Virtudes como o cuidado, a compaixão e a generosidade perderam espaço para a crença de que ganhar é a única coisa que importa
04/02/2017
O DIA
Rio - A desigualdade social que provoca violência e revolta: segundo anunciado em Davos, apenas oito pessoas detém capital equivalente à soma do que teria metade da população mundial.
Em meio à crise social e financeira que estamos vivendo, certamente essa questão se agravará, e os mais frágeis serão os mais violentados. Isso já ocorre com os aposentados, os últimos a receber seus proventos, e com os mais pobres, que pagam cada vez mais tributos para sobreviver.
Ao que tudo indica, esse choque entre a democracia liberal e o capitalismo neoliberal trará ainda mais miséria para o mundo, com a preocupação predominante dos governos com as finanças em detrimento do cuidado com o povo.
O noticiário tem sido rico em violência contra as pessoas. Seja em países considerados civilizados, onde negros ainda são majoritariamente presos e assassinados — como na Europa, onde as nações que se serviram do colonialismo selvagem para o enriquecimento de seus tesouros agora fecham as portas para imigrantes que fogem das guerras e do terrorismo.
Ou seja no Brasil, onde pobres têm sido vítimas da ausência de cuidados na saúde e no respeito a seus direitos fundamentais.
As desigualdades continuam a crescer no planeta e tem alimentado rixas e lutas de caráter social, xenofobia, racismo, ultranacionalismo, rivalidades étnicas e religiosas, homofobia e todas as formas de paixões mortais.
Enquanto isso, as razões para esses novos conflitos não estão visando à salvação do planeta nem à recuperação dos valores básicos como a família, a comunidade, a partilha e as relações com amor e simplicidade. Agora, as pessoas estão dando preferência à competição desenfreada por mais dinheiro e por mais bens de consumo.
Virtudes como o cuidado, a compaixão e a generosidade perderam espaço para a crença de que ganhar é a única coisa que importa e de que ganhar — por qualquer meio necessário — é a única coisa certa a se fazer.
A noção de humanismo que surgiu com o iluminismo do sujeito racional capaz de deliberação e escolha está sendo substituída pela do consumidor que se vê despersonalizado pelo poder midiático capaz de conduzir as pessoas a achar certo o que eles, os donos da comunicação, acham certo e errado, segundo o que lhes interessa com fins de aumentar o consumo e o lucro.
É preciso que haja uma urgente reação para promover as necessárias transformações para concretizar o mundo que sonhamos e, para tanto, é preciso investir numa profunda mudança de mentalidade em todos nós, homens e mulheres do século 21.
Temos consciência de que o modelo político-econômico presente é o responsável por essas disparidades alimentadas pela ganância, pelo alto índice de corrupção e pelos interesses privados se sobrepondo ao bem comum.
Siro Darlan é desembargador do TJ e membro da Associação Juízes para a Democracia
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