quinta-feira, 20 de julho de 2017

Artigo de Opinião - Infância e consumo

Surge uma novidade simples, sem grandes apelos tecnológicos, mas com profunda empatia com o público infantil: o ‘hand spinner’, que tem deixado professores em polvorosa

30/06/2017 
O DIA


Rio - Tem sido uma constante: de tempos em tempos aparece uma novidade que vira sensação entre crianças e adolescentes. Pelas ruas, já vimos caçadores irrequietos e distraídos de ‘Pokémon’. O game dos monstrinhos de bolso chegou a ser mais usado que o Twitter, produziu muitos acidentes e trouxe grandes lucros aos seus idealizadores.

Agora surge uma novidade simples, sem grandes apelos tecnológicos, mas com profunda empatia com o público infantil: o ‘hand spinner’, que tem deixado professores em polvorosa. O brinquedo traz um círculo no centro; colocando os dedos nas pontas, com um movimento simples, é possível girá-lo cada vez mais rápido. A adesão foi tão grande que colégios proibiram o seu uso por causa da distração nos alunos.

Percebe-se que o público infantil é alvo de abordagens comerciais não só quando falamos de brinquedos, mas também quando se quer vender planos de saúde, casas, automóveis e outras coisas destinadas ao público adulto. O uso de crianças em estratégias de marketing é frequente. 

Os apelos se tornam mais fáceis e recorrentes, porque temos crianças conectadas 24 horas por dia a diversas mídias a que elas têm acesso e gostam — smartphones, tablets, videogames são alguns exemplos. Trata-se de um exercício diário em que as informações e o conhecimento do mundo estão ao alcance delas, através da internet.

Além disso, muitos pais vivem à disposição dos filhos. Não conseguem dizer ‘não’ a eles, cumprindo o imediatismo dos seus desejos. 

No entanto, somos nós que incentivamos esta geração a usar as novas tecnologias e a presenteamos com dispositivos digitais. Mas estes não ensinam a ninguém a ser imune à indústria que se movimenta nas brincadeiras infantis. É preocupante quando artefatos tecnológicos ou outra coisa qualquer substituem a cumplicidade de uma infância vivida e curtida por pais e filhos. 

A criança é muito vulnerável aos apelos comerciais porque, como escreveu Lya Luft, “contemplando uma mancha na parede, um inseto no capim ou a revelação de uma rosa, ela não está apenas olhando. Está sendo tudo isso em que se concentra”. As impressões não só penetram em sua mente, mas a formam. 

Já é quase um clichê, mas ainda é pertinente indagar como estamos lidando com a infância, diante das relações que se estabelecem na sociedade atual entre ter e ser. 

Eugênio Cunha é professor e jornalista

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