terça-feira, 12 de julho de 2016

Crônicas do Dia - As lágrimas e o Eduardo Cunha - Artur Xexéo

É tarde demais para o político mostrar que sabe chorar. Ninguém mais tem pena dele


Eduardo Cunha renunciou. E, desde então, comenta-se seu choro contido quando, lendo a carta de despedida, referiu-se à mulher, Cláudia Cruz, e à filha, Danielle. As lágrimas logo foram postas em dúvida. Seriam verdadeiras? Lágrimas de crocodilo, gritavam alguns. Lágrimas de sociopata, retrucavam outros. O principal argumento para pôr em dúvida a legitimidade das lágrimas de Cunha vinha do fato de ele ser sempre definido com um homem frio. Nós mesmos, eleitores de todo o país, vimos como ele se comportava na presidência da mesa da Câmara dos Deputados. Era capaz de ouvir os maiores desaforos sem mover um só músculo da face. Frio, calculista, incapaz de derramar uma lágrima. Ele estaria fingindo chorar para sensibilizar o país. Nós, brasileiros, somos capazes de sentir pena até de Eduardo Cunha.

Eu acredito nas lágrimas de Eduardo Cunha. Imagino que ele tenha tido vontade de chorar quando se deu conta de que não poderia mais oferecer as mordomias a que acostumou sua mulher. Como todo mundo sabe, Cláudia Cruz ficou tão assombrada com a capacidade de ganhar dinheiro do marido que arregalou os olhos. O problema é que nunca mais desarregalou.

No entanto, é tarde demais para Eduardo Cunha mostrar que sabe chorar. Ninguém mais tem pena dele. Eduardo Cunha ensinou o povo brasileiro a ser frio e calculista. A gente deveria ficar feliz com a renúncia, mas aí descobre que foi um acordo com o centrão, para manter o ex-presidente da Câmara como deputado federal. A gente lê mais um pouco e descobre que o próprio presidente Michel Temer participou do acordo. Que, mesmo afastado da presidência pelo Supremo Tribunal Federal, Eduardo Cunha era recebido como se merecesse respeito no Palácio do Jaburu. É pra ter pena de quê?

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O governador em exercício Francisco Dornelles continua dando entrevistas nas quais não diz nada e nas quais, convenientemente, parece não ouvir muito bem o que lhe é perguntado. Mas ele tem conquistado contribuintes que o apoiam. É o caso do leitor João Paes de Carvalho: “Ele realmente não pode responder certas perguntas sem se comprometer com ilegalidades (como desviar recursos que são carimbados pelo Governo Federal?) ou coisas óbvias (O Rio está quebrado, vai ter que compor o caixa para conseguir pagar a folha — é claro que vai ter que parcelar —, mas vai avisar antes para ouvir protestos ou greves do funcionalismo?). Queria ver qualquer um de nós, na idade dele, pegar uma rabuda como essa e conseguir não soçobrar. O Rio deve muito a esse velhinho de olhar perdido, articulação falha e andar cambaleante. Queria ver se não diríamos o ‘vambora, Ademário’, depois de quatro meses enfrentando essas dificuldades.”

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Leio no G1: “Temer divulga vídeo para tranquilizar turistas e atletas sobre Olimpíada.” Agora vai!

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A atriz Tássia Camargo mandou uma nova cartinha para o colunista: “Concordo com você que temos de refundar a República. Não a República da Rede Globo, mas a República de todos os brasileiros”. Não entendi direito o que Tássia quis dizer, mas imagino que ela tenha iniciado a refundação da Rede Globo quando usou o “RJ TV” para divulgar a sua peça “As cadeiras”. É a mídia manipuladora a serviço da boa causa. Ou não.

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Faz sucesso nas redes sociais um trecho da entrevista que a presidente afastada Dilma Rousseff deu ao jornalista Luis Nassif na Rede Brasil. Ninguém viu, foi na Rede Brasil. Mas alguém capturou o momento no qual Dilma mostra total desconhecimento do que seja a nuvem, o arquivo mais seguro de nossos celulares, nossos tablets, nossos laptops. O trecho está fora do contexto, aviso logo, não sei como o assunto chegou na nuvem. Mas não é preciso saber o contexto para perceber a ignorância de Dilma. Reproduzo aqui o trecho: “Pois bem. Inventam uma história fantástica. Que tá na nuvem. É. Tá na nuvem. Sei lá que nuvem. Sabe, eu não entendi muito bem essa história da nuvem. Tô aqui tentando apurar direitinho. Como é que uma coisa pode estar na nuvem? É muito simples estar na nuvem, não tem de provar. Que nuvem? Onde está a prova?”.

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Todo dia vejo uma foto do Parque Olímpico no jornal com a legenda explicando que 99% das obras estão entregues. Nunca vi um 1% demorar tanto para ficar pronto.

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Qualquer morador de uma cidade que sedia uma Olimpíada sabe que o trânsito fica impossível durante os 15 dias de duração dos Jogos. O problema é que, aqui no Rio, o trânsito já está impossível. O que vai acontecer na Olimpíada?

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Perguntar duas vezes não ofende: cadê o Sérgio Cabral?



Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/as-lagrimas-o-eduardo-cunha-19680489#ixzz4EF7ASvUm

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