terça-feira, 12 de abril de 2016

Artigo de Opinião - Avançar com mais democracia - Eduardo Alves


É inadmissível um Ministério Público sugerir ou, pior, tentar proibir atos políticos em universidades como fez o de Goiás

O DIA
Rio - As eleições são um dos fatores mais importantes que existem na democracia brasileira. Breve comparação entre os pleitos presidenciais de 1919 e de 2014 nos apresenta pistas importantes para pensar uma história de conquistas. Com população de aproximadamente 30 milhões de brasileiros e 1.766.000 eleitores, foram às urnas, em 1919, 418.000 pessoas. Já nas eleições de 2014 o país contava com população de mais de 202 milhões, entre os quais mais de 141 milhões com direito ao voto e mais de 115 milhões chegaram às urnas.


Esses números representam conquistas. A população entre 1919 e 2014 cresceu 6,8 vezes, mas o contingente de eleitores subiu 80,3 vezes, e o total de votantes saltou 275,4 vezes. Para quem acha que estatísticas são frias, nesses há o calor de muitos movimentos, de muita disputa política por participação e mais democracia. Precisa-se avançar sempre, nos votos e para além do voto: mas o voto foi e é conquista democrática fundamental! 

Hoje, há mais setores sociais votando, todas as classes, todos os gêneros, todas as raças e cores. Todas as regiões brasileiras, cidades inteiras, fazem valer suas opções. E, nesse sentido, é absolutamente correto afirmar que impeachment da presidente, sem o tal “crime de responsabilidade”, é golpe. Não se pode deixar jogar no lixo o voto de mais de 115 milhões de brasileiros e brasileiras que fizeram valer o processo eleitoral; independentemente de quem votou ou não na primeira presidente mulher do Brasil.

Nos dias de hoje movimentos por mais democracia são determinantes em todos os aspectos. Não se pode permitir, por exemplo, que o Judiciário, o mais distante de toda essa história de participação e o mais distante do controle da maioria da população possa ter mais prerrogativas para além de fazer valer a Constituição.

É inadmissível um Ministério Público sugerir ou, pior, tentar proibir atos políticos em universidades como fez o de Goiás. Atos políticos fazem parte de nossa história e ainda bem, pois, foram veículos importantes de manifestação de desejos populares. O Brasil está polarizado, mas em todos os poros, em todas as dimensões, a palavra principal precisa ser a defesa e a ampliação da democracia.

Eduardo Alves é sociólogo e diretor do Observatório de Favelas

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