terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Uma proposta de Trabalho - Extra! Formiga dança e cigarra não canta mais

A trágica morte de uma cigarra foi revelada em detalhes pelos alunos do 6º ano da EMEB Suzana Albino França, em Lages, a 225 quilômetros de Florianópolis. Inspirados por reportagens que leram e discutiram nas aulas do professor Carlos Eduardo Canani, eles aceitaram o desafio e elaboraram um jornal com base em fábulas que conheciam. Ao analisar os textos finais (como o que você lê na página abaixo), fica claro que a moçada se apropriou das características do gênero e usou a criatividade para produzir notícias para jornalista nenhum botar defeito. 


A ideia do projeto surgiu depois de diagnósticos que Carlos realizou com a turma ao longo de um bimestre. As produções dos alunos eram bastante primárias e se restringiam ao campo da imaginação. "Eles também desconheciam autores importantes, como Monteiro Lobato, e não apresentavam um repertório relevante de leitura, limitando-se, muitas vezes, às obras pedidas pela escola", conta. O hábito de ler jornais ou assistir a noticiários tampouco fazia parte da rotina.

Carlos, então, elaborou um projeto para aprimorar a interpretação de texto, apresentar novos gêneros à garotada e ensinar as etapas de planejamento, produção e revisão textual. A proposta consistia em escrever notícias retrabalhando o conteúdo de fábulas. "Relacionar diferentes tipos de texto é uma boa estratégia para que os alunos passem a diversificar a estrutura de suas produções", explica Manuela Prado, professora do Colégio Santa Cruz, em São Paulo.

Formiga mata cigarra a cadeiradas

No dia 08 de maio de 2013, na cidade de Lages, serra catarinense, uma cigarra foi brutalmente assassinada a cadeiradas. O crime foi cometido por uma formiga por motivo até agora desconhecido. 

A cigarra era moradora de rua e ganhava a vida cantando na praça da cidade, vivendo de doações das pessoas. Contudo, devido rigoroso inverno serrano, o movimento na praça se reduziu para ver as apresentações da cigarra. Dessa forma, por estar com frio e fome, a cigarra implorou abrigo e comida na porta da formiga. 

Desconfia-se que elas já tinham um desafeto anterior e que a formiga tinha inveja da cigarra cantar tão bem. As duas discutiram e a formiga nervosa matou a cigarra a cadeiradas, deixando seu corpo congelar lá fora. 

Os vizinhos esquilos escutaram os gritos e a discussão e denunciaram o crime à polícia. Rapidamente, os policiais chegaram em prender uma formiga em flagrante. Ela por sua vez, negou a autoria do crime e disse que só fará declarações na presença de um advogado. 

De acordo com as circunstâncias, pode se dizer que a formiga já planejava matar a cigarra há muito tempo. Se condenada a acusada poderá receber pena de até 30 anos de prisão em regime fechado por homicídio qualificado

Adequação: o uso de expressões comuns nos jornais (como "desconfia-se") mostra que a turma se apropriou do gênero.

Atratividade: os alunos se preocuparam em narrar os fatos como se fossem reais, dando credibilidade ao texto.

Versões incrementam a compreensão 

O professor optou por começar pela fábula após identificar ser esse o gênero mais conhecido pelos estudantes. Ele pediu uma pesquisa na biblioteca e a leitura de alguns exemplos em casa, que foram discutidos depois em classe. Carlos fez perguntas como: "Quem são os personagens? O que há de comum em todas essas fábulas?". "São todos animais, têm sentimentos humanos, são histórias curtinhas que têm uma moral", responderam. 

Na aula seguinte, o professor apresentou a fábula A Cigarra e a Formiga e duas adaptações do texto feitas por Monteiro Lobato: A Cigarra e a Formiga Boa e A Cigarra e a Formiga Má. A intenção de Carlos era ampliar o repertório dos alunos e, ao mesmo tempo, levá-los a pensar sobre a reescrita de uma história.

