sábado, 22 de abril de 2017

Artigo de Opinião - A corrupção pedagógica - Julia Furtado

O modelo mais tradicional de corrupção pedagógica é o conhecido 'você finge que aprende que eu finjo que ensino'

21/04/2017 
O DIA


Rio - Estamos vivendo tempos de denúncias de corrupção. A sensação é de que levantaram o tapete, e a sujeira que estava embaixo se espalhou pelo ar, causando crise alérgica em todos. A dúvida é se, de fato, todos nós somos ‘alérgicos’ ao que estava embaixo do tapete. Corrupção quer dizer “oferecer algo para se obter vantagens em negociata onde se favorece uma pessoa e se prejudica outra”. Se a corrupção é ativa ou passiva, é apenas questão do lado em que você se encontra. Quem paga para ter vantagens é o ativo, e quem recebe para proporcionar vantagens é o passivo.

Já sabemos que a questão da corrupção é endêmica com fortes raízes culturais, assim como o preconceito. Os dedos apontam na direção do outro, enquanto eu furo filas e ofereço ‘cervejas’ para que deixem passar minhas pequenas infrações. Sofremos também da corrupção invisível (aos nossos olhos, é claro) que sobrevive incólume, como ‘cena cotidiana’. A cultura da corrupção está infiltrada em todos os níveis, inclusive na relação pedagógica que acontece na escola, onde é tão ou mais devastadora do que a corrupção clássica.

O modelo mais tradicional de corrupção pedagógica é o conhecido “você finge que aprende que eu finjo que ensino”. Nesse formato, professores fazem um acordo tácito com os alunos em que a essência é: “vocês colaboram comigo, fingindo que estudam, e eu facilito ao máximo a vida de vocês, dando pontos extras, elaborando provas fáceis e aliviando nos deveres de casa”. Muitas vezes a gestão pedagógica e a gestão da escola estão envolvidas no esquema e fazem vista grossa para essa atitude. Recebem a “não esquentação de cabeça” como propina. O dano maior, como sempre, é do lado mais fraco — os alunos que se envolvem no processo achando que estão lucrando com isso.
Como em toda corrupção, as causas estão na estrutura, nos valores e na cultura da conivência. Atrasos, faltas, aulas arrastadas e desmotivadoras são práticas desse grande esquema que se espalha por grande parte de nossas escolas públicas e privadas. Precisamos urgentemente de uma Lava Jato educacional que exponha os vícios do sistema e denuncie as falcatruas invisíveis que impedem nossas crianças e jovens de aprenderem como merecem.

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