sábado, 13 de fevereiro de 2016

A Semana de 22

A partir do início do século 20, uma série de transformações profundas chachoalhou as estruturas da antiga ordem moral, social e econômica do mundo. O epicentro da mudança foi a Europa. Nasceu uma nova visão de mundo, que a arte reverberou intensamente.
A fábrica prometia prosperidade. O automóvel acelerava a vida. As máquinas, de modo geral, assegurariam mais conforto e felicidade. O futuro havia chegado. Era tempo de se livrar de tudo aquilo que tivesse o gosto azedo de passado. As vanguardas artísticas europeias, como o Futurismo, o Cubismo, o Dadaísmo e o Surrealismo, chegaram em busca do novo, do genuíno, de novas abordagens e linguagens, inaugurando uma fase criativamente efervescente, baseada no princípio da experimentação. Abaixo tudo que fosse para tolher a genuína criatividade, acima de tudo que libertasse e celebrasse os novos tempos.

No Brasil, nas primeiras décadas do século 20, as coisas também já mudavam de figura: as cidades ganhavam importância. A burguesia nascente brasileira se fortalecia. As vanguardas modernistas, portanto, encontram um contexto também propício, por aqui. Os escritores Mário de Andrade e Oswald de Andrade se converteram nos principais incentivadores da busca de uma arte brasileira renovada, que assimilou as mudanças propostas no exterior, mas tivesse forma e conteúdo próprios, concectados com nossas raízes.

A Semana de Arte Moderna de 22, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro , foi o grande marco dessa nova visão e sensibilidade. Mas, afinal, o que queriam esses tais modernistas? Boa parte do público que foi conhecê-los, na Semana de 1922, não gostou de nada do que viu.
Os modernistas defendiam alguns pressupostos para a arte e para a vida. Na literatura, adotaram uma linguagem muito mais coloquial; praticaram o verso livre; elegeram novos temas poéticos, bem prosaicos, do dia a dia; valorizaram e trouxeram a cultura popular para dentro da arte tradicional, refundindo tudo; inauguraram, assim, um novo lirismo.
O nacionalismo também foi importante para os modernistas. Recuperaram, por exemplo, a linha indianista inciada com o Romantismo, mas dela subtraem toda idealização. Querem uma volta radical a certas raízes, de que a antropofagia de Oswald de Andrade foi o melhor exemplo. Absorver o que vem de fora, sim, mas , em seguida, misturá-la com nossas raízes e digeri-la bem, resultando uma arte nacional, a exemplo do que fizeram os índios com o bispo Sardinha - fato transformado em alegoria por Oswald, no Manifesto Antropófago, em 1928.
Mário de Andrade também abordou o conceito de nacionalismo em sua obra mais famosa, Macunaíma, o Herói sem nenhum caráter.