sexta-feira, 29 de julho de 2016

Artigo de Opinião - A estratégia perversa da indústria do tabaco


Com a proibição da propaganda nos pontos de venda, a indústria investe pesado nestas artimanhas.

O DIA


Rio - No ano 2000, lei federal proibiu a propaganda de cigarros nos meios de comunicação, como TVs, jornais e rádios. Em 2011, anúncios em pontos de venda foram vetados. A indústria do tabaco, porém, reagiu. E da forma mais perversa possível: atraindo jovens e crianças ao tabagismo com a estratégia de expor seus produtos em meio a doces e chocolates, além de utilizar embalagens coloridas e atraentes. No Brasil, a maioria dos fumantes (80%) dá a primeira tragada antes dos 18 anos. Em média, no mundo, é aos 15 que acontece o primeiro contato com o cigarro — produto que mata dois em cada três usuários.

Para entender como a indústria dribla a proibição da propaganda, a Fundação do Câncer e o Instituto Nacional de Câncer realizaram a Pesquisa Pontos de Venda de Produtos Derivados do Tabaco: Estratégias de Marketing. Em junho e julho de 2015, como ‘clientes ocultos’, visitamos 54 bancas, padarias, postos e bares no Rio e em Teresópolis, além de outras quatro cidades brasileiras.

As conclusões foram estarrecedoras. Como se não bastasse estarem perto de produtos com apelo infantil, os maços também são encontrados junto aos caixas, por onde todo o público passa. São, ainda, organizados em grandes mosaicos nos displays, sem falar em paredes inteiras revestidas com material especial, repetindo as cores da embalagem do produto. Com a proibição da propaganda nos pontos de venda, a indústria investe pesado nestas artimanhas. As advertências de malefícios à saúde ocupam uma face dos maços, mas a outra é trabalhada para chamar a atenção e passar a impressão de que o produto não é nocivo.

Tramitam no Congresso três projetos de lei que determinam a padronização das embalagens de produtos de tabaco, sem quaisquer artifícios gráficos. Leis neste sentido já foram adotadas na Austrália. França, Reino Unido e Canadá deverão seguir o caminho. A medida se faz necessária com urgência no Brasil.
Não é possível que um produto que causa dependência, doença e morte possa continuar direcionando seus esforços livremente a crianças e adolescentes. Afinal, trata-se de público cujas escolhas sofrem grande interferência de estratégias de propaganda que travestem de inofensivos comportamentos de risco, como fumar.

Cristina Perez é psicóloga e consultora da Fundação do Câncer

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