terça-feira, 13 de setembro de 2016

Nos Tempos de Machado

A época de Machado de Assis


Além da fascinante autobiografia do autor-defunto, Memórias Póstumas pinta um interessante retrato do Rio de Janeiro do final do século XIX. 

Segundo reinado

Machado de Assis nasceu em 1839. No ano seguinte, começava o Segundo Reinado. Depois de ter sua maioridade antecipada, aos 14 anos, D. Pedro II era coroado imperador do Brasil. O Rio de Janeiro era a capital, além de principal centro urbano do País. Com ares cosmopolitas, a classe dominante da cidade tinha ambições de igualar-se às mais bem-educadas sociedades europeias. Durante os mais de 40 anos em que governou o País, o imperador tentaria conciliar os interesses dessa elite.


Cidade maravilhosa

Apesar da aparente pompa da elite, do ponto de vista humano e urbanístico o Rio de Janeiro no qual Machado de Assis viveu dificilmente poderia ser considerado uma cidade "maravilhosa". As ruas estreitas e as vielas sujas sofriam com a falta de iluminação e com a inexistência de rede de esgoto ou de um sistema de abastecimento de água. As casas de tijolo e alvenaria eram raras, e uma grande parte da população era obrigada a procurar moradia em cortiços e favelas, enquanto umas poucas famílias viviam em palacetes elegantes nas ruas de Botafogo e Laranjeiras. Entre os dois extremos – cortiços e palacetes –, uma classe média formada por pequenos assalariados, funcionários públicos, negociantes bem-sucedidos, médicos e integrantes das milícias construía suas casas nos subúrbios, expandindo os limites da cidade.


Crescimento desordenado

Esse crescimento desordenado agravava os problemas de planejamento urbano – ou da falta dele. Os transportes públicos eram raros e ainda funcionavam com tração animal – charretes ou carroças puxadas por um ou dois cavalos, quando não por braços humanos. Foi somente a partir de 1892 que alguns bondes, chamados "elétricos", começaram a circular na cidade, ligando o Flamengo e o Largo da Carioca. A principal atividade econômica, para a maioria da população, era o comércio. Vendia-se de tudo nas calçadas – leite, aves, frutas, legumes, sorvetes, miudezas. Essa imensa feira livre por toda a cidade e a inexistência de uma política de saneamento básico favoreciam o aparecimento de doenças. Febre amarela, varíola, cólera e peste bubônica eram algumas das graves doenças que ameaçavam a população, sobretudo no verão. Por isso, durante os meses mais quentes, as famílias mais ricas trocavam os perigos do Rio pelo ar mais saudável de Petrópolis.


Transformações rápidas

Se Machado de Assis nasceu às vésperas da coroação de D. Pedro, quando morreu o Brasil já não era o mesmo. Em 1888 foi declarada a abolição da escravatura e, no ano seguinte, a proclamação da República. A cidade do Rio também ganhava nova feição, com as medidas sanitárias impostas pelo médico Oswaldo Cruz, já no início do século XX, e obras urbanísticas realizadas pelo prefeito Pereira Passos. Iniciava-se uma nova era para a capital
da República. 

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