sexta-feira, 19 de julho de 2019

Artigo de Opinião - Vacinar é a melhor opção

Rio - Uma das premissas para um convívio harmônico em sociedade é o respeito às individualidades e às escolhas e preferências pessoais. Uma sociedade livre é uma sociedade em que o aceite das escolhas individuais e das diferenças ocorre de forma natural, espontânea. Liberdade de expressão, de opinião, religiosa, sexual... e também da decisão de se vacinar ou não. Mas até que ponto essa é apenas uma escolha individual?


A primeira vacina a ser descoberta que se tem notícia foi a antivariólica, no século XVIII. Desde a sua criação, a vacina continua sendo a forma mais eficaz de proteção contra as doenças. Contudo, ela tem encontrado resistência em um determinado grupo da população. É o chamado movimento antivacina, que ignora benefícios e, principalmente, os seus riscos. Agora, esse pode ser um dos fatores enfrentados para a baixa procura da vacina contra a gripe. No estado do Rio, por exemplo, foi preciso ampliar a campanha até o dia 15 de junho para alavancar o número de pessoas imunizadas.

Impulsionado pelas redes sociais, as fake news reforçam o movimento de pessoas que preferem descartar a proteção. Um caminho perigoso que tem contribuído, além de outros fatores, na redução das taxas de cobertura no país, conforme dados do Ministério da Saúde de 2011 a 2016, fazendo ressurgir doenças como sarampo.

Uma vacina é um produto biológico que tem como função estimular o organismo humano a produzir proteção contra determinada doença. Desta forma, ao entramos em contato com um agente causador de doença, já teríamos uma proteção prévia que nos impediria de adoecer. O conceito parece simples, mas todo o processo até que uma vacina chegue ao consumidor final esconde uma complexidade e um rigor que nem sempre percebemos. Vacinas não são produzidas em garagens de fundo de quintal.

São diversas etapas a serem superadas para que tenhamos, ao final, um produto comprovadamente seguro e eficaz. Inúmeros testes pré-clínicos e ensaios clínicos são realizados, com produção de dados robustos, para que uma vacina seja licenciada pelos órgãos regulatórios. No Brasil, mesmo depois de aprovada, durante toda a fase de comercialização, existe um rígido monitoramento de eventos adversos, o que possibilita garantir a segurança do produto e a pronta intervenção das autoridades sanitárias caso necessário.

Considerada uma das maiores descobertas da medicina, a vacina, além da proteção individual, tem uma dimensão coletiva invariavelmente não percebida ou pouco valorizada. Altas coberturas vacinais criam uma barreira contra a circulação de vírus e bactérias imunopreveníveis, protegendo não somente quem se vacina, mas também aqueles que, por motivos diversos, não podem se vacinar.

Dentre os grandes desafios contemporâneos do país na área de saúde pública, a manutenção de altas coberturas vacinais deve ter posição de destaque na agenda do SUS. Isso requer investimento na aquisição de insumos, estruturação da rede de distribuição e conservação de vacinas, assim como na capacitação de profissionais de saúde. Mas requer, sem dúvida alguma, a abertura de um grande debate nacional, que possibilite melhor comunicar e, ao mesmo tempo, entender as razões escondidas atrás do ato de não vacinar. Queremos liberdade com conhecimento e responsabilidade.

Alexandre Chieppe é médico da Secretaria de Estado de Saúde

Jornal O Dia - 28 de maio de 2019 

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