sábado, 26 de março de 2016

O desafio de ensinar em tempos digitais - José Arnaldo Favaretto*




“E Miguilim mesmo se achava diferente de todos. Dava a mesma idéia de uma vez, em que, muito pequeno, tinha dormido de dia, fora de seu costume. Quando acordou, sentiu o existir do mundo em hora estranha, e perguntou assustado: 
- Uai, Mãe. Hoje já é amanhã?”
Guimarães Rosa

Pois é verdade: hoje já é amanhã! Está aqui o futuro tecnológico que, segundo prevíamos, chegaria, alterando radicalmente a função do educador no processo ensino-aprendizagem.


Estamos diante de uma cena com dois protagonistas - aluno e professor - desempenhando papéis distintos. Ao aluno cabe a construção de significados; por seu turno e a passos largos, o educador passa a desempenhar não mais a função de detentor e transmissor de conhecimentos, mas a de quem faz a intermediação, oportunizando ao aluno a construção de significados.

Cada vez mais, a arte de educar consiste, simplesmente, na arte de gerar oportunidades de aprendizagem. Parafraseando Mário Quintana, “simplesmente, eu disse? Mas como é difícil…”.

Os educadores necessitam de determinadas competências que não desenvolveram durante a formação acadêmica, e das quais não podem prescindir para desempenhar seu ofício. Uma é o domínio pleno das novas tecnologias digitais e a familiaridade com o mundo digital.

A geração que chega às nossas escolas é formada por nativos digitais, que vêem a tecnologia digital como tão natural quanto o ar que respiram. Para eles, lidar com o mundo digital é intuitivo: testam programas, arriscam-se, erram sem medo, exploram novos espaços com desenvoltura. Na outra ponta do espectro estamos nós, imigrantes digitais, por vezes com a sensação de termos caído em um planeta “estranhamente familiar”, mas ocupado por dispositivos, programas e processos que desconhecemos e, por isso, nos amedrontam.

Nossos alunos levam para a escola mais do que o lanche do dia. Seu vasto repertório inclui Facebook, Orkut, Twitter e outras ferramentas do mundo virtual. Não raramente os conceitos que emitimos são questionados por eles, que exibem com convicção os análogos trazidos do Google ou de outros dispositivos de busca. Que educador se dispõe a contraditar seguramente o aluno que apresenta um conceito ou uma definição retirada da Wikipedia?

Ora! Por que não aproveitar a oportunidade? Se deixarmos de ser “depositários do conhecimento do mundo” (o que nunca fomos, mas acreditávamos ser), menos sobrecarregados, podemos nos ocupar do que realmente importa - a interação -, da qual nasce o novo protagonismo do educador, a construção interativa do conhecimento.

Finalmente, ressalto que devemos evitar certas armadilhas. Nossos alunos vêem a relação com a moderna tecnologia digital uma parte integrante e indissociável de suas vidas, em permanente estado de imersão digital. Ipso facto, educadores e estudantes precisam escrever um novo pacto que possa reger a relação com alguns dos componentes mais notórios do mundo digital. Por exemplo: que tal discutir abertamente - o que não significa permitir em qualquer circunstância nem abolir peremptoriamente - o uso dos celulares e de calculadoras em aula? Por que não rever os processos de avaliação, que podem e devem identificar demandas individuais e apontar novos caminhos, em vez de apenas comprovar a ineficácia das estratégias adotadas?

Esre são - ao mesmo tempo - possibilidades e desafios trazidos pelos novos tempos digitais.

http://pdgvirtual.blogspot.com.br/2011/11/o-desafio-de-ensinar-em-tempos-digitais_07.html

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