segunda-feira, 9 de julho de 2018

Artigo de Opinião - Tempos sinistros


O Brasil deixou de ser boa terra e tem negado o pão que mata a fome e o teto que agasalha. Em crises ética, política e econômica, sob recessão e desemprego, o Brasil tem no Rio de Janeiro a sua face mais perversa

Por Ruy Chaves Especialista em Educação


Fui criança no Rio de Janeiro, cidade então realmente maravilhosa, cheia de encantos mil e coração do meu Brasil. Emocionava o hino, abençoada pelo Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara protegendo a todos.

Adolescentes, depois dos bailes e de bares que nunca fechavam, curtíamos o nascer do sol e amores eternos que logo terminavam, trocados por novos amores sempre intensos e eternos. Éramos felizes e sabíamos.

A violência e a criminalidade não estavam o tempo todo em toda parte, nada que o sistema convencional de defesa da sociedade não pudesse vencer. Na escola, que educava para a vida, para a cidadania e para o trabalho produtivo, líamos Olavo Bilac: "Ama com fé e orgulho a terra em que nasceste! Criança, não verás nenhum país como este! A natureza aqui, perpetuamente em festa, é um seio de mãe a transbordar carinhos... Boa terra, jamais negou a quem trabalha o pão que mata a fome, o teto que agasalha. Quem, com o seu suor a fecunda e umedece, vê pago o seu esforço, é feliz e enriquece! Criança, não verás país nenhum como este: imita na grandeza a terra em que nasceste". O Rio era a cor, o cheiro, a síntese da nação orgulhosa.


Tempos sinistros! O Brasil deixou de ser boa terra e tem negado o pão que mata a fome e o teto que agasalha. Em crises ética, política e econômica, sob recessão e desemprego, o Brasil tem no Rio de Janeiro a sua face mais perversa, sob o império da violência, do medo, da corrupção e da falência de autoridades legal e legitimamente instituídas.

Aviltada, a escola ignora o poema de Bilac e sangra por suas fragilidades. Crianças são mortas na escola ou a caminho da escola. Muitas morrerão sem referência familiar e sem a escola em seus projetos de vida. Somos todos vítimas desta guerra insana porque temos falhado na construção da sociedade do bem.

Logo teremos que eleger o Presidente da República e governadores entre candidatos escolhidos por partidos políticos em pactos sinistros, sem razão ideológica, e que em nome da governabilidade distribuirão ministérios e estatais a senadores e a deputados "da base", feudos do século 21.

A Justiça garantirá os supremos interesses da nação? A escola voltará a educar? A intervenção na segurança pública devolverá dignidade ao Estado do Rio? Reage, Brasil! Que criança não verá um país como este? Panta rei.


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