
Um rapaz, que vive em Mato Grosso, revelou à família que é gay. Os pais evangélicos o expulsaram de casa. Fizeram com que interrompesse o curso de medicina pela metade. Só o aceitam de volta se prometer casar com uma mulher, ter filhos e constituir família nos moldes da religião. Abrigou-se em um apartamento emprestado por uma amiga. Tenta sobreviver de bicos. Procura juntar os cacos, emocionalmente arrasado com a reação familiar. Essa história acontece todos os dias. Ecoa o atentado em Orlando, que continua a ser comentado e discutido nas redes sociais. O filho de afegãos que matou os frequentadores da boate GLS, segundo notícias, também tinha relacionamentos homoafetivos. Estava em um site para encontros. E já havia frequentado algumas vezes a casa noturna que atacou. Mas era filho de uma família islâmica, rígida em princípios de comportamento. Nós, aqui, analisamos seu ato como fruto do terrorismo islâmico. Mas a radicalização e o conservadorismo estão aqui também. Que diferença há entre a postura de alguns setores evangélicos e católicos em relação à homoafetividade? A sociedade tenta avançar com a discussão de gênero, a aceitação da união e a adoção de crianças por casais gays e lésbicos. Mas há outra corrente, fortíssima, que tenta impedir esses avanços. A lei brasileira é até confortável. Nenhum casal homoafetivo pode ser agredido por se beijar em público. Tem até o direito de denunciar os agressores. Na prática, os casais continuam a trocar carícias somente em lugares específicos. Há casos de bibliotecas públicas que disponibilizam às crianças livros que tocam na sexualidade de forma delicada, específicos para a faixa etária. Recentemente, dei uma palestra em Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo. Boa parte das escolas foi obrigada a recolher esses livros, pressionada pelos pais. Uma boa percentagem de pais aceitou os livros. Os grupos radicais pressionaram mais. Venceram.