domingo, 15 de julho de 2018

Artigo de Opinião - Caricatura a serviço do atraso

Rio - Em palestra para empresários, Jair Bolsonaro diz com todas as letras que apoia o projeto econômico que está sendo implementado hoje no Brasil. Um projeto que não consegue recolocar a economia nos trilhos nem gerar emprego. O candidato adesista repete que não dá para defender os direitos dos trabalhadores e o emprego ao mesmo tempo, reforçando a cantilena liberal de que o único modo de combater o desemprego é aprovar medidas que prejudiquem os trabalhadores.


O que melhorou no Brasil desde que a Reforma Trabalhista foi aprovada? O que melhorou desde que a economia passou a ser comandada pelos que, como Bolsonaro, acham que os direitos atrasam o país?

Nenhuma dessas relações é verídica, mas também não surpreende que Bolsonaro repita falácias, dado que, na mesma palestra, reconhece que não entende de economia. A consequência dessa visão, propalada por retrógrados que se autointitulam liberais, é que só o emprego informal vem crescendo no Brasil. E muito pouco. Mesmo tendo aprovado uma reforma trabalhista, não conseguimos sair da crise econômica em que nos meteram.


É preocupante que Bolsonaro deixe de ser uma caricatura tosca para começar a ser visto como opção de parte dos empresários do país. Na sabatina da CNI, foi aplaudido várias vezes, especialmente quando falou contra os trabalhadores, dizendo que vai governar com generais e permitir exploração econômica em área de proteção ambiental. Ao invés de manifestar solidariedade ao povo brasileiro, que sofre uma crise de três anos, Bolsonaro afirma que "não queria ser patrão no Brasil", pois essa seria uma condição muito difícil.

Que ninguém se iluda: é a visão racista e machista de Bolsonaro que molda sua proposta para a economia do país. Ele está encarnando o desejo dos que agora eliminam os últimos obstáculos legais para explorar o trabalho dos mais pobres, dos negros e das mulheres.

Machistas têm o hábito de colocar mulheres para trabalhar para eles. Cuidar da casa, dos filhos, até das roupas dos maridos. Bolsonaro acha isso normal. Chega a dizer na sabatina que homens precisam da ajuda de mulheres "para cuidar da casa".

Racistas também já foram acostumados a colocar negros e negras para trabalhar de graça. Ainda hoje isso acontece, em condições que pouco diferem da escravidão. Não espanta que Bolsonaro queira que as pessoas trabalhem ganhando pouco, sem aumento garantido e sem poder recorrer a instrumentos legais, caso seus direitos não sejam respeitados.

Mas o povo brasileiro não é manso, ao contrário do que diz Bolsonaro ao fim da palestra. Basta ajudarmos a propalar aos quatro ventos que as posições autoritárias do candidato não dizem respeito apenas aos costumes. Ele defende uma economia que só consegue enriquecer mais quem já tem renda e meios para reproduzir seus privilégios. O Brasil não é um país pobre. É um país desigual, que não merece ser humilhado por políticos tão atrasados.

A única solução passa por aumentar a renda e os direitos dos mais pobres, daqueles que vivem do seu trabalho. Se você faz parte desses grupos, não vote em Bolsonaro.

Tatiana Roque é professora de Matemática e Filosofia da UFRJ

Nenhum comentário:

Postar um comentário