Todo mundo adora
falar bem da amizade, e com razão . Na essência, amizade é tão rara quanto
possível profunda e redentora. Mas é frágil !!! A amizade é uma ligação que
existe até ser posta á prova e quase sempre não resiste. Parece que é dos amigos
que sempre se exige a perfeição. Amigo é o que não pode errar conosco .
A amizade é a ligação que nasce da
junção e atividade de quatro circunstâncias :
1.
afinidade;
2.
interesse comum;
3.
expectativa ou esperança comum;
4.
razões inconscientes ( necessidades psicológicas ).
O homem precisa
da amizade, mas raramente sabe o que fazer com ela. Observo, ao longo dos anos,
vendo amizades murchar; como se dá o fenômeno de junção ou coincidência dos
quatro pontos acima citados e abaixo desenvolvidos.
Afinidade é uma
adivinhação, um avanço dos mecanismos sub e inconscientes sobre a maneira de
ser do próximo. É uma espécie de adiantamento de salário afetivo, percebido
pelo outro numa fagulha de iluminação. É indispensável para o estabelecimento
da amizade.
A palavra interesse
é tida como maldita, porém não pode faltar quando se trata de amizade. E
interesses os há de toda espécie. Dos nobres aos vis. Interesse comum é
fundamental para o cimento, o fomento e o fermento da amizade.
Expectativa ou
esperança comum é o outro ponto. Quem espera resultados idênticos; quem espera
mudanças, quem vive com outrem uma esperança comum aos dois ( ou muitos ) , ou
desfecho de negócios ou ideais ou propostas culturais ( tanto faz ) ; quem
viaja junto e descobre afinidades; quem participa de movimentos afins; quem
milita em qualquer organização destinada a salva os homens ou os países, vive
maior possibilidade da amizade e esta cresce quando a espera propicia uma
aproximação que muitas vezes a conquista ou a obtenção do almejado nem sempre
mantêm.
Razões
inconscientes ou necessidades psicológicas atendidas intuitivamente pela outra
parte são determinantes profundas da amizade. Buscar no amigo a complementação
de partes fracas ou mal desenvolvidas ( ainda que como tais desconhecidas ) é
afã de todos. Tais razões e necessidades são, sempre, de difícil delimitação
pois envolvem as fantasias mais obscuras de nossa mente. Mas selam amizades.
Basta que uma ou
duas dessas categorias azedem ou infeccionem para que muda a circunstância
determinante da amizade. Esta, até pode durar em nome da recordação do que foi,
porém mesmo dizendo – se, considerando – se e sendo amigas, as pessoas nunca
mais exercerão a amizade da mesma maneira. Haverá o sentimento , a recordação
prazenteira, o reconhecimento das virtudes do outro, mas tudo eco, tudo
passado, embora verdadeiro. O exercício da amizade não se fará
igual. E sem exercício , a amizade é retrato da
época ou saborosa saudade e não uma efetiva prática afetiva !
As pessoas tentam
reter o tempo da amizade supondo que são amigas quando o correto é dizer que
foram amigas sem que isso signifique que são inimigas.
Amizade é
exercício das quatro precondições formadores da circunstância. Mudando a
circunstância, as pessoas mudam , ainda que façam força para se manter amigas.
São , apenas, ecos de amizade já vivida, um cansativo esforço de recordar sua
vigência anterior.
Amizade, mesmo, no sentido
em que a palavra amigo tem um radical de ama, de amor ( radical que lhe dá
sentido oculto ) é aquela capaz de se manter quando muda a circunstância.
Amizade é o afeto que não enfraquece quando os quatro pontos não mais coincidem
. E esta é muito rara. Muito . Mas existe.
Amigo não é quem foi amigo. Amigo é quem está sendo amigo .
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