Deparamos há pouco o massacre de Berlim, seguido da abordagem e morte de seu responsável, em uma operação de rotina dos carabinieri em uma estação de trem próxima a Milão
Rio - A nossa pós-modernidade, tão acelerada, deixa-nos diante da invocação de um possível monopólio do terrorismo. Vivemos, já, esse ineditismo — crescido após a queda das Torres Gêmeas — da quebra de todo reconhecimento da igualdade básica da dita e proclamada “humanidade”, resultando no crescendo da Al-Qaeda e na expansão do Estado Islâmico.
Acumulando-se os atentados, de logo, vem a pergunta de se se trata, sempre, do mesmo grupo extremista ou se já se multiplicam os protestos de diferentes grupos, buscando o seu recado. Deparamos há pouco o massacre de Berlim, seguido da abordagem e morte de seu responsável, em uma operação de rotina dos carabinieri em uma estação de trem próxima a Milão.
As hesitações sobre o propósito do acusado suscitam, também, a emergência de verdadeiras estirpes de terroristas na perquirição, agora, em todo o Oriente Médio, dos antagonismos, se ligado à radicalidade do protesto sufi ou sunita. E levanta-se, na CIA, a possível busca de códigos de identificação dos pretendidos autores das catástrofes.
Como vão os terroristas garantir a sua marca de fábrica, a estabelecer um possível mosaico de diversos antagonistas, ciosos da sua individualidade, diante do último sacrifício? Estaríamos a pique de uma guerra de desmentidos, tanto venham a se multiplicar os clamores por esses distintos atos de abate.
Também se dedica, hoje, a CIA às anatomias desses atos, no clamor pela autenticidade dos lances do Estado Islâmico, a garantir o selo de suas faturas, antecipadamente, reservando-se, tão só, o quando e o onde do morticínio.
Não existe, por outro lado, qualquer aquiescência entre os terrorismos, num condomínio da agressão que permitiria a invocação das frentes múltiplas, numa escala que apenas comece um confronto com a civilização como a conhecemos. Os califados do Estado Islâmico, inclusive, evidenciam, dentro do islamismo, uma radicalidade segregacionista, sem volta.
Cresce, ainda, nestes últimos meses, o voluntariado ocidental para o jihad. E, dentro do seu fanatismo assumido, só começa a se delinear o clamor dramático pela autoria de uma catástrofe assinada.
Candido Mendes é da Academia Brasileira de Letras
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