quarta-feira, 29 de junho de 2016

Artigo de Opinião - A Igreja na política

Fazer política não é pecado e pode até ser recomendável. Mas de maneira transparente e sem preconceitos

O DIA
Rio - Hoje só se fala em bancada evangélica, quando o país é majoritariamente católico. No passado, a Igreja liberava os clérigos para a militância política. No Rio, um padre, Olímpio de Melo, não só foi prefeito, como também exerceu forte influência. E os católicos tinham seus deputados e vereadores, como, no Rio, o professor Gladstone Chaves de Melo e Eurípedes Cardoso de Menezes. São Paulo elegeu senador o padre Calazans, e deputado, o padre Godinho, grande orador e escritor. Pernambuco teve o monsenhor Arruda Câmara, um dos mais atuantes do Congresso.


Alguns cardeais se destacaram pela vigilância na defesa de princípios éticos e morais católicos, vetando nomes que defendiam teses ou ideologias combatidas pela Igreja. Um deles foi o cardeal Jaime de Barros Câmara, do Rio, o primeiro a subir nas favelas. Mas Minas teve o arcebispo de Diamantina, D. Sigaud, de presença nacional em seus pronunciamentos; Rio Grande do Sul, D. Vicente Scherrer, que abraçava com fervor a causa democrática. D. Helder Câmara foi militante na Ação Integralista Brasileira, que reunia nomes do catolicismo, como Plínio Salgado (autor do livro ‘A Vida de Cristo’), Alceu de Amoroso Lima e Jackson de Figueiredo. Hoje são poucos os deputados e senadores efetivamente compromissados com a Igreja, como é o caso de Hugo Leal , do Rio, formado em seminário franciscano, Lael Varela e Odair Gama, em Minas. Claro que nada impede alianças com políticos de outras crenças, como têm defendido enfaticamente os três últimos papas, que pregam a união do mundo cristão. 

Essa presença na política teve de positivo o conhecimento do pensamento dos religiosos pelas suas opções partidárias e posições diante do debate nacional. Nada impede que clérigos tenham suas preferências, alertados para correntes ateístas, desde que existem os que formam com marxistas e se dizem católicos.

A população é religiosa por princípio, cristã na maioria, e muitos misturam crenças. Na Constituinte de 1988, houve a tentativa da retirada do nome de Deus da Carta, o que cristãos e judeus impediram. E esta presença sempre será positiva, como foi na Itália, no fim dos anos 1920, quando o Papa Pio XI, com apoio da forte bancada católica, conseguiu do governo o retorno do crucifixo nas salas de aula e o Acordo de Latrão, que criou o Estado do Vaticano.

Fazer política não é pecado e pode até ser recomendável. Mas de maneira transparente e sem preconceitos.

Aristóteles Drummond é jornalista

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