quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Artigo de Opinião - Wadih Damous: A fonte de lágrimas do nosso violento presente

O DIA
Rio - Federico Garcia Lorca é o escritor espanhol mais traduzido no mundo, mas até hoje a Espanha não foi capaz de elucidar o que foi feito com o seu corpo, após ter sido preso e torturado pelo fascismo, aos 38 anos.


À família restou um luto difícil e longo, pois seu desaparecimento tornou-se uma dor sem data para acabar. A Guerra Civil Espanhola foi um momento trágico em que o fascismo torturou e levou à morte milhões de pessoas. 

Mas o desaparecimento forçado, a tortura e o assassinato praticado por agentes do Estado não é prerrogativa dos regimes fascistas de um passado recente. Há poucos dias, em São Paulo, cinco jovens se dirigiam para uma festa quando foram abordados pela Polícia Militar. Foram encontrados mortos em um matagal, com claros sinais de execução. 

Em Brasília, Thiago Soares, de 22 anos, após participar de uma festa à luz do dia, foi abordado e detido pela Polícia Militar enquanto se dirigia para o ponto do ônibus com um amigo.

Após algumas horas em poder dos policiais, foi deixado no hospital com sinais de espancamento e traumatismo craniano. Faleceu duas semanas depois. Testemunha relatou tê-lo visto sendo espancado por 12 policiais numa praça.

O que une as famílias de Lorca, dos jovens de São Paulo, de Thiago e de tantos outros é o desejo sobre a verdade dos fatos. 

Dados do 10º Anuário de Segurança Pública apontam que diariamente ao menos nove pessoas morrem em decorrência de intervenções policiais no Brasil e que a polícia brasileira mata em seis dias o mesmo que a britânica em 25 anos. O extermínio da juventude pobre e negra no Brasil comprova, na prática, a letra da música do grupo O Rappa: “Todo camburão tem um pouco de navio negreiro.”

Lorca foi visto pela última vez nos arredores de Granada, local utilizado pelo fascismo para fuzilamentos de inimigos políticos. Testemunhas indicam que o poeta teria sido morto e enterrado próximo a uma nascente de água que os árabes batizaram de Ainadamar. Em português, fonte de lágrimas.

Wadih Damous é deputado federal pelo PT

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