segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Crônicas do Dia - Uma história de Monsueto - Luiz Pimentel

Compôs umas 150 músicas e foi gravado por grandes intérpretes da MPB. Viveu e morou na filosofia, na melhor delas

03/11/2017 
O DIA


Rio - Alma do samba e do espírito carioca, o homenageado desta crônica é o cantor, compositor, instrumentista e figuraça de primeira Monsueto Campos de Menezes (1924-1973), que faria aniversário amanhã. Contam que o autor dos clássicos 'Mora na filosofia' ("Eu vou lhe dar a decisão:/Botei na balança, você não pesou/Botei na peneira, você não passou") e 'A fonte secou' ("Eu não sou água, para me tratares assim/Só na hora da sede é que procuras por mim") foi procurar o humorista, comediante e escritor Chico Anysio, que sempre teve fama de não medir esforços para ajudar os amigos em dificuldades.

"Chico, preciso de ajuda. Estou há um tempão sem gravar nem fazer shows. Numa dureza de dar dó. Veja aí o que você pode fazer por mim."

Logo, logo Chico Anysio criou um personagem para ser interpretado por Monsueto, em seu programa humorístico de televisão. Conseguiu aprovar o personagem junto à direção da emissora e o procurou:

"Agora é só ir lá, Negão, e negociar o salário para a gente começar a gravar" (a babaquice politicamente correta ainda não tinha transformado em crime se chamar um amigo negão de Negão).

Monsueto ficou eufórico:

"E quanto eu peço, Chico? Quanto eu peço de grana?"

Chico Anysio disse que não interferia nas negociações, que ele fosse lá e visse o quanto poderia conseguir. Imediatamente Monsueto fez uma pesquisa junto a vários colegas, ouvindo de todos a "informação" de que a empresa em questão pagava "rios de dinheiro". Já foi falar com o responsável pela parte financeira imbuído desse espírito, quando se deu o seguinte diálogo:

"O senhor está pensando em pedir quanto de salário?", perguntou o executivo.

"Oitocentos!", respondeu Monsueto, na bucha.

Depois de folhear alguns papéis e fazer alguns cálculos, usando uma maquininha, o representante da grana e da empresa informou: "O máximo a que podemos chegar é a vinte."

E o grande Monsueto, sem pestanejar: "Topo!"

O primeiro sucesso de Monsueto como compositor foi 'Me deixa em paz', gravado por Linda Batista. Foi ainda ator de cinema, showman, cômico de televisão e diretor de bateria e harmonia de várias escolas de samba. Compôs umas 150 músicas e foi gravado por grandes intérpretes da MPB. Viveu e morou na filosofia, na melhor delas.

Então, viva ele. E parabéns pelo dia de amanhã, Negão!

Luís Pimentel é jornalista e escritor

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