quinta-feira, 19 de maio de 2016

Crônica do Dia - Temer "sê - lo - ia" nosso salvador ? - Ruth de Aquino






Michel Miguel Elias Temer Lulia é, aos 75 anos, o mais velho político a assumir a Presidência do Brasil em 126 anos de República. E casado com a primeira-dama mais nova, mais recatada e mais do lar de que se tem notícia, Marcela, de 32 anos. Tão discreta que nem compareceu à posse do marido. Michel Temer talvez tenha vetado sua presença por ainda ser apenas um presidente “em exercício” – ou porque, na foto com os ministros, só haveria Marcela como mulher no meio de dezenas de engravatados.

Prezado Temer interino, foi uma gafe desnecessária não nomear nenhuma mulher no primeiro escalão. Não que “as mulheres de Dilma” – entre elas as ex-ministras Erenice Guerra e Ideli Salvatti, de triste lembrança e lambança na Casa Civil e nas Relações Institucionais – sejam exemplo para qualquer governo. Ao contrário. Mas, se tivesse um mínimo de astúcia nas questões sociais de gênero, Temer teria escolhido uma ou duas mulheres entre os 23 ministros. Pelo menos, para fingir não ser conservador ao extremo e homem das antigas, que enxerga a mulher apenas como apêndice. Será que ele vai apanhar em casa? Ela é maior que ele.

A gafe mais séria, esta sim problemática para quem diz apoiar incondicionalmente a Lava Jato, foi nomear em seu Ministério investigados por corrupção, recebimento de propinas e desvio de verbas da Petrobras. Eles ganham assim foro privilegiado. Henrique Alves, no Turismo, e Geddel Vieira Lima, na Secretaria de Governo, se livram da mira de Sergio Moro e passam a ser julgados no Supremo Tribunal Federal.

Há outros ministros acusados – e o principal é Romero Jucá, do PMDB, agora ministro do Planejamento. No ano passado, a pedido de Jucá, com o Brasil já em crise, Dilma triplicou o Fundo Partidário para R$ 868 milhões. Segundo a delação premiada da empreiteira Andrade Gutierrez, o senador Edison Lobão falou em nome de Jucá para receber R$ 1 milhão da empreiteira. Jucá nega. A maioria dos políticos do alto escalão tem ensino superior, mas não aprendeu o bê-á-bá: distinguir o público do privado e não prevaricar.

Pelo menos no discurso, tanto Temer quanto seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, têm expressões muito felizes. “Democracia de eficiência” é uma promessa que precisa ser perseguida na era pós-Dilma. Não custa lembrar que Henrique Meirelles sempre foi queridinho de Lula. Foi o fiador da política econômica nos dois mandatos de Lula. Em 2002, foi convidado pelo petista a assumir o Banco Central. Lula insistiu em vão com Dilma para chamá-lo de volta ao governo, no lugar de Guido Mantega ou de Joaquim Levy.

Temer falou muito em “confiança”, uma mercadoria que sumiu com Dilma – e por isso ela foi afastada. Temer reduziu ministérios e prometeu cortar cargos comissionados no governo. Garantiu que não mexerá nos direitos dos trabalhadores. Prometeu um Estado menor, destinado a se ocupar de suas prioridades, como Educação, Saúde e Segurança, e apelou à iniciativa privada para parcerias em tudo aquilo que o Estado não pode fazer. Afirmou que o objetivo das reformas será pagar as aposentadorias e gerar empregos.

Mesmo que a maioria não confie em Temer nem na velha guarda a seu lado, ninguém aguenta mais o país parado, as lojas e indústrias fechando ou demitindo, a inadimplência dos Estados e prefeituras, o caos nas escolas e nos hospitais. Vivemos uma emergência. É difícil crer que Temer consiga ser bem-sucedido.

Meirelles inspira mais confiança que todo o resto do ministério de Temer. E acumula a Fazenda e a Previdência Social. É o homem-chave desse governo que se pretende “de salvação nacional”. Na entrevista ao programa Bom Dia Brasil, Meirelles disse: “Bancos públicos não podem ser instrumento de política, mas de crédito e poupança, são entidades financeiras públicas para financiar consumo e produção”. Se esse princípio se tornar um axioma para os governantes, as pedaladas deixam de existir.

A fronteira entre o público e o privado precisa ser respeitada. Duro é saber como Meirelles e equipe nos salvarão do rombo bilionário deixado por Dilma – cujo tamanho ainda é um mistério devido à contabilidade destrutiva do PT. Meirelles acredita (será?) que a única maneira de fazer isso é “retirando privilégios e não direitos”, “diminuindo a burocracia e mantendo as conquistas sociais”.

Quanto ao discurso de Temer, o país agradece a volta dos plurais, mas, daqui em diante, senhor presidente em exercício, por favor evite as mesóclises. Lembrei de Jânio Quadros quando Temer, entusiasmado com sua promessa de manter direitos adquiridos pelos cidadãos, disse: “Como menos fosse, sê-lo-ia pela minha formação democrática e pela minha formação jurídica”. Pode ser erudito, mas a mim soa pedante. Que tal usar a língua falada e não a língua sebosa? Menos, Temer, menos.

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