publicado por Igor José
Utilizando-se do seu lirismo crítico, romântico, e de sua sensibilidade musical, Chico Buarque deixa claro em suas composições que é um apaixonado pelas mulheres, cujo universo, geralmente incompreendido pelos homens, e muitas vezes criticado pela sociedade é uma temática abordada nas muitas músicas compostas por esse profundo conhecedor dos problemas dessa classe que ao mesmo tempo pode despertar sentimentos de amor e ódio.
Se existe alguém que conhece bem a alma feminina, com certeza esse alguém é nada mais, nada menos que Chico Buarque de Hollanda, um dos maiores nomes da música popular brasileira. Compositor, intérprete, poeta, escritor e símbolo sexual aos 68 anos de idade. Filho do historiador Sérgio Buarque de Holanda, iniciou sua carreira como escritor aos 18 anos quando escreveu seu primeiro conto, em 1962. Quando lançou seu primeiro álbum e venceu o Festival de Música Popular Brasileira com a música A Banda em 1966, foi que Chico Buarque ganhou destaque como cantor.
Suas composições se tornaram uma espécie de bandeira que representa as canções de protesto contra o regime militar. Entretanto, mesmo tendo sido reconhecido primeiramente devido à parte de sua obra abordar temas sobre os aspectos da vida política do país, as suas músicas de conteúdo poético relacionado ao universo feminino têm um grande destaque em toda a sua produção literário-musical, levando-o ao que podemos considerar como uma espécie de fusão entre o ‘poeta do social’ e o ‘poeta do feminino’.
As músicas de Chico Buarque revelam as virtudes da mulher valorizadas sob o prisma do homem. Qual homem nunca usou uma de suas canções para tentar conquistar uma mulher? E qual mulher nunca se identificou com o tema de alguma música de Chico? Não é somente ao romantismo de suas composições que se deve a atração e influência que exerce sobre as mulheres, mas por saber decifrar os anseios e as angústias, os medos, os sonhos e os sentimentos mais íntimos do universo feminino em suas letras acompanhadas por melodias que traduzem e dão sentido a essas emoções. Essa valorização da mulher como ser humano por parte de Chico é revelada na grande quantidade de canções que direta ou indiretamente, revelam comportamentos tidos como inaceitáveis por fugirem dos padrões aceitos pela sociedade.
Sendo um dos poucos compositores que ao escrever suas canções, interpreta um eu lírico feminino, Chico Buarque deixa claro seu conhecimento acerca da temática feminina, como observa-se em Com açúcar, com afeto (1966), sua primeira canção com a voz poética feminina, além de muitas outras como A Mais Bonita (1989) e Folhetim (1985), essa gravada por Gal Costa e tida como um hino para as mulheres um dia rejeitadas. Tem também, a mal falada garota do interior em Geni e o Zepelim, ou a devoradora de corações de A Rosa. É perceptível a sensibilidade do poeta-compositor em relação ao sofrimento da mulher e a desvalorização e desrespeito da sociedade. Temática exemplificada na canção Mulheres de Atenas (1976) que faz referência à história das mulheres gregas numa comparação a dominação que os homens exercem sobre as mulheres que passivamente aceitam tal domínio.
São inúmeras canções em que o compositor dá voz a todas as mulheres nas mais variadas situações da vida. A canção Cala a Boca, Bárbara revela a mulher que ao mesmo tempo é amante e parceira de luta. Na música Teresinha (1978), Chico relatada a história de uma mulher que se relaciona com três homens, tendo o coração conquistado pelo único que a viu como mulher, cheia de desejos, e mostrou também o desejo de tê-la.
Segundo Adélia Meneses, estudiosa das canções de Chico e suas representações do feminino, “Chico Buarque sempre foi reconhecido como um dos poetas que mais sensivelmente captam e exprimem o feminino traduzindo-o em palavras e música”. O que parece é que Chico sabe o que o público feminino gosta de ouvir, o que faz da recorrência do tema “mulher” em suas canções, uma agregação coesa entre o valor e a influência que tem na representação desse universo.
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