O DIA
Rio - O Brasil sempre foi visto como um país tolerante às diferenças, cuja cultura diversificada permitiria condição especial de convívio de diferentes matizes e opiniões, fato incomum em outros países. Porém, pesquisa recente nas redes sociais realizada pela agência de publicidade Nova/SB mostrou um país marcado pela intolerância de diversas formas e gêneros. Não é por acaso que a redação do Enem deste ano versou sobre “Caminhos para combater a intolerância religiosa”. Mas a intransigência não fica só no campo das religiões: mais de 80% das menções sobre temas sensíveis, tais como racismo, misoginia, deficiência, política e homofobia, são negativas. A pesquisa mapeou 390 mil postagens no Facebook, Twitter e Instagram, além de comentários em blogs e sites.
A dúvida que paira nas análises feitas a partir dos dados é se o discurso acalorado é um fenômeno impulsionado pela internet ou é a revelação de um lado da sociedade brasileira que estava oculto, vindo agora à tona em razão da maior liberdade de expressão. O que se tem visto comumente é uma exasperação do discurso de ódio às diferenças. Em alguns casos, os comentários intransigentes estão escondidos atrás de anedotas compartilhadas no ambiente virtual, reforçando o insulto e o sarcasmo.
É comum que numa sociedade democrática as pessoas se expressem e digam o que pensam. É saudável que isso aconteça. O que não é saudável e nem democrático é o radicalismo e o extremismo das opiniões. Não existe condescendência com quem pensa diferente. O outro é sempre tratado de forma pejorativa, ainda que se expresse com honestidade e sinceridade. Não se trata de estar certo ou errado, se trata de não pensar igual.
A maior polarizadora de opiniões é a política. É bem verdade que o acirramento foi incrementado em razão das últimas campanhas eleitorais que se utilizaram sem cerimônia da internet. No entanto, uma sociedade cresce compreendendo que as liberdades e o direito se fortalecem no respeito ao outro.
É preciso amar menos ideologias e amar mais a humanidade; amar menos as razões e mais o bom senso e a temperança. Amar a cordialidade para superar a radicalização e escolher a convivência em vez da ofensa. Precisamos falar sobre tolerância.
Eugênio Cunha é professor e jornalista
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