quarta-feira, 5 de junho de 2019

Você sabia disso ? - Intertextualidade Teatral de Ariano Suassuna e Gil Vicente

Intertextualidade Teatral de Ariano Suassuna e Gil Vicente


As obras Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente e o teatro Auto da Compadecida do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna diferem-se por seu espaçamento temporal entre a publicação de ambos, sendo imprescindível enfatizar de modo comparativo as características dicotômicas e similares entre as duas peças.

O Auto da Barca do Inferno de 1517, faz parte de uma trilogia, juntamente com a Barca do Purgatório e a Barca da Glória, obras de grande reconhecimento na trilha engenhosa de Gil Vicente. Na obra percebe-se a literatura em um contexto social representado pelo riso popular, especificamente de caráter moralizante e alegórico, personificada por tipos sociais, quanto a sua estrutura escrita em linguagem poética, bem rimada e rica em figuras de linguagem.

O tema da peça é religioso, trata do destino das almas após a morte. Ao chegarem à beira de um rio, deparam-se com duas barcas: a primeira conduzirá as almas danadas ao inferno, e a segunda conduzirá os merecedores ao céu.

“O Auto da Compadecida foi escrito com base em romances e histórias populares do Nordeste. Sua encenação deve, portanto, seguir a maior linha de simplicidade, dentro do espírito em que foi concebido e realizado. O cenário (usado na encenação como um picadeiro de circo, numa idéia excelente de Clênio Wanderley, que a peça sugeria) pode apresentar uma entrada de igreja à direita, com uma pequena balaustrada ao fundo, uma vez que o centro do palco representa um desses pátios comuns nas igrejas das vilas do interior… (SUASSUNA, 2005, p. 14)”.

No trecho de João Grilo são perceptíveis traços de uma variante nordestina e religiosa baseada nas características estruturais e rítmicas do cordel:

“Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré! A vaca mansa dá leite, a braba dá quando quer. A mansa dá sossegada, a braba levanta o pé. Já fui barco, fui navio, mas hoje sou escaler. Já fui menino, fui homem, só me falta ser mulher.”

Os elementos presentes no teatro baseiam-se no conceito do moralismo sendo que este é definido como ações que direcionam o comportamento humano na sociedade, para que os indivíduos mantenham seus princípios vinculados a uma ideologia religiosa.