terça-feira, 12 de abril de 2016

Você sabia disso ?

O Enem não obriga o candidato a intitular a redação, mas é recomendável que ele o faça. Uma redação com título sugere que o autor tem uma visão global do texto. Sendo o resumo dos resumos, o título é uma generalização que dentro do possível unifica as informações. Indica um maior domínio sobre o que foi expresso. No esforço de intitular, o candidato rearticula mentalmente as partes e faz um retrospecto que pode, inclusive, revelar falhas na unidade.


Uma das justificativas para que não se intitule a dissertação argumentativa é que ela é um gênero escolar. Ao contrário de outros gêneros, dirige-se a um examinador (ou examinadores) que está mais interessado em avaliar a consistência dos argumentos e a forma como se articulam para conduzir à conclusão. O fato de ser produzido na escola, contudo, não faz com que a dissertação argumentativa seja diferente de outros textos de opinião (artigos, editoriais, cartas argumentativas). Nela existe uma personalidade autoral, que se evidencia logo a partir do momento em que escolhe uma denominação para "rotular" o que escreveu.

Outra justificativa para não intitular é que o título não representa um componente estrutural. Ele não se insere na estrutura, é certo, mas constitui importante elemento arquitetônico. Quando produzido com inteligência e criatividade, valoriza a redação e "fisga" o leitor. Ao se deparar com o título, o examinador já tem uma primeira noção sobre se o candidato compreendeu o que estava sendo pedido. Títulos genéricos remetem mais ao assunto do que ao tema. Quando não se relacionam com o que está no corpo do texto, mostram que o autor não sabe sobre o que escreveu.

O título pode, como dissemos, consistir num resumo ou destacar algum aspecto que o autor ache importante. Pode sugerir uma atitude, uma reação ao tema enfocado. Num gênero marcado pela objetividade, como é a dissertação argumentativa, ele às vezes aparece sob a forma de imagens, ironias, jogos de palavras, revelando a disposição pessoal. Um de meus alunos deu a um texto sobre a violência urbana o título de Cidades reféns. Outro intitulou uma redação sobre o bullying de Bulindo com os outros. A escolha foi espirituosa e pertinente, sobretudo quando se consideram alguns dos sentidos do verbo "bulir" (caçoar, zombar, molestar etc.).

Como tudo que se liga à produção de textos, dar bons títulos depende de exercício. Algumas dicas podem ajudar: 1) leia e releia o texto com atenção; 2) observe atentamente os tópicos dos parágrafos, nos quais se concentram as ideias principais; 3) faça um resumo mental da conclusão, atento às sugestões nela contidas.

Quanto ao formato, o título aparece geralmente como frase nominal (Antigas mazelas do Brasil; Marcas da violência urbana); mas também pode aparecer como um período (É preciso preservar a vida). Em qualquer dos casos não é necessário pontuá-lo, a não ser que ele constitua uma pergunta retórica (Miséria é mesmo destino?). É recomendável evitar títulos com pontos de exclamação e reticências (Um drama nacional!; Uma difícil espera...). Alguns estudantes usam estes sinais à procura de ênfase ou sutileza, mas terminam comprometendo a objetividade.

Com base na produção de alunos, segue uma lista do que se deve ainda evitar para que o título seja direto e objetivo:
-- afirmações vagas (Algo precisa mudar);
-- gírias e lugares-comuns (Ou vai ou racha; O esporte nacional com tudo em cima);
-- expressões ambíguas (O temor da juventude) - Não se sabe se é o temor que a juventude sente, ou o que ela inspira; 
-- sinais matemáticos e semelhantes (Tecnologia + ecologia = desenvolvimento; Evolução x Educação);
-- uso de ponto e vírgula (Família; a base de nossos valores) - Prefira travessão ou mesmo vírgula (Família - a base de nossos valores; Família, a base de nossos valores); 
-- excesso de palavras (A questão é: progredir sem degradar) - Bastaria: Progredir sem degradar; 
-- truncamento de sintagmas ou orações (Natureza: ameaçada por um erro capital) - Melhor seria: Uma grande ameaça à natureza.

O título é um letreiro, um chamariz. Vale a pena investir nele.

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