sábado, 2 de julho de 2016

Tá na Hora do Poeta - A Carolina - Machado de Assis

O Soneto "A Carolina" foi o último escrito por Machado de Assis. Quando a esposa do escritor morreu, ele, muito triste, escreveu um poema, um verdadeiro réquiem, no qual se despede de Carolina.
O soneto, intitulado "A Carolina", faz parte do livro "Relíquias de Casa Velha", publicado em 1906, e foi o último escrito pelo autor. O também escritor Manuel Bandeira destacou este poema como uma das peças mais comoventes da literatura brasileira, de acordo com o "Almanaque Machado de Assis".

Análise


A Carolina (ausência de crase no título pode indicar distanciamento, pois se houvesse o artigo ‘A’, daria a possibilidade de leitura de proximidade ao que era impossível, uma vez que Carolina estava morta)
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei,(já veio e vai continuar vindo) pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

(O autor faz uso da metonímia: coração, símbolo maior do amor. Deixa o coração – onde está todo o seu mundo com ela)
Pulsa-lhe (lhe = no coração) aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda humana lida, (independente de todo trabalho humano e toda vivência)
Fez a nossa existência apetecida ( fez as pessoas quererem ser como eles; fez a existência ambicionada, cobiçada, desejada)
E num recanto (do coração) pôs um mundo inteiro. (o mundo era deles, e nada mais interessava)

Trago-te flores (metonímia de carinho e amor), - restos arrancados (o que sobrou)
Da terra que nos viu passar unidos (personificação; até os elementos da natureza comungam com esse amor)
E ora mortos (plural, que indica que estão ambos mortos) nos deixa separados (a mesma terra os deixa separados).

Que eu, (anacoluto: quebra do raciocínio e da sequência, indicando que o autor está com um turbilhão de sentimentos e ideias) se tenho nos olhos malferidos (malferidos = feridos mal - não matou literalmente, mas já está morto em sua dor.)
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.

(Os olhos são as janelas da alma e neles estão os pensamentos já terminados, uma vez que são “pensamentos idos e vividos” concluídos e encerrados com a perda da amada. Para o poeta, Carolina representava a vida, com a morte dela, não há mais motivos para viver)

Carolina Augusta Xavier de Novaes e Joaquim Maria Machado de Assis casaram-se no dia 12 de novembro de 1869 e viveram uma plácida e amorosa vida conjugal durante 35 anos. A morte da esposa, em 1904, deixa Machado abatido e queixoso. Em carta a Joaquim Nabuco, datada de 20 de novembro do mesmo ano, escreve, lamentando-se: "Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo."
Em 1906, depois de terem sido publicadas as Poesias completas, o poeta escreve seu mais pessoal e profundamente sofrido poema, um verdadeiro réquiem, intitulado "A Carolina". Talvez, para não demonstrar vestígios de um sentimentalismo piegas, Machado elege uma forma poética que reverencia também, sutilmente, o tom e a textura camonianos. Essa aproximação estilística à linguagem castiça, que renova, mais do que copia, no século XX, o sabor do verso quinhentista, foi observada por J. Mattoso Câmara, no ensaio "Um soneto de Machado de Assis".
Ao lado de conhecidos poemas como "Círculo vicioso" e "A mosca azul", o soneto "A Carolina" é considerado a mais comovente pedra de toque da obra poética de Machado de Assis.
No ano de 2006, comemorou-se o centenário de "A Carolina", publicado pela primeira vez no livro Relíquias de casa velha, soneto que não foi recolhido em algumas edições das poesias completas.
http://criticoseapocalipticos.blogspot.com.br/2012/12/a-carolina.html

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