quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Artigo de Opinião - O que a internet está fazendo com nossos cérebros


A net exige a nossa atenção com uma insistência muito maior do que jamais ousaram a televisão, o rádio ou nosso jornal matinal. Observe um garoto enviando texto a seus amigos ou uma estudante universitária examinando a listagem de novas mensagens e pedidos no seu Facebook ou um empresário rolando os e – mails no seu Black – Berry – ou considere a si mesmo quando você entra com palavras – chaves no campo de busca do Google e começa a seguir uma trilha de links. O que você vê é uma mente consumida por uma mídia. Quando estamos on – line, frequentemente estamos desligados de tudo o mais que está ocorrendo ao nosso redor. O mundo real se afasta enquanto processamos a enxurrada de símbolos e estímulos que é despejada pelos nossos dispositivos.


A interatividade da net também amplia esse efeito. Como muitas vezes estamos usando nossos computadores em um contexto social, para conversar com amigos ou colegas, para criar “perfis” de nós mesmos, para difundir nossos pensamentos através de postagens em blogs ou de atualizações do Facebook, a nossa reputação social está, de um modo ou outro, sempre em jogo, sempre em risco. A autoconsciência resultante – às vezes mesmo o temor – amplifica a intensidade do nosso envolvimento com a mídia. Isso é válido para todos, mas mais particularmente para os jovens, que tendem a ser compulsivos no uso dos seus telefones e computadores para enviar textos ou mensagens instantâneas. Os adolescentes de hoje tipicamente enviam ou recebe uma mensagem a cada minuto durante o seu período de vigília. Como observa o psicoterapeuta Michael Hausauer, os adolescentes e outros jovens adultos têm um “enorme interesse em saber o que está acontecendo nas vidas dos seus pares, somado a uma enorme ansiedade em estar dentro da roda”¹. Se pararem de enviar mensagens, arriscam – se a se tornar invisíveis.
Nosso uso da internet envolve muitos paradoxos, mas aquele que promete ter a maior influência no longo prazo sobre como pensamos é que ela prende a nossa atenção apenas para quebrá – la. Focamos intensivamente na própria mídia, na tela piscante, mas somos distraídos pela rápida oferta de estímulos e mensagens competindo entre si. Quando e onde quer que estejamos conectados, a net nos presenteia com uma apresentação incrivelmente sedutora. Os seres humanos “querem mais informação, mais impressões, mais complexidade”, escreve o neurocientista Torkel Klingberg. Tendemos a “ procurar situações que exigem perfomance concorrente ou situações nas quais somos esmagados por informações.” Se a lenta procissão de palavras através de páginas impressas refreava o nosso anseio de sermos inundados por estímulos mentais, a net é indulgente em relação a ele. Ela nos devolve ao nosso estado natural de desatenção “ de baixo para cima “, enquanto nos apresenta muito mais distrações do que nossos ancestrais jamais tiveram que confrontar.
Nem todas as distrações são ruins. Como a maioria de nós sabe por experiência própria, se nos concentrarmos com intensidade demasiada em um problema difícil, acabamos sempre dando voltas no mesmo lugar. O nosso pensamento se estreita e lutamos para termos ideias novas. Porém, se deixarmos de prestar atenção ao problema por um tempo – se “dormirmos com ele” -, muitas vezes voltamos a ele com uma nova perspectiva e um surto de criatividade. A  pesquisa conduzida por Ap Dijksterhuis, um psicólogo holandês que lidera o Laboratório do Inconsciente da Universidade Radboud, em Nijmegen, indica que tais quebras de atenção dão à nossa mente inconsciente tempo para lidar com o problema, incluindo informações e processos cognitivos não disponíveis para a deliberação consciente. Seus experimentos revelaram que em geral tomamos melhores decisões quando desviamos nossa atenção de um desafio mental difícil por um tempo. Mas o trabalho de Dijksterhuis também mostrou que os nossos processos de pensamento insconsciente não se envolvem com um problema até que o tenhamos definido clara e conscientemente. Se não tivermos em mente um particular objetivo intelectual, escreve Dijksterhuis, “ o pensamento inconsciente não ocorre”.
A desatenção constante que a net encoraja – o estado de ser “distraído da distração pela distração”, para emprestar outra frase de Quatro quartetos de Eliot, - é muito diferente da espécie da distração temporária, proposital, de nossa mente, que refresca nosso pensamento quando estamos buscando uma decisão. A cacofonia de estímulos da net dá um curto-circuito tanto no pensamento consciente como no inconsciente, impedindo que a nossa mente pense profundamente ou criativamente. Nosso cérebro se transforma em simples unidades de processamento de sinais, conduzindo informação para dentro da consciência e depois para fora.
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Nicholas Carr. A geração superficial: O que a internet está fazendo com nossos cérebros. Trad.: Mônica Gagliotti Fortunato Friança. Rio de Janeiro: Agir, 2011. P. 164 – 166. ( Fragmentos ).

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