sexta-feira, 27 de março de 2020

Artigo de Opinião - Machado de Assis: nasceu pigmeu, morreu gigante

Este ano comemora mais um ano de nascimento do maior e mais completo escritor brasileiro. Tinha tudo para dar errado na vida, mas com talento e disciplina chegou no topo naquilo que fazia com paixão.

Sem patrimônio genético ou material, fez da existência um legado impagável e imensurável. Soube como ninguém identificar as adversidades e, mais do que isto, transpô-las com elegância e realismo.

Sua obra não tem decaída, seus recheios literários não nos trazem indigestão intelectual. Sua regularidade está acima de qualquer lampejo de nossos maiores escritores e seus lampejos distanciarem quilometricamente destes mesmos escritores. Já li muitas obras, salvo por uma única frase ou até mesmo por um parágrafo. Em Machado de Assis sua genialidade faz seus recheios literários nivelar ao topo de nossos maiores escritores.

Analiso apenas o conteúdo, não tenho estatura técnica para analisar o malabarismo em quem faz com língua portuguesa. Era sem duvida nenhuma um escritor diferenciado e singular.

Nasceu desprotegido, mas com avanço de existência, soube se armar e criar uma redoma protetora capaz de defende-lo da marginalidade em que o destino impunha.

Retratou a sociedade carioca de seu tempo como expectador. Era sem duvida naturalista e realista. Fez da literatura um instrumento capaz de identificar macro cosmo do comportamento de seu tempo.



O legado de Machado de Assis na literatura é imensurável, mas sua referência maior é como símbolo de ascensão social.

Mostrou para a sociedade contemporânea do que no mundo atual nada é fato consumado. E que a mutabilidade social é extremamente dinâmica. Ele, que nasceu pigmeu e morreu gigante, nos faz compreender um fenômeno sociológico. O que vemos hoje é uma inversão dos que nasceram gigantes e hoje estão morrendo pigmeus. Estes novos valores são um fenômeno contemporâneo. E Machado de Assis é a síntese do que ascenderam socialmente pelo talento. Hoje o talento é um patrimônio vitalício e o patrimônio material está transformando em miserabilidade devida suas fragmentações entre os próprios familiares. Ao caso de que o patrimônio abstrato é de produção abundante e eterna, contemporizada pela sociedade contemporânea com uma certa idolatria devido a expansão e o domínios da mídias.

Hoje é bem melhor nascer inteligente do que em berço de ouro, pois o conhecimento que o inteligente possuiu do mundo e de si próprio não tem patrimônio material que acoberta.

Machado de Assis é exemplo literário e de vida em que devemos seguir. Ele soube conservar pequeno na grandeza conquistada. Suas obras se transpõem para o mundo moderno com fidelidade da imutabilidade da natureza humana. Em um de seus lampejos dizia que algumas madames da sociedade carioca de sua época “não tinha cultura, mas tinha finura.” Digo eu finura o tinha que nasceu pigmeu e no confronto com a vida conseguiu se esmerar e morreu  gigante.



Juarez Alvarenga – advogado e escritor

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