terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Crônicas do Dia - Palhaço, o que é ?

Em minha infância provinciana, onde sempre que aparecia um circo o mundo se descortinava, o palhaço era só o "ladrão de mulher" e um maluco que fazia palhaçadas para a gente rir. Esses mensageiros nos mostram que eles são também condutores de saúde e de esperança

Por Luís Pimentel Jornalista e escritor


Lá ia eu distraído, lendo o jornal no busão sempre ouvi dizer que é péssimo para a vista ler no ônibus ou em qualquer veículo em movimento, mas não resisto , quando escutei a frase conhecida: "Desculpem interromper a viagem dos senhores, mas trago aqui..."

A voz era um pouco diferente das habituais. Uma mocinha linda, bem novinha, com nariz vermelho de palhaço e maquiagem apropriada, divulgava o trabalho de um grupo pelo qual sempre tive muita simpatia: os Mensageiros da Alegria. Acompanho, de longe, notícias sobre o trabalho que desenvolvem em instituições, clínicas e hospitais, levando descontração, alegria e estímulos que têm ajudado na recuperação de doentes em diversos estágios, sejam eles crianças ou adultos. Já foi dito que o humor é excelente remédio, receita na qual eu acredito.

A menina do busão vendia por três reais uma publicação de poucas páginas chamada 'Revista Solidária', na qual eu pude aprender um pouco sobre o belo trabalho desses palhaços maravilhosos, voluntários, solidários e caridosos. O depoimento de um deles é esclarecedor: "Imagine a cena. Um quarto de hospital silencioso. Na cama, uma criança debilitada, com olhar triste. Neste momento, a porta do quarto se abre como num passe de mágica; surgem quatro palhaços, ou eram médicos, não sei. O que sei é que nessa hora, tudo... Aquele ar de tristeza desaparece no ar, e durante alguns minutos aquele quarto sombrio se transforma em um verdadeiro picadeiro... Esses artistas têm o papel, além de ser palhaço, são terapeutas do riso, exploram o mundo à sua volta sem medo de ser ridículos".

Sim. Posso imaginar a cena. É comovente.

A revista nos conta que a Associação Mensageiros da Alegria foi fundada por aqui há mais de duas décadas, inspirada no trabalho pioneiro nesse sentido de um médico norte-americano chamado Hunter Adams, famoso por metodologia própria e inusitada no tratamento a enfermos. A princípio, só os fundadores da instituição tocavam o barco, com o objetivo de criar ações lúdicas em hospitais e clínicas de apoio (especialmente) à criança e ao idoso, levando a eles arte e cultura em forma de teatro, preferencialmente em comunidades carentes.

Com a ampliação dos serviços prestados, graças ao envolvimento cada vez maior de cidadãos interessados em ajudar, o trabalho que começou sem grandes pretensões hoje conta com atores, psicólogos, voluntários e todo o material necessário para fazer o que se dispõe a fazer.

Em minha infância provinciana, onde sempre que aparecia um circo o mundo se descortinava, o palhaço era só o "ladrão de mulher" e um maluco que fazia palhaçadas para a gente rir. Esses mensageiros nos mostram que eles são também condutores de saúde e de esperança.

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