HISTÓRIA
(Raul Bopp)
Nossa história é assim:
Vamos pras Índias!
Dias e dias os horizontes se repetem
- Olha! Melhor mesmo é buscar vento mais pro fundo.
Uma tarde um marujo disse:
- Ué! Que terra é essa?
Velas baixaram. E desembarcaram.
- Terra como é teu nome?
Cortaram pau Saiu sangue
- Isso é Brasil!
No outro dia
o sol do lado de fora assistiu missa
Terra em que Deus anda de pés no chão!
Outros chegaram depois Outros Mais outros
- Queremos ouro!
A floresta não respondeu
Então
eles marcharam por uma geografia-do-sem-lhe-achar-fim
Rios enigmáticos apontavam o Oeste
A água obediente conduziu o homem
Começou então um Brasil sem-história-certa
A terra acordou-se com o alarido de caça
de animais e de homens
Mato-grande foi cúmplice nas novas plantações de sangue
Mulher foi espremer filho no escondido
E veio o negro
Trouxe o sol na pele
e uma alma de nunca-mais carregada de vozes
Foi desbeiçar terra
Alargaram-se as lavouras
Brasil encheu-se de queixas de monjolo
Sol espalhou verão nos canaviais das fazendas
O mato escondeu escravos
com inscrições de chicote no lombo.
Em noite rural
Os bruxos reuniram-se para experimentar forças contra o branco
Deus montou num trovão que se quebrou na floresta
Árvores tinham medo que o céu caísse
Brasil-nenê foi crescendo...
O sol cozinhou o homem
e a geografia determinou os acontecimentos
Um dia
O capitão Pedro Teixeira com 1000 canoas ô ô
entrou águas-arriba no Amazonas
acordando aquela imensidão sem dono.
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