Abraham Weintraub, que destruiu a Educação no Brasil, já é carta fora do baralho — e isso é bom para o País. Ele sabe que há algo de muito podre no reino do Planalto. Em troca disso, ganhou um cargo no Banco Mundial
Venceu o prazo de validade do ministro da Educação, Abraham Weintraub, e ele caiu na quinta-feira 18. Jair Bolsonaro segurou um pouco a sua demissão porque precisava dar-lhe uma saída honrosa. Weintraub já vai tarde, e ocupará uma vaga no Banco Mundial. O clã Bolsonaro faz isso por gratidão em troca da lealdade que o ex-ministro sempre demonstrou? Não, claro que não. Era muito arriscado defenestrá-lo sem compensá-lo, porque Weintraub sabe que há algo de muito podre no reino do Planalto. E é sabedor do fato graças a sua proximidade com o gabinete do ódio tocado pelos filhos do presidente. Somente por tal motivo a sua despedida foi cozinhada lentamente: Weintraub manteve-se como quem estava de malas prontas, mas sentado sobre elas, esperando o trem da história passar. Assim, deixa a Esplanda dos Ministérios mas segue para uma boa função. Como ministro, pode-se dizer que Weintraub foi um razoável humorista: quem, a não ser ele, para chamar asseclas de acepipes? Quem, a não ser ele, para transformar o genial escritor Franz Kafka na iguaria árabe Kafta? Mas nem tudo são graças. Weintraub vai embora e vai tarde para aqueles que prezam a área da Educação, simplesmente porque o ministro arrasou com ela feito gafanhoto na lavoura – não restou nada, nem esperança.
Nos bastidores do governo, ao longo da semana passada ouviram-se muitas especulações a respeito dos cargos possíveis para os quais ele poderia ser destinado pelo capitão inquilino do Palácio do Planalto. Cogitou-se de uma embaixada no Exterior, mas a ideia foi logo escanteada porque o Senado jamais aprovaria o seu nome (poupando-nos de passar mais vergonha ainda no estrangeiro). Falou-se também de cargo em conselhos e de poltrona e mesa no Banco Mundial. Vingou a terceira hipótese. Talvez caísse-lhe melhor um pocket show.
Em Brasília, a única certeza era de que tanto o Supremo Tribunal Federal como o Congresso Nacional aguardavam a demissão do ministro o mais breve possível, apesar de os filhos de Jair Bolsonaro tentarem convencer o pai a mantê-lo na função. Aliados do presidente comentavam que ele sairia, “mas não de mãos vazias”. Era de fato perigoso demais. Defenestrá-lo sem compensá-lo certamente teria danoso efeito bumerangue. Enquanto não era decidido seu futuro, no entanto, o ministro ainda conseguiu dar mais um golpe na Educação, revogando uma portaria que estabelecia a política de cotas para negros, indígenas e portadores de deficiência em cursos de pós-graduação.
O STF complicou ainda mais a situação de Weintraub mantendo-o no inquérito das fake news, e, com o cenário cada vez mais crítico, Bolsonaro passou a olhar com maior carinho – pura estratégia, é óbvio – para ajeitar o ex-aliado no Banco Mundial. Para tanto, até o ministro da Economia, Paulo Guedes, teria sido chamado para auxiliar nas negociações. Ou seja: o chefe dos acepipes é um kafta explosivo. Com a demissão, ainda havia a dúvida de quem colocar no comando do ministério, pelo qual já passou o folclórico e incompetente colombiano Ricardo Velez Rodríguez. Tudo indica que o substituto será o secretário de Alfabetização do MEC, Carlos Nadalim. Indicação não sem motivo, pois também ele é um dos discípulos do filósofo de internet Olavo de Carvalho – ou seja, a educação seguirá em péssimas mãos. É importante deixar claro que Bolsonaro não tirou Weintraub dada a sua carência de talento mas, isso sim, porque o ex-ministro começava a disputar holofotes com ele. “Queríamos que o substituto fosse alguém menos radical, porque em dezoito meses de governo não temos nada construído”, diz João Marcelo Borges, diretor da organização nacional Todos pela Educação.
Revista IstoÉ
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