É notório que quem estuda nas melhores escolas, que por sinal são particulares e caríssimas saem muitos metros à frente de quem estuda nas escolas públicas
25/02/2017
O DIA
Rio - Muitas pessoas são contra as cotas no acesso às universidades públicas. O principal argumento que apresentam é que um país democrático oferece oportunidades iguais para todos. Toda vez que penso nisso, lembro-me de imagem que circula pelas mídias sociais que mostra três meninos de estatura diferentes.
Um bem baixinho, um de estatura média e outro bastante alto. Os três se encontram atrás de uma cerca que limita um campo de futebol onde ocorre uma partida. Apenas o mais alto consegue ver o jogo por cima da cerca por causa de sua estatura. A imagem apresenta duas versões do conceito de igualdade.
Na imagem 1, cada um dos três recebe igualmente um mesmo caixote, o que faz com que o menino de média estatura consiga ver por cima da cerca, e o baixinho continue sem ver nada. Na segunda imagem, o mais baixo recebe dois caixotes, o médio recebe um e o mais alto, que já consegue ver por sobre a cerca não recebe nenhum. Os três, porém, conseguem assistir ao jogo. Diante das imagens, a pergunta: “Qual seu conceito de igualdade?”
A igualdade social que tanto se prega é relativa aos recursos ou aos resultados? Parece-me que igualdade, nesse caso, é todos conseguirem ver por sobre a cerca e, para isso, o mais baixo precisa de mais caixotes. São indiscutíveis os mecanismos históricos e sociais que dificultaram e dificultam a ascensão socioeconômica da população negra no Brasil. Não dá para oferecer um mesmo caixote e “dar com os ombros” afirmando que as condições são iguais para todos.
Da mesma forma, precisamos analisar a situação dos jovens que estudam em escolas públicas. Nessa corrida, é notório que quem estuda nas melhores escolas, que por sinal são particulares e caríssimas saem muitos metros à frente de quem estuda nas escolas públicas que em geral ainda não conseguem promover aprendizagens como deviam.
As desvantagens para os alunos das escolas públicas aumentam na largada dessa corrida quando constatamos que o repertório intelectual, muito maior nas classes média e alta, é uma variável que interfere fortemente no sucesso escolar. É como se alguns saíssem 50 metros à frente dos outros numa corrida de 100 metros. O convite que faço é pensar profundamente sobre qual conceito de igualdade você defende.
Júlio Furtado é professor e escritor
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