domingo, 30 de abril de 2017

Artigo de Opinião - O quesito Leitura no país do samba



  “A leitura é para a mente o que o exercício é para o corpo.”
Richard Steele
              


               Muitas pessoas nos têm pedido para escrever sobre a leitura, a importância desta e, principalmente, acerca da posição que o Brasil aparece nas pesquisas de analfabetismo e interpretação de textos feitas por órgãos internacionais.
Encaramos, aliás todo educador deveria encarar, com uma dor profunda todas as estatísticas negativas, mas não podemos esquecer que vivemos num país dito “em desenvolvimento”, cujo salário mínimo não ultrapassa os cem dólares mensais.  No Brasil, ou se come ou se lê; ou se paga as contas ou se lê; ou se veste ou se lê... Não dá para competir com as necessidades básicas! Esse é um dos motivos por continuarmos lendo, em média, dois livros por ano.
Lembramos que o genial Monteiro Lobato asseverava que um país se constrói com homens e livros, dessa forma percebemos que existem dois tipos de pessoas: as que lêem e as que não lêem. As primeiras estão mais bem preparadas para a vida, consciência desperta para as lutas do cotidiano, livres, por assim dizer, pois o conhecimento propicia a liberdade de pensar, logo de transformar. Já as segundas estão chafurdadas no lodo das manipulações, passivas frente aos embates da existência, deslocadas para as margens da sociedade.
Num país como a França, em que a média de leitura é de quatorze livros por ano e que foi palco das principais manifestações culturais, índices de analfabetismo, por exemplo, inexistem. Além disso, o país tem uma forte identidade cultural, defendendo com unhas e dentes suas tradições.
Já se tornou um senso comum a afirmação de que em Buenos Aires existem mais livrarias do que em todo território brasileiro. E com um detalhe importantíssimo: as livrarias funcionam 24 horas!
Visto por este ângulo, percebemos, também, que o quesito leitura é um problema cultural. Por um lado, não temos renda suficiente para abarrotar as estantes de livros e, por outro, não temos o costume de ler. Temos, sim, o costume de pegar as idéias emprestadas de outrem, não usar o pensamento e imaginação, além de querer as informações mastigadas e padronizadas como na TV (que tem acesso fácil e barato), sem falarmos que o lazer predileto do brasileiro é a mesa de bar...
É uma pena, porque entendemos a leitura (e, por conseguinte, o conhecimento) como a mola impulsionadora da transformação social e cultural de uma nação. Todo o patrimônio histórico intelectual da humanidade está condensado na escrita (toda a sabedoria religiosa, antropológica, literária, etc.) e acessar essa maravilha só depende de ação, boa vontade e dinheiro no bolso.
No dia em que formos viciados em livros, devorarmos revistas e jornais, ouvirmos boas músicas, participarmos de bons debates, entre outras coisas, iremos sair das últimas posições de analfabetismo, de capacidade de interpretar textos e de sermos “paus mandados...” Afinal, como dizia um escritor, o conhecimento nos traz o poder.

Gustavo Atallah Haun - Professor.

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