Curto e direto: entendendo o jornal 

A discussão foi o gancho para começar a segunda etapa do projeto. "Assim como Monteiro Lobato fez uma releitura da história original, nós também faremos algo parecido, só que vamos usar outro gênero textual: a notícia", explicou o educador. Em seguida, pediu que as crianças sentassem em roda e distribuiu vários jornais, propondo que identificassem as partes que os compõem: cadernos, notícias, charges etc. 

Feita a primeira análise, Carlos convidou a sala a observar as manchetes e destacou fatores que as caracterizam, como o uso de títulos nominais, a composição curta e a busca pela atenção do leitor. A turma criou manchetes com base em notícias lidas. Em seguida, o educador passou à discussão sobre a escrita, mostrando as duas características principais da notícia: o lead e a pirâmide invertida. Partindo de exemplos reais, explicou que o primeiro parágrafo da narrativa jornalística busca responder "quem", "o que", "quando", "onde", "como" e "por quê", e que o texto parte dos fatos mais importantes para chegar aos de menor relevância. 

Moral da história: leia o lead 

Conhecidos os dois gêneros, os alunos seguiram para o grande desafio: transformar uma fábula em notícia. Para começar, o professor propôs a escrita coletiva de um primeiro texto. Ele foi ao quadro e produziu uma notícia com a participação de todos, baseando-se na famosa história da cigarra e da formiga. Carlos desenhou uma pirâmide e pediu a contribuição dos alunos para encadear os fatos do mais para o menos importante. "O que aconteceu? Onde aconteceu?". "Era preciso imaginar o contexto de um crime, dando dramaticidade ao fato e contando-o como se fosse real", explica o docente. "Ver o professor em ação, pensando, criando, decidindo quais informações vale a pena incluir no texto é uma referência importante para a turma", diz Cláudio Bazzoni, assessor da rede municipal de São Paulo. 

As crianças, então, foram colocadas em duplas para dar início às próprias produções. A sala elegeu como tema a fábula A Cigarra e a Formiga Má. Carlos propôs que escrevessem uma primeira versão da notícia, inspirados nas discussões que tiveram nas etapas anteriores. Em seguida, o educador distribuiu um roteiro de revisão (veja as questões abaixo). A proposta era que os alunos fizessem essa primeira análise sozinhos, atentando para pontos que tinham deixado passar e conferindo se haviam dado conta das especificidades pedidas. Para o educador, essa revisão foi o ponto-chave do projeto e deu condições para que as crianças refletissem sobre o processo de escrita. 

Terminadas as discussões, as duplas escreveram novas versões para o texto. "Nessa fase de produção e revisão, procurei atender todos em suas carteiras para sanar as dúvidas e auxiliá- los", diz Carlos. "Eu tinha um aluno que escrevia quatro ou cinco linhas e parava - não conseguia desenvolver o texto além disso. Ao final, com a ajuda do colega de dupla, ele pôde elaborar todas as partes e apresentou uma notícia bem estruturada." 

Escritos os textos, o educador propôs que preparassem manchetes e ilustrações. O resultado foi uma coletânea de minijornais. Além de esclarecer o propósito comunicativo da notícia, a situação pode ser aproveitada como meio para os alunos escreverem para suportes reais, a exemplo do jornal da escola ou do bairro. 

"Eles passaram a valorizar o planejamento e a revisão do que produzem", avalia Carlos, que acertou ao incluir textos curtos e de fácil compreensão em sua proposta de abordagem de dois gêneros. "As crianças puderam não só identificar suas características como fazer inferências e relacioná-las com outras produções", afirma Manuela.

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A manchete é criativa? Instiga o leitor a ler?
O lead responde às seis perguntas básicas de uma notícia?
As informações mais importantes estão na parte de cima da notícia, seguindo o esquema da pirâmide invertida?
A fábula foi recriada de modo adequado?
Todos os fatos estão narrados de maneira clara e objetiva?
A linguagem da notícia é impessoal?
Há algum erro de ortografia, concordância ou outro elemento que fuja à norma-padrão da língua?
Peça que o colega leia e avalie seu texto.


REVISTA NOVA ESCOLA - LÍNGUA PORTUGUESA - 6º ANO 


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