terça-feira, 12 de abril de 2016

Crônicas do Dia - Que malandragem é essa ? - Luis Pimentel


O malandro reunia multidão à volta, com a promessa de que ia ‘botar o peru pra dançar’. A ave era ensinada, dizia

O DIA


Rio - Revi há pouco tempo, em nova montagem, ‘A ópera do malandro’, clássico de Chico Buarque (adaptação de ‘A ópera dos três vinténs’, de Bertolt Brecht e Kurt Weill, por sua vez já inspirada em ‘A ópera dos mendigos’, de John Gay), na qual brilham os grandes músicos e atores Moyseis Marques e Alfredo Del-Penho, representantes da geração que fez a Lapa voltar a ser a Lapa no começo deste século. Adoro o texto. Ressuscita histórias que ilustram as páginas do país em sua convivência histórica, desde os descobridores, com malandros de todo calibre, mas que às vezes sucumbe diante de tantas e novas malandragens.

Renego os “malandros federais”, cada vez mais oportunistas, e enalteço o malandrinho de subúrbio, das pequenas e ingênuas jogadas, criadas apenas para sobreviver. É o caso do Genésio, que em tempos idos camelotava nas imediações da Central do Brasil com enorme chapa de alumínio, um aparelho de som e um peru debaixo do braço. O malandro reunia multidão à volta, com a promessa de que ia “botar o peru pra dançar”. Dizia que a ave era ensinada, bastava começar a tocar o disco de sambas na velha eletrola que ele saltitiva animadamente sobre o alumínio. Dava certo. Mal a roda se formava em volta de Genésio, a melodia ecoava na praça, e o peru iniciava o show, levantando uma perninha primeiro, depois outra, ritmo que ia aumentando à medida que a música esquentava. Uma graça que só vendo.

Só que, acreditem, o que esquentava não era a música. Era a chapa de alumínio, estrategicamente colocada sobre um monte de brasas. Com o calor queimando seus pés, o peru não tinha outro jeito senão ficar levantando uma perna após outra, na angustiante e desesperada coreografia. Quando o público descobria, o bom malandro Genésio mudava de praça. Foi visto há pouco tempo numa feira de Duque de Caxias, com o seu bom e velho peru dos pés queimados.

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Países podem ser destruídos de diversas maneiras: por desastres naturais ou provocados, por intempéries, calamidades ou epidemias. Nós, brasileiros, estamos destruindo o nosso por ódio, prepotência, arrogância, má-fé e intolerância à democracia.O malandro reunia multidão à volta, com a promessa de que ia ‘botar o peru pra dançar’. A ave era ensinada, dizia

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