movimento teve início na Europa, quando Oswald de Andrade assiste ao Manifesto Futurista, do italiano Felippo Tomaso Marinetti.

Oswald estava em Paris quando Marinetti anuncia o compromisso da literatura com a nova civilização técnica, marcada sobretudo, pelo combate o academismo.

Assim, a permanência na Europa influenciou diretamente Oswald no período marcado pela decadência do Parnasianismo e do Simbolismo.

Os ideais modernistas ganham força e juntamente com Menotti del Picchia (1892-1988) e Mário de Andrade (1893-1945) eles passam a escrever para os jornais brasileiros. Apoiados nos ideais do Futurismo, eles rompem com o tradicionalismo e o conservadorismo.

Em resumo, estavam prontos os ingredientes para a Semana de Arte Moderna, que ocorreu em 1922 na cidade de São Paulo. Note que esse evento ofereceu uma nova roupagem para a identidade cultural brasileira e influenciou a arte continuamente.


Curiosidade
Além da literatura, as ideias do movimento antropofágico influenciaram também as artes plásticas. Merecem destaques a pintora Anita Malfatti (1889-1964) e o escultor Victor Brecheret (1894-1955).

Você sabia disso ? - Tropicalismo


O Tropicalismo foi um movimento de ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira entre 1967 e 1968. Seus participantes formaram um grande coletivo, cujos destaques foram os cantores-compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, além das participações da cantora Gal Costa e do cantor-compositor Tom Zé, da banda Mutantes, e do maestro Rogério Duprat. A cantora Nara Leão e os letristas José Carlos Capinan e Torquato Neto completaram o grupo, que teve também o artista gráfico, compositor e poeta Rogério Duarte como um de seus principais mentores intelectuais.

A história do primeiro bloco afro do Brasil contada numa exposição em SP.

Cultura, afirmação e resistência embalam os passos e batuques do Ilê Aiyê, o primeiro bloco afro do Brasil que integra a 42ª Ocupação Itaú Cultural, em São Paulo, inaugurada na última quinta (4).