sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Artigo de Opinião - A ressaca moral do Carnaval


Nesta época do ano, parece que há acordo coletivo que permite que as pessoas transgridam seus próprios princípios sem se preocupar em serem julgadas


O DIA
Rio - Antes mesmo de o mês de fevereiro pintar, os brasileiros são tomados pela aura carnavalesca que paira pelo ar. Nas prateleiras, gorros e guirlandas cederam lugar a confetes e serpentinas. É chegado o Carnaval, o Réveillon dos foliões. Afinal, para grande parte da população, o ano só começa depois da Quarta-Feira de Cinzas; enquanto o bloco estiver na rua, vale tudo. Mas será que vale mesmo?

Nesta época do ano, parece que há acordo coletivo que permite que as pessoas transgridam seus próprios princípios sem se preocupar em serem julgadas. Como há espécie de condescendência, algumas pessoas aproveitam para viver esses dias de folia como se não houvesse amanhã. E é aí que mora o perigo, pois logo o dia amanhece e a ressaca moral vem tomar o lugar da euforia.

No Carnaval, cresce o consumo de bebida alcoólica e outras drogas. Dado alarmante do 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas aponta que os brasileiros começam a consumir álcool por volta dos 15 anos. O que muitos deles ignoram é que o que começa como atitude normal pode acabar levando para o futuro nebuloso da dependência química.

Para as pessoas que já sofrem desse mal e que estão tentando se manter sóbrias, estes dias de folia são preocupantes. É comum grupos anônimos de mútua ajuda organizarem reuniões extras com o intuito de proteger essas pessoas da onda eufórica que reina no Carnaval. 

De uma forma mais branda, até quem tem uma vida estruturada também se sente atraído pelo consumo exagerado de álcool e outras drogas. É como se recebessem uma carta de alforria, um salvo-conduto. Muitas dessas pessoas confundem liberdade com libertinagem, valendo-se disso para exceder seus próprios limites e valores pessoais.

De acordo com a Operação Lei Seca, a média mensal dos motoristas abordados com sinais de embriaguez ao longo do ano é de 5%. Já no período de Carnaval, a média sobe para 9%. Quantas pessoas tiveram o curso das suas histórias mudado por conta de atitudes impulsivas como essa? 

Envolvimento em brigas, sexo sem critério e sem proteção, gravidez indesejada e acidentes de trânsito são marcas na vida que podem ser evitadas. O Carnaval pede comemoração vibrante, responsável e pacífica, que deixe apenas lembranças boas.

Elizabeth Carneiro é psicóloga e diretora da Espaço Clif

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