quarta-feira, 6 de abril de 2016

Você sabia disso ?

A COESÃO E A ESTRATÉGIA DE PERSUASÃO Profª Marli Silva Cruz

A unidade textual, construída pelos elementos de coesão, quando bem associada aos operadores argumentativos, promove força persuasiva ao texto.



Nesta lista, o estudante encontrará alguns advérbios, conjunções e locuções (modernamente chamados de conectivos, modalizadores e/ou marcadores argumentativos) que só têm valor coesivo e força de argumentação se considerados na situação de uso.

“O advérbio “hoje”, por exemplo, não traz em si nenhuma ideia de referência ou de transição numa frase isolada como “Hoje não choveu”. Mas exerce, visivelmente, função coesiva e argumentativa em um período composto em que se contraponha “hoje” a “ontem”: “Ontem choveu muito, mas hoje não” – em que a ideia de oposição, indicada pela adversativa “mas”, se junta à de referência a um fato passado e evidencia uma tendência argumentativa iniciada na frase.

Em “Realmente, você tem razão”, o advérbio “realmente” mostra de maneira clara a continuação de algo que terá sido anteriormente dito. É, assim, palavra de referência ou transição, de valor discretamente anafórico e de caráter argumentativo de anuência ao que já se disse.

Os exemplos que acompanham alguns itens, a seguir, devem ser lidos com atenção, pois acumulam outras informações sobre o assunto.

a) Prioridade, relevância: em primeiro lugar, antes de mais nada, primeiramente, acima de tudo, precipuamente, mormente, principalmente, primordialmente, sobretudo.

Em primeiro lugar, é preciso deixar bem claro que esta série de exemplos não é completa, principalmente no que diz respeito às locuções adverbiais.

b) Tempo (freqüência, duração, ordem, sucessão, anterioridade, posterioridade, simultaneidade, eventualidade): então, enfim, logo, logo depois, imediatamente, logo após, a princípio, pouco antes, pouco depois, anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, por fim, finalmente, agora, atualmente, hoje, freqüentemente, constantemente, às vezes, eventualmente, por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente, não raro, ao mesmo tempo, simultaneamente, nesse ínterim, nesse meio tempo, enquanto isso – e as conjunções temporais.

Finalmente, é preciso acrescentar que alguns desses exemplos se revelam por vezes um pouco ingênuos. A princípio, nossa intenção era omiti-los para não alongar esse tópico: mas, por fim, nos convencemos de que as ilustrações são freqüentemente mais úteis do que as regrinhas.

c) Semelhança, comparação, conformidade: igualmente, da mesma forma, assim também, do mesmo modo, similarmente, semelhantemente, analogamente, por analogia, de maneira idêntica, de conformidade com, de acordo com, segundo, conforme, sob o mesmo ponto de vista – e as conjunções comparativas.

No exemplo anterior (valor anafórico), o pronome demonstrativo “desses” serve igualmente como partícula de transição: é uma palavra de referência à idéia anteriormente expressa. Da mesma forma, a repetição de “exemplos” ajuda a interligar os dois trechos. Também o adjetivo “anterior” funciona como palavra de referência. “Também” expressa aqui semelhança. No exemplo seguinte (valor catafórico), indica adição.

aditivas (e, nem, não só mas também, etc.);
d) Adição, continuação: além disso, (a)demais, outrossim, ainda mais, ainda por cima, por outro lado, também – e as conjunções

Além das locuções adverbiais indicadas na coluna à esquerda, também as conjunções aditivas, como o nome o indica, “ligam, ajuntando”.

e) Dúvida: talvez, provavelmente, possivelmente, quiçá, quem sabe? É provável, não é certo, se é que;

O leitor ao chegar até aqui – se é que chegou – talvez já tenha adquirido uma idéia da relevância das partículas de transição.

f) Certeza, ênfase: decerto, por certo, certamente, indubitavelmente, inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente, com toda a certeza.

Certamente, o autor destas linhas confia demais na paciência do leitor ou duvida demais do seu senso crítico. A lista acima – estará ele pensando com toda a certeza – inclui advérbios ou locuções adverbiais em que é difícil perceber a idéia de transição. Sem dúvida. É o que parece. Quer a prova, leitor? Qual é a função desse “sem dúvida” se não a de desencadear neste exemplo os argumentos com que defendemos nosso ponto de vista?

Vale a pena lembrar que “certamente”, “com certeza” e até mesmo “sem dúvida”, com muita freqüência insinuam “dúvida” mais do que “certeza”. É uma situação contraditória semelhante à que se verifica em “pois não”, que indica assentimento (apesar do “não”) e “pois sim”, que às vezes expressa negação, negação meio irônica ou desdenhosa. Propositadamente, de propósito, intencionalmente – e as conjunções finais; g) Surpresa, imprevisto: inesperadamente, inopinadamente, de súbito, imprevistamente, surpreendentemente.

h) Ilustração, esclarecimento: por exemplo, isto é, quer dizer, em outras palavras, ou por outra, a saber. Essas partículas, ditas “explicativas”, vêm sempre entre vírgulas, ou entre uma vírgula e dois pontos.

i) Propósito, intenção, finalidade: com o fim de, a fim de, com o propósito de, propositadamente, de propósito, intencionalmente – e as conjunções finais.

j) Lugar, proximidade, distância: perto de, próximo a ou de, junto a ou de, dentro, fora, mais adiante, além, acolá – outros advérbios de lugar, algumas outras preposições, e os pronomes demonstrativos.

k) Resumo, recapitulação, conclusão: em suma, em síntese, em conclusão, enfim, em resumo, portanto, pois (colocado depois do verbo).

Em suma, leitor: as partículas de transição são indispensáveis à coerência entre as idéias e, portanto, à unidade do pensamento.

l) Causa e conseqüência: daí, por conseqüência, por conseguinte, como resultado, por isso, por causa de, em virtude de, assim, de fato, com efeito – e as conjunções causais, conclusivas e explicativas.

m) Contraste, oposição, restrição, ressalva: pelo contrário, em contraste com, salvo, exceto, menos – e as conjunções adversativas e concessivas.

n) Referência em geral: os pronomes demonstrativos “este” (o mais próximo), “aquele” (o mais distante), “esse” ( posição intermediaria; o que está perto da pessoa com quem se fala); os pronomes pessoais; repetições da mesma palavra, de um sinônimo; os pronomes adjetivos último, penúltimo, antepenúltimo, anterior, posterior, os numerais ordinais ( primeiro, segundo, etc.).

Há outros artifícios estilísticos de que depende a coerência, a clareza e, em certos casos, também a argumentação. Pela redação dos tópicos e pelos exemplos comentados, o leitor verá quais deve empregar e quais deve evitar.

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